Neste 2 de julho, o ano de 2021 supera sua primeira metade. Os 183 dos 365 dias do ano já transcorridos foram intensos, sobretudo, por ainda carregarem todo o peso que o coronavírus representa para a sociedade. Em , a Covid-19 segue como o fato do ano, superando –ou até permeando– muitos dos acontecimentos de relevância até aqui.

Foi neste primeiro semestre que o Estado presenciou a explosão do número de casos de Covid-19, registrado justamente no mês de junho –que bateu o recorde de maio. Os mais de 8 mil óbitos incluíram o de pessoas que, diante da falta de vagas em UTIs no Estado, foram morrer em Rondônia ou São Paulo, para lá levados pela Secretaria de Estado de Saúde, última esperança para muitos pacientes sul-mato-grossenses.

[Domingas da Silva, da aldeia Tereré, a primeira pessoa a ser vacinada contra a Covid-19 em MS em 18 de janeiro deste ano. (Foto: Leonardo de França)]
Domingas da Silva, da aldeia Tereré, a primeira pessoa a ser vacinada contra a Covid-19 em MS em 18 de janeiro deste ano. (Foto: Leonardo de França)

Em 2021, porém, os contadores instituídos para registrar o total de casos, de recuperados e de mortes ganhou a companhia de outros dois, trazendo o número de pessoas que tomaram a primeira ou a segunda dose das vacinas contra a Covid-19. Em um cenário desesperador, doses da Coronavac, AstraZeneca, Pfizer e, mais recentemente, da Janssen, chegaram a mais de 1,1 milhão de pessoas no Estado, ou 90% do público-alvo estimado inicialmente.

A vacinação contra a Covid-19, que parecia perseverar em um universo de fake news ou da defesa de tratamentos sem comprovação científica contra a doença, ainda esbarra nas pessoas que deixaram para lá a segunda dose das vacinas –e que chegam a 5 mil apenas em Campo Grande. Algo que a vacina da Janssen, de dose única, promete contornar, ao menos, nos 13 municípios da fronteira que deverão se tornar palco de estudo sobre o alcance do imunizante.

Coronavírus vitimou Jamil Name e atingiu em cheio o Governo Bolsonaro

Mesmo nos temas que soariam distantes para a pandemia, a Covid-19 marcou presença. Foi o coronavírus, por exemplo, a causa da morte de Jamil Name, contaminado no presídio federal de Mossoró (RN) –para onde foi levado após a prisão na Operação Omertà. Outras personalidades do Estado, como o deputado estadual Cabo Almi (PT), também sucumbiram à doença.

Aliás, a Covid-19 chegou ao noticiário político, comumente confundido com notícias policiais no país. De Brasília, vieram as novidades garimpadas pela CPI da Pandemia, que encontrou indícios de ilegalidades em tratativas para a compra das vacinas Covaxin, indiana, e da CanSino, chinesa.

[Bolsonaro, em Ponta Porã: aglomeração em meio a pandemia. (Foto:Arquivo)]
Bolsonaro, em Ponta Porã: aglomeração em meio a pandemia. (Foto:Arquivo)

Nos dois casos, suspeitas de superfaturamento –ou tentativas de– balançaram os alicerces do governo do presidente Jair Bolsonaro em um ano no qual esteve em Mato Grosso do Sul em duas ocasiões, em uma delas ladeado do governador (PSDB): em Ponta Porã, ao inaugurar radar que ajudará no controle do espaço aéreo nacional na quarta-feira (30), viu Reinaldo ser vaiado –como ocorrera em agosto de 2020– e chamado de “lixo” por populares.

Bolsonaro já havia vindo ao Estado em maio para entregar títulos da reforma agrária em Terenos. Nesta semana, porém, após presenciar um cerco político se intensificando, aproveitou para disparar contra a CPI do Congresso e “bandidos”, em meio a aglomerações e sem o uso de máscara (uma constante em atos políticos do qual participa no Brasil, já que, no exterior, o presidente costuma seguir protocolos de biossegurança).

Enquanto cumpria agenda em Mato Grosso do Sul, o presidente era alvo de um “superpedido de impeachment” protocolado no Congresso por parlamentares de oposição e de centro-direita, bem como entidades da sociedade civil e personalidades. Trata-se da junção de mais de 100 pedidos de impedimento contra o presidente, turbinado por suspeitas de corrupção na compra de vacinas e de práticas como crime contra o livre exercício dos poderes ao participar ou incentivar atos antidemocráticos, abuso de poder na troca do Comando das Forças Armadas, tentativa de interferência na Polícia Militar e incitação à desobediência no ambiente militar, além das falhas na condução do combate à pandemia de Covid-19.

Reinaldo teve gastos com Covid contestados enquanto assistia ao STJ

[Reinaldo no Hospital de Campanha do HRMS: R$ 15 milhões para atender 68 pacientes. (Foto: HRMS/Divulgação)]
Reinaldo no Hospital de Campanha do HRMS: R$ 15 milhões para atender 68 pacientes. (Foto: HRMS/Divulgação)

Voltando a Reinaldo, o governador tucano teve também suas revelações na pandemia. Reportagens do Jornal Midiamax questionaram despesas do Governo do Estado na pandemia, como no caso de um hospital de campanha que custou mais de R$ 15 milhões e atendeu a apenas 68 pessoas.

Antes de o caos se instalar na Saúde do Estado, Mato Grosso do Sul já havia gastado R$ 25,7 milhões por leitos que não foram utilizados, denotando falta de planejamento no setor –acusação coroada com os R$ 700 mil a mais pagos em camas e colchões “abandonados” no Pavilhão Albano Franco, adquiridos da terceira colocada em licitação.

Curiosamente, enquanto a economia estadual pedia por socorro –como a concessão de um Auxílio Emergencial que só agora, com a vacinação encaminhada, deve começar a ser pago–, o Estado via a arrecadação crescer graças ao arrocho que, apenas em janeiro e fevereiro, rendeu R$ 300 milhões a mais aos cofres públicos.

O Midiamax também revelou que o que é pago a 1% do funcionalismo de Mato Grosso do Sul equivale a um terço da folha salarial de todos os servidores estaduais.

[Reinaldo e Rodrigo Souza e Silva: pai e filho denunciados à Justiça. (Foto: Reprodução)]
Reinaldo e Rodrigo Souza e Silva: pai e filho denunciados à Justiça. (Foto: Reprodução)

O governador tucano também teve problemas fora da pandemia. O desmembramento de denúncia no STJ (Superior Tribunal de Justiça) que o acusa de chefiar um esquema de recebimento de propina envolvendo o frigorífico JBS é tema a ser definido no segundo semestre.

Seu filho, Rodrigo de Souza e Silva, também investigado no episódio, também viu desdobramento das investigações que bateram à sua porta para apurar fraudes no Detran-MS dentro da Motor de Lama, uma nova fase da Lama Asfáltica –e, no fim do primeiro semestre, ainda depôs no processo em quse apura roubo de propina.

Caçada a Lázaro, conselheiros do TCE-MS investigados e despedidas

Apesar de dominante, a Covid-19 não protagonizou sozinha o semestre. O fim de junho trouxe também notícias sobre a frenética perseguição a Lázaro Barbosa, 32 anos. Acusado de ter cometido pelo menos 5 assassinatos no interior de Goiás e outros crimes na Bahia, ele acabou morto depois de semanas de buscas por matas na região de Cocalzinho de Goiás. Em Campo Grande, um homem foi espancado ao ser confundido com o procurado.

O noticiário policial também trouxe outras notícias que geraram revolta entre os leitores. Como o caso da mãe que matou o próprio bebê de 5 meses por afogamento, havendo ainda indícios de violência sexual contra a criança. O avanço da violência contra as mulheres pode ser retratado pelo feminicídio da advogada Fernanda Daniele de Paula Ribeiro dos Santos, em Nova Andradina, cometido pelo companheiro dela, o também advogado Alexandre França Pessoa –motivado por ciúmes.

Junho trouxe ainda o anúncio de alta de mais de 50% no custo da bandeira vermelha 2, no meio daquela que é considerada a maior estiagem das últimas décadas e que, por tabela, atingiu a produção de energia nas hidrelétricas –justamente com a chegada da maior frente fria do ano, que derrubou temperaturas e a sensação térmica para abaixo de zero no Estado.

[Motoristas protestaram contra o preço da gasolina em MS. (Foto: Leonardo de França)]
Motoristas protestaram contra o preço da gasolina em MS. (Foto: Leonardo de França)

Falando em preços nas alturas, a gasolina teve sua parcela de responsabilidade em deixar o bolso do brasileiro mais leve em 2021. Motoristas fizeram em abril , abastecendo R$ 0,50 e prometendo entregar as notas a Reinaldo, cobrando a redução do ICMS sobre a gasolina, hoje em 30%. O governador ignorou a solicitação.

A Polícia Federal também trabalhou no Estado, com investigação que bateu às portas do Tribunal de Contas e colocou 3 de seus conselheiros na mira de supostas ilegalidades: Osmar Jeronymo, Waldir Neves e Ronaldo Chadid viram seus nomes tragados na Operação Mineração de Ouro, que apura fraudes licitatórias e superfaturamento em obras.

[Paulo do Radinho: despedida (Foto: Reprodução)]
Paulo do Radinho: despedida (Foto: Reprodução)

O semestre ainda foi de despedidas além das provocadas pela pandemia. O Centro de Campo Grande, por exemplo, ficou mais triste ao dar adeus a Paulo do Radinho, que dançava entre os carros em uma alegria inconfundível. E, quase às cegas, notou que a estátua em homenagem ao poeta Manoel de Barros perdera o pé esquerdo em ato de vandalismo que trouxe seu criador, o artista plástico Ique, à cidade para estudar a recuperação.