‘Momentos críticos e calmaria’: Covid completa 2 anos em MS e especialistas analisam os rumos da doença
Crescimento exponencial, avanço da vacinação e liberação das máscaras, doença passou por várias fases no Estado
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2019 para 2020: O mundo estava turbulento. A OMS (Organização Mundial de Saúde) fez uma declaração e a palavra pandemia se espalhou no noticiário, nas ruas, na internet, em todo lugar. Até que, no dia 14 de março, a doença chegou a Mato Grosso do Sul e a SES (Secretaria de Estado de Saúde) confirmou os 2 primeiros casos. De lá para cá, foram momentos “críticos e de calmaria”, segundo especialistas. Dois anos depois, médicos da linha de frente analisam os rumos da covid.
“Nos últimos dois anos, tivemos momentos críticos e de calmaria, em relação à pandemia. Foram muitos óbitos, muitas internações e depois tivemos uma esperança com a vacina. Atualmente, acredito que vivemos um momento de cautela, com a possibilidade de novas variantes. É um momento de estimular a vacinação das pessoas e um momento para a gente refletir também sobre as nossas atitudes, como vamos agir a partir de agora. Que essa pandemia tenha sido um aprendizado bastante importante e esperamos que a ciência sempre prevaleça”, afirmou ao Jornal Midiamax a infectologista Priscila Alexandrino.
O infectologista e professor da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), Maurício Pompilio, avalia que, nestes dois anos, foram horas de estudo, trabalho e dedicação por parte da classe médica. “Tivemos pouco tempo para dormir, descansar e cuidar da família e das questões pessoais neste período. Muita gente doente, desespero, solidão e morte. Mas, também tivemos motivações, com solidariedade, apoio, fé, esperança, estudo, ciência, até que nós chegamos na possibilidade da vacina e no controle da doença. Agora é assim: a covid já seleciona um número menor de pessoas e, com a imunização, temos a possibilidade de se infectar com formas bem mais brandas da doença. Acredito na ciência, na pesquisa e na solidariedade humana”, argumentou.
A médica cirurgiã e secretária extraordinária de enfrentamento à Covid-19, do Ministério da Saúde, Rosana Leite de Melo, avalia que a pandemia foi algo que médicos e profissionais da saúde jamais imaginavam presenciar.
“Colocou em xeque não só a técnica, a ciência médica, mas também a maneira de olharmos para o sentido da vida em nosso planeta. Infelizmente, muitas vidas foram perdidas, nos solidarizamos com todos aqueles que direta ou indiretamente sofreram tais perdas; porém a solidariedade e o espírito de equipe, de trocas e compartilhamentos de saberes, proporcionaram a descoberta e produção de vacinas em uma velocidade jamais vista. Isso é um dos fatores, juntamente com a resiliência e a cooperação da população brasileira, não só em aderirem grandemente em nossa campanha de vacinação e às medidas propostas para mitigarmos os impactos desta emergência em Saúde Pública, e, principalmente, a resposta da rede assistencial do nosso Sistema Único de Saúde tem proporcionado o atual cenário em que nos encontramos de maior calmaria”, alegou.
Sobre o atual cenário epidemiológico, Rosana fala da queda em 50% da incidência em relação à semana anterior e de 40% dos óbitos, o que se vislumbra uma melhora na fase da pandemia suportando algumas flexibilizações realizadas por estados e municípios.
“Ainda precisamos ter prudência e aguardar as próximas semanas; cada região ou estado deve monitorar com responsabilidade todo o contexto, estamos ainda na fase de mitigação da pandemia e, espero, os dados parecem estar sinalizando para isto, caminharmos para a fase de controle da pandemia. Ressalto que a fase de controle não significa que tenhamos que abandonar todas as medidas de forma drástica, há que se manter em alerta e utilizar todo o nosso aprendizado deste enfrentamento. Há risco de variantes e não devemos baixar a guarda, mas há esperanças que em futuro breve possamos avançar nas flexibilizações”, argumentou Melo.
O médico cirurgião Andre Fraga Rueda, que atua em Aquidauana, na região oeste do estado, fala do sentimento inicial ao não saber como lidar com a doença. “A pandemia foi uma surpresa pelo volume de doentes, alastramento rápido, letalidade, falta de estrutura e por não sabermos como lidar com a doença no início. Foi um misto de tristeza, frustração pelas perdas e ao mesmo tempo alegria pelos que conseguimos tratar e conduzir até a cura. Foi volume imenso de trabalho e muitos de nós, profissionais de saúde também ficamos doentes, tanto pelo vírus quanto pela estafa, abalo psicológico. Felizmente, hoje estamos em outra situação, com menos doentes, várias adequações foram feitas e aprendemos muito nos últimos dois anos. Uma experiência e tanto”, avaliou.
Crescimento exponencial
Com crescimento exponencial, de acordo com a SES, março de 2020 teve uma morte por covid em Mato Grosso do Sul. Em abril do mesmo ano, oito. Em maio, 11 mortes. Junho, 71 mortes. No mês de julho, 321. Agosto, 489 e assim por diante. Um ano depois, em março de 2021, o auge da doença apontou 975 mortes.
O início de 2022 também foi crítico no Estado. Com as festividades de fim de ano e muita gente retornando de viagens, foram formadas extensas filas no Centro de Testagem, localizado na região central da cidade. Na época, o tempo de espera era de cerca de 4h e cerca de 40% dos testes deram positivos.
No dia 5, por exemplo, Mato Grosso do Sul saltou de uma média de 100 casos diários de Covid para 821, isso em 24 horas. O número, chamado de “estrondoso” pelo secretário de Saúde, fez a pasta tomar uma série de medidas para tentar conter o novo surto da doença. No interior, cidade que tinha comemorado zero internação pela doença também voltou a ter dezenas de casos, no mesmo dia.
Ao mesmo tempo, houve avanço da vacinação e Mato Grosso do Sul atingiu mais de 90% da meta vacinal no dia 23 de fevereiro. Conforme especialistas, a Covid-19 deve se tornar uma doença endêmica, algo que inclusive já é discutido em outros estados brasileiros e países do exterior. Atualmente, o novo coronavírus é considerado uma pandemia, quando a doença é encontrada em mais de um continente, com transmissão comunitária.
“Nós tivemos a meta atingida e estamos discutindo com diversos gestores. Neste momento, temos especialistas apontando que doença deixará de ser pandêmica para endêmica, assim como é a influenza e outras doenças virais. Desta forma, a covid vai estar dentro do calendário de vacinas, como algo regular”, explicou na ocasião Geraldo Resende.
Eliminação de máscaras
Após queda no número de casos de covid, o governo elaborou um documento com recomendações a serem encaminhadas ao Comitê do Prosseguir (Programa de Segurança da Economia e da Saúde), entre elas a flexibilização do uso de máscaras, agora em locais fechados.
Ao Jornal Midiamax, o secretário ressaltou que os critérios discutidos são baseados em orientações científicas e com base na queda dos casos de covid em Mato Grosso do Sul.
Histórico da pandemia
Em 31 de dezembro de 2019, a OMS (Organização Mundial da Saúde) recebeu um alerta sobre vários casos de pneumonia em Wuhan, na China. Tratava-se de uma nova cepa (tipo) de coronavírus que não havia sido identificada antes em seres humanos.
Uma semana depois, no dia 7 de janeiro de 2020, ainda conforme a OMS, as autoridades chinesas confirmaram que haviam identificado um novo tipo de coronavírus e a doença estava “por toda parte”. Em 11 de fevereiro de 2020, com a identificação de sete tipos de coronavírus humanos, a Covid-19 recebeu o nome de SARS-CoV-2.
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