Descaso nos terminais chega aos pontos de ônibus e passageiros ‘não têm um dia de paz’

Quem usa transporte coletivo em Campo Grande precisa ter paciência redobrada

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Pontos Peg Fácil e Ponto de Integração também colecionam problemas (Foto: Nathália Alcântara, Midiamax)

Os problemas enfrentados por milhares de passageiros que diariamente circulam nos terminais de embarque e desembarque de Campo Grande, e que você viu na série de reportagens que o Jornal Midiamax publicou na última semana, não são exclusividade das plataformas. Os pontos Peg Fácil e de Integração distribuídos por algumas regiões da Capital também protagonizam episódios de abandono do transporte público da cidade.

A reforma anunciada pela gestão municipal de Campo Grande para o PI (Ponto de Integração) Hércules Maymone não saiu do papel desde 2019. No local, os usuários do transporte coletivo de Campo Grande são obrigados a conviver com uma estrutura decadente, sem água e com banheiros em situação deplorável.

A definição do frentista Jaconias Rocha, de 28 anos, para o que enxerga no Ponto de Integração é categórica. “Esse lugar é deprimente, a maioria das coisas aqui não funciona. A instalação está toda danificada. Eu não vou nesse banheiro, não tem o mínimo de higiene para um ser humano usar”.

A limpeza e estrutura do banheiro também é um problema notório para a auxiliar de padaria Beatriz Martins, de 46 anos. “A estrutura do banheiro é horrível. Você usa, e quando vai para lavar a mão não tem água. Ou está tudo estragado. Ele sempre está muito sujo”, disse ela.

Pia do banheiro masculino (Foto: Ranziel Oliveira / Jornal Midiamax)

Sobre o olhar de quem usa o transporte público urbano rotineiramente, ela descreveu: “Passo aqui todos os dias. Parece uma situação de abandono”.

Na perspectiva do estudante de Direito Lucas de Souza, de 21 anos, a estrutura ofertada não condiz com o custo da passagem. “Uso há 1 ano diariamente e não vejo melhora nenhuma. É uma estrutura muito decaída. O ambiente está velho. Pelo preço que é cobrado, não é um dos melhores serviços”, disse ele.

Vaso sanitário no banheiro feminino no Ponto de Integração Hércules Maymone (Foto: Nathalia Alcântara / Jornal Midiamax)

Peg ‘nada’ Fácil

Na estação de embarque Peg-Fácil da Rua 15 de Novembro, a cadeirante Ana Luiza, de 64 anos, fez um desabafo sobre a questão da acessibilidade. “Muitos pontos não têm acessibilidade, as calçadas não são planas e ninguém ajuda você a passar nessas buraqueiras. Às vezes o ônibus já está com uma pessoas cadeirante ou o elevador não está funcionado, e você tem que esperar muito”, disse ela.

Para a estagiária Isabeli Souza, de 17 anos, o problema acontece quando chove. “Quando chovem os bancos ficam todos molhados. Quem está sentado se molha porque a água entra por trás da estrutura. E quem está em pé, se molha por conta do vento”, disse ela.

Falta de energia em 2021

Passageiros do transporte coletivo relataram falta de energia na plataforma do terminal Hércules Maymone, na manhã do dia 16 de julho de 2021, em Campo Grande.

Os usuários ficaram no escuro no terminal por volta das 5 horas da manhã, quando trabalhadores já estão pegando o transporte para o serviço antes mesmo do nascer do sol. 

Pia no banheiro feminino no Ponto de Integração Hércules Maymone (Foto: Nathalia Alcântara / Jornal Midiamax)

A passageira Ângela Maria da Silva, de 59 anos, explica que o terminal ficou sem energia elétrica. Ângela conta que sai do terminal Bandeirantes no ônibus 070 e chega ao terminal Hércules Maymone, todos os dias, por volta das 5 horas da madrugada. 

“Todos os dias eu e minhas colegas pegamos o ônibus ali no Hércules Maymone. Está há dois dias sem energia”, contou. 

A reportagem solicitou informações à prefeitura de Campo Grande sobre a situação da estação, mas não obteve retorno até a publicação desta matéria. O espaço segue aberto para manifestação.

Empresa desistiu de contrato há 18 meses

O último anúncio de investimentos nos terminais de ônibus de Campo Grande aconteceu em agosto de 2019, ainda na gestão Marquinhos Trad (PSD). Na época, o município previa reformar os terminais Aero Rancho, Nova Bahia, Morenão, General Osório, Moreninhas e o ponto de integração Hércules Maymone.

Em 2020, o município anunciou o começo de obras em outros três terminais: Júlio de Castilho, Bandeirantes e Guaicurus. A reforma nas plataformas teve investimento de R$ 5,5 milhões e previa, além de postos da Guarda Municipal, tomadas para recarga de celular, internet e portões para fechar os terminais à meia-noite.

Tampa de bueiro cedeu no Ponto de Integração Hércules Maymone (Foto: Nathalia Alcântara / Jornal Midiamax)

Para os seis terminais, a previsão da prefeitura de Campo Grande era gastar R$ 2.704.201,2 milhões nas obras, mas houve aditivo no contrato e o valor final saltou para R$ 3.337.653,21 milhões. Parte dos recursos eram federais, do PAC Mobilidade. A licitação foi finalizada em fevereiro de 2020.

Meses se passaram e a prefeitura celebrou contrato com a empresa Trevo Engenharia, em outubro de 2020, por intermédio da Agetran (Agência Municipal de Transporte e Trânsito), responsável pelos terminais. A previsão era que tudo ficasse pronto até agosto de 2021, quando Campo Grande completaria 122 anos. O aniversário chegou, passou e nada aconteceu.

Rescisão de contrato com empresa que reformaria terminais, em julho de 2021 (Foto: Reprodução, Diogrande)

empresa contratada pela prefeitura desistiu da obra em julho de 2021 e, ainda naquele ano, a Agetran anunciou que o município preparava nova licitação para retomar a reforma dos terminais.

Fiação elétrica no Ponto de Integração Hércules Maymone (Foto: Nathalia Alcântara / Jornal Midiamax)

Conforme anunciado anteriormente, essa reforma inclui: reforma dos banheiros e bebedouros; revisão das instalações elétricas e hidráulicas; plano de segurança contra incêndio e pânico; cobertura; reforço do piso rígido do pátio; pintura geral; troca dos bancos; sala para descanso dos funcionários; guarita dos guardas municipais ou seguranças; e grades móveis para o fechamento dos terminais durante a madrugada, quando não há circulação de ônibus.

Mais 18 meses se passaram e até o momento nenhuma nova licitação com foco em reforma de terminais foi lançada pelo município. O Jornal Midiamax entrou em contato com a prefeitura para mais detalhes sobre o planejamento das reformas nos locais e aguarda retorno.

Quatro novos terminais não saíram do papel

Como o Midiamax mostrou em reportagem publicada no início de janeiro, Campo Grande tinha a previsão de ter mais quatro novos terminais com recursos garantidos desde o PAC (Projeto de Aceleração do Crescimento) Mobilidade Urbana, que foi aprovado para a Capital. No entanto, o projeto não foi tirado do papel.

Entrada do Ponto de Integração Hércules Maymone (Foto: Nathalia Alcântara / Jornal Midiamax)

Os quatro terminais – Cafezais, Tiradentes, Parati e São Francisco – estavam no PPA (Plano Plurianual) 2014/2017 de Campo Grande, com previsão de entrega em 2015. O projeto entrou novamente no PPA com previsão de entrega até 2021, mas não foi licitado.

O Que diz a prefeitura

Sobre a situação do Ponto de Integração Hércules Maymone, a PMCG (Prefeitura Municipal de Campo Grande), através da Agetran (Agência Municipal de Transporte e Trânsito), informou em nota que a equipe de manutenção da Agência já foi notificada e tais denúncias serão averiguadas.

(Matéria alterada às 14h11 do dia 18 de janeiro de 2023, para acréscimo de posicionamento da prefeitura de Campo Grande).

Confira a série de reportagens do Jornal Midiamax sobre os terminais de ônibus de Campo Grande:

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