Olhar empreendedor: conheça quem iniciou negócio nos bairros de Campo Grande e vai te inspirar
Nesta reportagem especial, o Midiamax vasculhou cantos da Capital e trouxe a inspiração que faltava para você tirar o sonho do papel
Graziela Rezende, Gabriel Neves –
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No mundo dos negócios, é praticamente impossível não conhecer alguém que tenha se inspirado em alguém. Mesmo que, instintivamente, em algum momento, esta pessoa buscou ideias, conselhos e tomou coragem para empreender. E quando a tomada de decisão alia com um olhar diferenciado, seja para a rua, bairro ou cidade onde o comércio é instalado, a chance de acerto é infinitamente maior. Nesta reportagem especial, o Midiamax vasculhou cantos de Campo Grande e trouxe a inspiração que faltava para você tirar o sonho do papel.
A primeira coisa a se entender é que não há desculpas. Willians Crist de Souza Guimarães, de 36 anos, por exemplo, não imaginava outra vida para si a não ser a de barbeiro, profissão que já desenvolvia há 18 anos. Ou seja, metade da sua vida foi cortando cabelos e fazendo barbas. Até que, após dias voltando para casa, percebeu que não havia nenhum sushi na sua rua e nem mesmo na região.
Apreciador da comida japonesa, ele teve a curiosidade de assistir vídeos na internet e aprender como fazer. Comprou ingredientes, conversou com a esposa e decidiu fazer alguns testes. Talita Mandu Costa, de 37 anos, outra “empreendedora de mão cheia”, que trabalha de manicure e encomenda de doces, o apoiou a todo momento. Além de saborear o alimento, foi ouvindo e discutindo com Willians sobre a possibilidade de abrir um negócio, inicialmente em casa mesmo, no formato delivery.
Mesmo com a responsabilidade das despesas de casa e provedor do sustento dos dois filhos, de 6 e 13 anos, não titubeou: deixou o antigo emprego, equipou toda a cozinha com utensílios em inox, além de freezer, fritadeira e outros aparelhos necessários, abriu a microempresa e instalou uma placa na frente de casa, na rua Cotegipe, a principal do bairro Coophasul, também considerada um endereço gastronômico da região norte da cidade.
“Teve um momento em que eu entendi que a minha profissão estava saturada e quem é empreendedor quer crescer, quer ganhar dinheiro. Sinto que as grandes barbearias estão dominando a cidade e a vontade de mudança ficou ainda mais forte, quando eu sofri um acidente. Na época, quebrei a clavícula e não tive mais como cortar cabelos. Ao mesmo tempo, já estava nesta observação de que não tinha nenhum sushi nesta rua”, afirmou Willians ao Jornal Midiamax.
Empreendedor fez inúmeros testes até o dia da inauguração
De início, as ideias não paravam e o, até então barbeiro, pensou em oferecer lanches para vendas. “Sonhei com uma hamburgueria e depois em oferecer sobá, só que tudo já tinha por aqui. Engraçado que eu não tinha experiência nenhuma e aprendi tudo o que sei nestes últimos 4 meses. Fiquei treinando e fazendo um monte até o dia da inauguração. Falei bastante para família desta minha mudança e tinha anotado, antecipadamente, todos os pedidos. A grande maioria era da região mesmo, só alguns eram em outros lugares e fui pessoalmente entregar todos”, argumentou.
Desde o primeiro instante, Willians e a esposa estão juntos na empreitada: montando cardápios, na parte operacional e contratando entregas, quando necessário. No entanto, neste início, o dono faz questão de ir pessoalmente entregar os pedidos e receber o feedback de clientes, o que, segundo ele, está rendendo elogios e a certeza de estar no caminho certo.
“Eu tinha uma carteira de clientes certa na barbearia e tive medo de alguém enxergar a mesma oportunidade aqui e eu acabar não dando certo. Só que a coragem falou mais alto e eu vi o que tenho a meu favor. Estou em uma rua gastronômica, montei a minha cozinha industrial e estou trabalhando de forma correta. Falo que minha esposa é também 90% de tudo, já que ela me ajuda bastante”, disse.
Microempresário montou cardápio com combos e fixou taxa de entrega na região
Além do sushi, oferecido tanto em valor unitário como em combos, o casal decidiu oferecer porções de tilápia, ceviche e sobás, em tamanho pequeno e grande. A taxa de entrega, na região, ficou fixa e no valor de R$ 3.
“Nós fomos aprendendo no decorrer dos dias. Agora tudo está organizado e nossa produção começa sempre a partir das 14 horas. É um alimento um pouco demorado e que precisa de muito cuidado. A embalagem eu também tomo muito cuidado, acho sensível e por isso estou entregando de carro mesmo. O motoqueiro, quando necessário, é bem orientado e toma o mesmo cuidado”, argumentou.
Para os próximos meses, William pretende expandir o negócio. “Não pretendo ficar muito mais tempo só na cozinha. Não quero repetir o ciclo anterior, em que sou 100% dependente da minha mão de obra. Agora, quero ser também da parte administrativa e não só da operacional. Pretendo ter atendimento ao público, colocar um container aqui e contratar um cozinheiro. Estou na fase de estudar a concorrência e buscar um diferencial”, garantiu.
A esposa, ao falar do novo empreendimento, também demonstra muita felicidade. “Eu gosto muito de trabalhar com cozinha. Sempre fiz doces para festas. Tenho minhas clientes, só que sempre quis fazer algo diferente e esta foi a oportunidade. Eu considero o meu marido um autodidata e estou satisfeita com essa mudança. Ele está bem empolgado, falando em cursos que vai fazer e os clientes estão elogiando bastante”, finalizou.
Jovem diz que ‘concorrência’ foi justamente o que incentivou a empreender
O “olhar empreendedor”, no caso da Lorena Soraide da Silva Paiva, de 26 anos, apareceu justamente quando ela passou a observar quem seriam os seus concorrentes. Durante as aulas de engenharia ambiental, na UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), no ano de 2014, percebeu que muitas pessoas estavam levando brigadeiros para vender, o que a fez pensar que também poderia fazer o mesmo e ganhar dinheiro. A jovem então se lembrou das histórias da mãe, que fazia doces quando Lorena era pequena e pediu a ela para repassar receitas e “ensinar os primeiros passos”.
Não demorou muito e Lorena estava levando a vasilha, tanto com brigadeiros simples como recheados de morango, para a faculdade. “Levava comigo no ônibus e vendia por R$ 1,50. Alguns chegavam virados, balançava tudo no ônibus, mas mesmo assim eu conseguia vender tudo. A meta era sempre voltar para casa sem nenhum doce. Depois, minha mãe ensinou e passei a fazer na Páscoa. As pessoas já esperavam e depois passei para os panetones recheados no Natal”, comentou.
Mantendo a qualidade dos produtos, mesmo formada, Lorena fala que ainda continuou vendendo na faculdade e no local onde fazia estágio.
O parceiro então criou um perfil nas redes sociais, enquanto a jovem decidiu trabalhar de carteira assinada para guardar um dinheiro e depois investir no negócio. “Fiquei um ano e cinco meses, trabalhando fora e também na Docelô. Tinha vezes que acordava às 5 da manhã para dar conta. Iniciava as encomendas antes e depois do trabalho terminava. Minha casa antiga era minúscula e lembro que tirei até o sofá da sala para colocar minha bancada. Nem sei como, mas, foi assim por um tempo”, disse Paiva.
Empreendedora saiu do emprego formal ‘na hora certa’ e inaugurou ateliê
Há 9 meses, Lorena entendeu que precisava ter dedicação exclusiva ao negócio e pediu demissão. “O outro trabalho estava me impedindo de crescer e aí eu saí. Em fevereiro deste ano, abrimos o ateliê. Ainda não está do jeito que a gente quer, mas, estamos fazendo aos poucos. De início, eram bolos e doces, depois colocamos produtos em datas sazonais e agora estamos com os doces finos, de casamento, principalmente porque eu busquei qualificação para manter sempre a qualidade dos nossos produtos e meu marido também está estudando a gestão da empresa”, argumentou.
Ao relembrar os tempos de estudante, Lorena diz que poderia muito bem desistir, principalmente pelo fato de outras pessoas venderem o mesmo produto. Mas, ao contrário, isso foi um grande estímulo. “Eu pensei: ‘Se várias pessoas vendem, é porque é um bom negócio e eu também posso conseguir. Agora tenho o meu ateliê, em uma boa localização, próximo ao Centro e estou com boas expectativas. Da Páscoa 2020 para de 2022, nós crescemos 533% em faturamento”, avaliou.
Engenheira formada e inclusive com pós-graduação na área, Lorena também não teve medo do preconceito, vindo da própria família. “As críticas são sempre escondidas, já que no geral eu recebo apoio. Só que sempre tem um que fala: ‘Abriu concurso para prefeitura tal, tem vaga para engenheiro ou a empresa tal tá com processo seletivo, você viu?’. Só que isso nunca partiu dos meus pais. Eles sempre me apoiaram e me deixaram livre para que eu tenha minhas próprias escolhas”, finalizou.
Prepare o lencinho! Emocionada e cheia e lembranças, Lorena fala do início da carreira em MS
Aposentado nem pensava em negócio, mas “alma empreendedora” falou mais alto
Até agora, com os relatos anteriores, foi possível notar que, para proprietários de pequenos negócios, o ato de empreender é sinônimo de oportunidade. Mas e quando se é aposentado e trabalhar não estava mais nos planos? Não estava, até o momento da “alma empreendedora” falar mais alto. E é justamente o caso do militar da reserva Odilon Pereira da Silva, de 53 anos. Sem capital para grandes investimentos, ele abraçou uma oportunidade em busca de uma jornada próspera e lucrativa.
Mesmo sem planejar, empreendedores como Odilon encontram e ‘agarram’ oportunidades no momento em que são apresentados a elas. No caso dele, tudo começou após o conselho de um amigo, que possuía um bar há poucos metros de onde o militar aposentado montou a sua empresa. O chamado ‘Bar do Odilon’ fica na Rua José Antônio, entre a Rua Abrão Júlio Rahe e a Avenida Mato Grosso, na região central de Campo Grande. Em um primeiro momento, é difícil encontrar inovação, não fosse pelo local escolhido: 150 metros de uma universidade.
A obviedade na abertura de um bar universitário, ao lado de uma faculdade, gera questionamentos do porque algo do tipo não foi pensado e executado anteriormente. Além disso, já havia outro empreendimento do tipo, fechado há pouco mais de dois anos.
“Eu conhecia o Palango [nome do proprietário do bar existente próximo à universidade], ele trabalhou comigo no quartel. Frequentava o local antes de fechar, mas a pandemia chegou e ele precisou encerrar as atividades”, conta Odilon.
Após a decisão de fechar as portas, o amigo de Odilon recomendou que ele iniciasse uma nova empreitada, apostando no mesmo negócio e local. “Ele comentou ter um ponto próximo que o dono estava querendo alugar e perguntou se eu tinha interesse, quando respondi que sim”, explicou.
“A oportunidade era boa”, resumiu o empresário após contar como o sangue empreendedor começou a correr em suas veias. Ciente do ensejo causado pelo encerramento das atividades por parte de seu amigo, Odilon optou por concretizar o negócio o quanto antes e abriu as portas no início do ano passado, quando todos os empresários ainda encaravam restrições aplicadas por conta da pandemia.
Pandemia tirou seu principal público, mas empreendedor persistiu
No início, o empresário confessa ter imaginado um período mais curto de restrições, algo que o fez iniciar o negócio. Embora a expectativa de poucos meses com horários de abertura reduzidos, a luta para manter as portas abertas durou quase um ano. “Pensei que até fevereiro ia acabar, só que os meses passaram e as restrições continuaram. Foi em setembro que o movimento começou a melhorar, só que nos firmamos realmente neste semestre”, explica.
O horário reduzido de abertura ainda não era o principal inimigo de Odilon e sim as aulas realizadas à distância, o que tornou o período o “pesadelo” do militar da reserva. “Alguns ainda tinham umas aulas presenciais, mas a gente tinha que fechar às 21h, ou seja, quando os poucos alunos que vinham para a faculdade saíam, nós já estávamos fechados”, comentou.
Com esperança de um futuro melhor e confiante no potencial do negócio, Odilon persistiu por cerca de onze meses, mesmo com lucro próximo de zero e utilizando todo seu capital apenas para custear as despesas. Foi o retorno das aulas, em 2022, que colocou o bar na rota de saída dos estudantes da universidade e transformou o local em ‘point’ para socializar e realizar eventos universitários, fazendo com que Odilon alcançasse o objetivo traçado no início da empreitada.
O local é de fácil acesso, com duas entradas e o funcionamento também é rápido e fácil. Em um balcão são vendidas as fichas para as bebidas desejadas, logo ao lado é feita a entrega do produto. Amplo, não há necessidade de muitas mesas e, consequentemente, que pessoas fiquem ao lado de fora, evitando transtornos. Com um pequeno palco e mesa de jogos, o espaço também é utilizado para eventos de ‘atléticas’ da faculdade, gerando outra renda para Odilon e reforçando a confiabilidade entre empresa e público alvo.
Seu Odilon chamou filho para trabalhar e administrar negócio
Enquanto muitos buscam abrir o próprio negócio em busca de lucros, Odilon também tinha o objetivo de estar mais próximo da família. A renda gerada pelo ‘Universitários Beers’ nunca foi deixada de lado durante sua administração, mas o objetivo principal era passar mais tempo com a família. Para isso, o empresário chamou o filho para trabalhar e administrar o local ao seu lado.
“Nós conseguimos fugir das questões burocráticas, porque contratamos uma contadora que cuidou da papelada”, conta o proprietário. Ao lado de seu filho, a dupla focou no balcão, estoque e atendimento, que ocorre das 18h até o momento que os estudantes decidirem, podendo ir até 3h da madrugada. Ao longo do dia, o tempo de Odilon é dedicado a filha, ainda menor.
Pequenos negócios predominantes na indústria campo-grandense
Atualmente, conforme dados do Sebrae-MS (Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Mato Grosso do Sul), Campo Grande possui 102.020 pequenas empresas, o que correspondendo a 89,3% do total de empresas ativas na cidade.
Para entendermos o impacto gerado pelas pequenas empresas, é preciso explicar a definição do termo e quais negócios se enquadram nele. De acordo com a analista-técnica do Sebrae-MS, Vanessa Schmidt, existem três portes de empresas que se caracterizam como pequenos negócios: MEI (Micro Empreendedor Individual), ME (Microempresas) e EPP (Empresas de Pequeno Porte).
Desta forma, a diferença na classificação de uma empresa para outra é feita com relação a seu faturamento anual, pré-estabelecido pela Receita Federal. De acordo com Lei nº. 123/2006 ou Lei Geral da Micro e Pequena Empresa, o limite de faturamento do MEI é de R$ 81 mil, entre janeiro a dezembro, ou seja, R$ 6.750 mensais. Vale lembrar que, se aberta no meio do ano, a empresa deve manter o limite mensal, não sendo possível arrecadar R$ 81 mil em apenas seis ou sete meses.
Já as ME, são aquelas com faturamento anual de até R$ 360 mil e a EPP, com receita superior a 360 mil ou inferior a 4.8 mil/ano. A Lei Geral da Micro e Pequena Empresa completa 16 anos, em dezembro de 2022. Criada em 2006, a referida lei garante benefícios ao empresário e promove o desenvolvimento econômico e incentivo às micro e pequenas empresas.
Dados nacionais de 2017, disponibilizados pelo Sebrae, mostram que as Micro e Pequenas Empresas corresponderam a um total de 29,5% do PIB (Produto Interno Bruto) nacional, exemplificando a força do setor. Como já exposto na matéria, os pequenos negócios correspondem a 89,3% do total de empresas registradas em Campo Grande.
Do total de 114.278 empresas registradas na Capital de Mato Grosso do Sul, 63.483 são MEIs, equivalente a 55.5%; 31.539 são MEs, ou seja, 27.5% das empresas; 6.998 são EPPs, uma fatia de 6.1% e as médias e grandes empresas são 12.258 do total, que representa 10.7%.
Vale ressaltar que o Sebrae possui duas unidades implementadas para atender os empresários de regiões especificas de Campo Grande, nas regiões dos bairros Nova Lima, Parati e Aero Rancho, onde, somados, já foram realizados 5.195 atendimentos no ano de 2021. Nos três bairros existe um total de 6.032 CNPJs (Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica) abertos, sendo 3.169 no Aero Rancho, 2.030 no Nova Lima e 833 no Parati.
Conseguiu a inspiração que queria?
Então, vamos lá! Agora que você já tem em mente que quer empreender, estudou sobre o assunto, buscou referências e quer tirar o negócio do papel, siga estes passos:
1º Crie um perfil nas redes sociais (Instagram e Facebook, principalmente). Se não quiser aparecer no primeiro momento, mostre apenas o produto, mas, não deixe de fazer postagens e demonstrar uma relação de confiança entre você e o cliente.
2º Faça cursos gratuitos ou aqueles pagos, que estejam ao seu alcance. Invista em você e na sua empresa!
3º Visite uma unidade do Sebrae para receber orientações e sanar dúvidas
4° Inicie a regularização da sua empresa através da internet. A abertura de um MEI é um ótimo ponto de partida (clique aqui e confira um passo a passo ou aqui para iniciar o processo de abertura).
5° Está faturando alto ou deseja começar uma empresa com capital maior. Saiba a hora de sair do MEI para uma Empresa de pequeno porte ou Microempresa.
Boa sorte e sucesso!
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