Como um tesouro relevado, a mansão histórica e imponente apareceu após demolição no mesmo terreno, na rua Barão do Rio Branco, entre as ruas Rui Barbosa e Pedro Celestino, região central de Campo Grande. Durante duas semanas, a cada tijolo retirado, o imóvel ao fundo foi aparecendo e atiçando a curiosidade dos campo-grandenses.

Em 400 m² somente de área construída, a residência foi minuciosamente projetada e equipada com tudo que havia de mais moderno, na década de 70. Possui cinco quartos, elevador mesmo tendo somente um andar, madeira maciça em todos os cômodos, suíte com banheira, sacada e um closet enorme, canil e lavanderia externa, sem falar no encanamento todo em ferro e pisos decorativos que nem se fabricam mais.

Mansão histórica tinha um longo corredor de acesso e duas lojas na frente. Foto: Marcos Ermínio/Jornal Midiamax

“Nós trabalhamos na demolição de duas lojas na frente, muito antigas também e, no decorrer dos dias, esse casarão foi aparecendo. As pessoas então passaram a olhar, perguntar e falar que não sabiam que aqui tinha uma casa desse porte. Outros param, tiram fotos, já estou acostumado a responder as pessoas”, afirmou ao MidiaMAIS o mestre de obras Ênio Gomes, de 54 anos.

Atuando no ramo há 3 décadas, Ênio ressalta que é um privilégio percorrer o interior do imóvel e conhecer parte da história da cidade. “Acredito, pelas histórias que soube, que se trata de uma casa centenária ou quase isso. Na época da construção, acredito que só pessoas com alto poder aquisitivo poderiam fazer algo assim. E está muito bem conservada, são só detalhes da pintura mesmo, o que é normal pelo tempo”, argumentou.

‘Passa um filme na cabeça ao ver a mansão', diz neta da antiga proprietária

Neta de Maria Edwiges de Albuquerque Borges, antiga proprietária do imóvel, a psicóloga Cláudia Pereira de Mello Dalal, de 46 anos, se emociona logo no início da reportagem. Horas antes, conta que havia passado na frente do local e, quando viu a demolição no terreno, “passou um filme na cabeça” e ela então relembrou da avó, dos pais e dos 16 anos que conviveu na mansão.

“Minha avó nasceu em berço de ouro, no , no ano de 1918. E ela nos deixou um legado, ficou conhecida como a missionária do amor. O pai dela era sanitarista e tinha fazendas aqui. Primeiro, o pai dela faleceu e depois um irmão. Foi quando ela veio para com a dela. Ela residiu em Porto Murtinho, onde conheceu o oficial do Exército tenente Gumercindo Bruno Borges e se casou, vindo depois para . Minha avó não tinha herdeiros, então adotou a minha mãe”, relembrou Cláudia.

Imóvel possui móveis e cobertura toda revestida de madeira maciça. Foto: Marcos Ermínio/Jornal Midiamax

Após um tempo, D. Maria queria que a filha casasse e Leovergilda Pereira de Mello logo encontrou o seu grande amor. “Meus pais ficaram juntos por 40 anos e minha avó ficou muito feliz, ajudou bastante e pagou a festa de casamento. Ela era uma pessoa maravilhosa, que se doava muito e também era visionária, a frente do seu tempo. Quando conheceu o meu pai [Alceu Leite de Mello], gostou bastante dele e formamos uma família muito feliz”, argumentou.

Na Capital, D. Maria também continuou com trabalhos de caridade e, no ano de 1966, inaugurou o Sanatório Mato Grosso, hoje chamado Hospital Nosso Lar. “Ela esteve em um presídio da cidade e se indignou ao ver duas irmãs, vítimas de violência e abuso, misturadas com presos, então foi estudar sobre saúde mental. É esta a origem do Nosso Lar e, após a construção, ela viajou, fez cursos e se especializou para ajudar estas pessoas. ”, explicou.

Maria Edwiges projetou a própria casa e fez testamento doando tudo para caridade

Antiga dona do imóvel fez testamento doando tudo para caridade. Foto: Marcos Ermínio/Jornal Midiamax

Da mesma forma pioneira, Edwiges buscou referências e teria, segundo familiares, projetado a própria casa. Em seguida, chamou um pedreiro “de confiança” e este montou uma equipe para a construção do imóvel, hoje com 52 anos.

“Existem livros aqui contando a história da minha avó e, consequentemente, da casa. Ela faleceu aos 87 anos, no dia 25 de julho de 2000. Ao longo de muitos anos, minha mãe abdicou da própria vida, deixando os 3 filhos dela com meu pai, enquanto se mudou para esta mansão e lá cuidava da minha vó”, relembrou ao MidiaMAIS.

Detalhe de um dos quartos da mansão histórica, em Campo Grande. Foto: Marcos Ermínio/Jornal Midiamax

Enquanto esteve doente, D. Maria foi delegando tarefas e deixando a responsabilidade para os cuidados com o hospital, com o Centro Espírita Discípulos de Jesus, o qual ela participou da criação, na rua Maracaju, também região central e ainda fez um testamento, doando em vida, a própria casa, para a caridade. Desde 2015 ela está sem moradores. Recentemente, ao valor de cerca de R$ 3 milhões, foi vendida para a proprietária de uma clínica médica nas proximidades.

“Fizemos tudo para conservar a casa, para deixar tudo extremamente conservado do jeito que a minha avó pediu. Não mexemos na mobília, em nada. Ali ainda tinha um jardim lindo e um corredor com interfone para a Barão, como se fosse o caminho para um tesouro mesmo. Com a demolição dos imóveis da frente, agora ela está sendo revelada e ali eu lembro de muitos momentos maravilhosos ao lado da minha avó e meus pais”, finalizou, emocionada.

Com a demolição, segundo foi informado ao MidiaMAIS, a mansão passará por algumas reformas, mantendo a estrutura e originalidade para, em seguida, se tornar um estabelecimento comercial. Nesta semana, o arquiteto contratado já visitou o projeto, tirou fotos e vai começar a trabalhar em breve.

Foto: Marcos Ermínio/Jornal Midiamax
Foto: Marcos Ermínio/Jornal Midiamax
Foto: Marcos Ermínio/Jornal Midiamax
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