Casa de meio século comprada à vista, após venda de bois, é orgulho para Luciene: ‘Sonho com a reforma’
Imóvel, na região central de Campo Grande, chama atenção pela antiga arquitetura. Proprietária diz que herança dos pais é considerada patrimônio histórico.
Graziela Rezende –
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O portão de pouco mais de um metro, o arco redondo na varanda e o azulejo decorado já são como uma viagem no tempo. Ao bater palmas, na frente do imóvel localizado na rua Joaquim Murtinho, região central de Campo Grande, é dona Luciene de Souza Andrade, de 61 anos, quem recebe o MidiaMAIS e conta a história da casa comprada pelo pai dela, há 56 anos, fruto de uma quantia recebida pelo manejo de bois e cuja cabeça de um deles, com longos chifres, está empalhada na sala como parte da decoração.
“Meu pai comprou a casa já pronta e a reformou algumas coisas por cima somente, após certo tempo. A casa é toda original, desde o piso de taco até a sua estrutura. Só que está rachando tudo por dentro e, recentemente, procurei a prefeitura para ver o que poderiam fazer, por se tratar de patrimônio tombado. O arquiteto já está vendo o projeto, o que pode ser feito”, argumentou dona Luciene.
Além da estrutura, Luciene fala que a casa também está com todos os móveis originais, mantendo a decoração e a história que os pais dela construíram, assim que pisaram em Mato Grosso do Sul.
“É uma casa fresca, planejada pro vento correr do início ao fim e também com uma arquitetura alta. Meu pai dizia que pertencia a um militar e ele comprou à vista. Foi na época que ele e meu avô estavam cuidando de uma fazenda em Camapuã, com gado para engorda. Quando recebeu o pagamento, pegou todo o dinheiro e comprou a casa”, contou.
O pecuárista Gustavo de Souza Andrade, de 39 anos, seguiu os passos do avô e também é pecuarista. Ele lamenta o fato da casa estar deteriorando, sem uma ajuda do poder público para um local com mais de meio século.
“A prefeitura deveria ter um investimento, ajudar na reforma, já que não se pode fazer nada e dizem que é algo histórico, de mais de meio século”, comentou.
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Enquanto isso, D. Luciene fala que manterá tudo original, exatamente como os pais dela deixaram.
“Minha mãe faleceu em 2014 e meu pai em 2015. Os quartos continuam com os móveis de madeira Angelim. Tem a cristaleira, a penteadeira e dois fogões ainda do tempo deles. O piso também, do mesmo jeito. Até a pessoa que vem limpar aqui sabe e ainda usamos cera líquida e enceradeira”, finalizou.
Acredito que as casas contam a história da cidade, diz arquiteto
O arquiteto Jhonatas Camargo vistoriou este imóvel na Rua Joaquim Murtinho. Ele ressaltou que a antiga casa, assim como outras no entorno e também na Rua Sete de Setembro, “falam” muito sobre a história de Campo Grande.
“Antigamente tínhamos muitos imóveis tombados por aqui e isso foi mudando ao longo do tempo. Temos locais de cunho importante para a cidade como, por exemplo, a Morada dos Baís, que representa a cultura da cidade e, desta forma, é pontuado como tombado. Partindo deste ponto, temos vários imóveis tombados, seja somente a fachada ou toda a casa. Mas houve operações na cidade e muita coisa mudou. Um exemplo era uma antiga casa colonial na Afonso Pena, que foi demolida e se tornou uma hamburgueria”, explicou.
Já no caso da D. Luciene, o arquiteto fala que ali também “fala muito” sobre a nossa história. “É possível entender como a cidade foi colonizada olhando os traços dela, o revestimento externo, a estrutura na frente, a varandinha para receber visitas. O que ocorre, no entanto, é que para uma casa ser histórica, muitas vezes, ela precisa de ter uma função, como um museu por exemplo. E ali realmente se deteriorou muito. Passou asfalto na frente, a estrutura se abalou, também passam caminhões e a dona lamenta não ter apoio financeiro para restaurar a casa. Somente a fachada, por exemplo, ficaria na ordem de, ao menos, R$ 50 mil”, argumentou.
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