O hospital de campanha do HRMS ( de Mato Grosso do Sul) de atendeu só 68 pacientes em 91 dias de funcionamento. Preparada para abrigar até 140 doentes da covid-19 simultaneamente, a estrutura temporária consumiu milhões em recursos públicos e funcionou em menos de 50% de sua capacidade.

O número de pacientes atendidos nas tendas instaladas no pátio do HRMS foi obtido pela reportagem via SIC (Serviço de Informação ao Cidadão), ferramenta gerida por CGE (Controladoria-Geral do Estado) e OGE (Ouvidoria-Geral do Estado).

Segundo resposta do governo estadual, os 68 doentes assistidos no hospital de campanha sequer estavam com covid. A estrutura acabou usada para alocar pacientes de outras enfermidades, transferidos do prédio principal para o anexo. O custo do hospital de campanha do HRMS foi de R$ 15,2 milhões. 

Só depois de montadas as tendas o HRMS percebeu que, pela “evolução médica dos pacientes” da covid-19 e sua “complexidade clínica”, a melhor saída seria usar o hospital de campanha para abrigar pessoas com outras doenças, que continuavam sendo reguladas para a casa de saúde.

Assim, “pela complexidade da evolução e gravidade da doença”, a estrutura interna de leitos clínicos e críticos do hospital ficaria livre para priorizar infectados pelo novo coronavírus.

Hospitais de campanha em Campo Grande e Ponta Porã consumiram R$ 23,7 milhões

O hospital de campanha do HRMS foi ativado em 18 de junho de 2020, quando os índices de ocupação de leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) da instituição giravam em torno dos 80%. A estrutura acabou desligada em 17 de setembro.

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Hospital de campanha anexo ao Hospital Regional de Ponta Porã, que funcionou por 114 dias – Thaís Gomez/Acqua

Neste intervalo foram confirmados 58,5 mil novos casos de covid-19, além de 1.256 mortes. Destes, 27 mil contaminações e 580 óbitos apenas em Campo Grande. Os números são da SES (Secretaria de Estado de Saúde).

Somente a montagem das tendas no HRMS custou quase R$ 1,5 milhão. Somados, os gastos do governo de () para estruturar os hospitais de campanha de Campo Grande e de Ponta Porã chegaram a R$ 23,7 milhões, conforme relatório de gestão da SES.

Na cidade de fronteira com o Paraguai, o hospital de campanha anexo ao Hospital Regional José de Simone Netto funcionou por 114 dias. A instalação tinha 40 leitos de enfermaria com suporte de oxigênio e atendeu 185 pacientes entre julho e setembro de 2020.

Portanto, 253 pessoas foram assistidas pelas duas estruturas temporárias montadas pelo governo do Estado. Se levado em conta o investimento milionário, cada atendimento custou R$ 93,7 mil.

A reportagem procurou a SES, que não respondeu até a publicação deste texto.

MPF apura porque estruturas estavam desativadas no ápice da pandemia

O planejamento para ativação e desativação dos hospitais de campanha em todo o Brasil é alvo de questionamentos e de apurações pelo MPF (Ministério Público Federal). A subprocuradora-geral da República Lindôra Araújo está à frente de um procedimento administrativo que investiga quanto foi investido nas soluções e porque ainda faltaram leitos.

No caso de Mato Grosso do Sul, a estrutura não esteve disponível no ápice da pandemia de covid-19, entre março e maio deste ano, quando 3.607 pessoas morreram da doença no Estado e pelo menos 109 mil se contaminaram. No período, a taxa de ocupação de leitos atingiu picos superiores a 100%, problema que persiste até hoje.

De acordo com Executivo estadual, parte dos equipamentos dos hospitais de campanha era alugada e foi devolvida aos fornecedores. Outra parte foi para o almoxarifado da SES a fim de ser redistribuída a unidades hospitalares.