Localizado ao lado da sede da Agetran (Agência Municipal de Transporte e Trânsito), responsável pela administração dos terminais de ônibus de Campo Grande, o Terminal Guaicurus, na Avenida Gury Marques, é exceção em meio a um mar de reclamações de passageiros sobre a condição dos pontos de embarque e desembarque da Capital.

Nesta semana, o Jornal Midiamax publicou uma série de reportagens sobre os terminais de ônibus de Campo Grande, com relatos de usuários que há anos esperam por solução de problemas enfrentados diariamente. Confira as reportagens publicadas nesta semana ao fim desta reportagem.

Diferente de outros terminais da cidade, o Terminal Guaicurus estava limpo e sequer um papel sujo no chão foi encontrado pela reportagem. Pela manhã, uma equipe de limpeza cuidada da higienização de toda a plataforma do terminal.

O banheiro feminino tem grades na estrutura da saboneteira, para evitar furtos ou depredações. Não havia sinal de pichação ou vandalismo na parede. Já no banheiro masculino, a tampa do vaso sanitário foi retirada. Há resquícios de vandalismo nas paredes com canetas, mas dá para notar que a limpeza ali foi recente.

Computador em cantina é sinal que crime passa longe

Até mesmo a cantina em funcionamento dá sinal dos cuidados e de certa modernidade ao terminal. As salgadeiras são de vidro e o caixa tem um computador, algo que embora seja simples, é um sinal de que o comércio ali se sente seguro, diferente da realidade de outros terminais que não contam com guaritas ou segurança terceirizada durante o período noturno.

Pelo corredor, passageiros encontram informações divulgadas pelo Consórcio Guaicurus e painéis com o itinerário do dia. Até mesmo novidades, como o pagamento da passagem pelo Pix estão disponíveis na entrada.

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Banheiro limpo e sem pichação (Foto: Henrique Arakaki, Midiamax)

Para confirmar que a situação encontrada pela reportagem não foi exceção deste dia, os próprios passageiros relatam que há pouco para reclamar.

Aparecida Cita de Oliveira, 63 anos, aposentada, disse que a passagem pelo terminal costuma durar poucas horas, se limitando na função básica de esperar o ônibus e seguir para o destino.

“Estou morando na Cohab agora, o ônibus é mais rápido. Nunca vi algo de errado que me incomodasse. Ele está limpo, só um pouco de poeira e terra, mas que o vento traz”, opinou.

Aparecida Cita de Oliveira (Foto: Henrique Arakaki, Midiamax)

Outra passageira, que preferiu não se identificar, também contou que quase não repara nos problemas da infraestrutura. “Quando chove de vento molha, mas não alaga”.

Mas para quem evita usar o banheiro ou consumir água, o cenário é irrelevante. Como explica a funcionária de call center Jessica de Souza, de 23 anos, que tem certo preconceito com banheiro de terminais. “Não uso, prefiro assim, mas reparo que o ônibus está sempre sujo, todo o ônibus, o banco, as janelas e onde segura”.

Entretanto, alguns problemas pontuais foram encontrados pela reportagem que demostram certo desleixo, como bebedouros com vazamento que deixam poças de água pelo caminho do piso tátil, por ventura, podendo causar acidentes por ter o piso escorregadio.

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Vazamento em bebedouro (Foto: Henrique Arakaki, Midiamax)

Ônibus velhos

Além da questão estrutural do terminal, a acessibilidade é limitada para funcionalidade dos coletivos, de responsabilidade do Consórcio Guaicurus. Fernanda Nascimento, de 24 anos, mãe da pequena Coralini, de 4 anos, explica que a menina é cadeirante e juntas usam o transporte coletivo três vezes por semana para consultas e passeios.

“Já tivemos que esperar outro ônibus porque o elevador não estava funcionando. Isso acontece direto, é um sacrifício. Já ficamos presas dentro do ônibus porque não descia e em horário de pico é pior. Eles [coletivos] são muito velhos, sujos, sabe se lá quando tiveram manutenção”.

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Fernanda Nascimento e a filha Coralini já passaram diversas dificuldades nos coletivos (Foto: Henrique Arakaki)

O piso onde os coletivos transitam está quebrado e com diversas rachaduras visíveis. A capa asfáltica estava listada pelo município na manutenção prevista, mas o peso do transporte e a frequência nas rotas fizeram com que o piso já revele o desgaste.

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Piso quedado (Foto: Henrique Arakaki)

Furto em meio a passageiros

O terminal conta com uma base da GCM (Guarda Civil Metropolitana) com efetivo de 24h. Um dos servidores, questionado sobre a taxa de vandalismo no local, informou que casos não são frequentes e, se acontecem, são casuais.

Na terça-feira (10), passageiros flagraram um homem arrancando a fiação elétrica do Guaicurus. O acusado retira com força os fios, mas em tranquilidade, pois ninguém o impede. O incidente aconteceu em plena luz do dia.

A cena é filmada por um passageiro que está dentro de um veículo e, durante os segundos de filmagem, não é possível notar a presença da Guarda Municipal e ninguém se aproxima do suspeito.

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Pintura brilhante nas paredes (Foto: Henrique Arakaki)

Reformas

As reformas nos principais terminais foram anunciadas em 2019, mas só saíram do papel em dezembro de 2020, após atrasos no cronograma devido à pandemia de covid-19. Os primeiros que receberam reparos foram os terminas Júlio de Castilho, e Guaicurus.

A reforma nas plataformas teve o investimento de R$ 5,5 milhões, com planejamento de revitalizar postos da Guarda Municipal, tomadas para recarga de celular, internet e portões para fechar os terminais à meia-noite.

A intervenção incluiu reformas dos banheiros, bebedouros, revisão das instalações elétricas; hidráulicas; plano de segurança contra incêndio e pânico; cobertura; reforço do piso rígido do pátio; pintura geral; troca dos bancos; sala para descanso dos funcionários; guarita dos guardas municipais ou seguranças e grades móveis para o fechamento dos terminais durante a madrugada, quando não há circulação de ônibus.

O contrato alcançou o orçamento de R$ 2.704.201,20 para reforma dos terminais de ônibus do Aero Rancho, Nova Bahia, Morenão, General Osório, e do ponto de integração Hércules Maymone. O extrato foi publicado no (Diário Oficial de Campo Grande) no dia 18 de novembro de 2020.

Precariedade dos terminais

O Terminal Guaicurus se torna, até o momento, um caso de exceção em reclamação ou precariedade quando comparado à situação lamentável da falta de conforto e limpeza dos terminais. O Jornal Midiamax publicou nesta semana uma série de reportagens sobre a situação dos terminais de ônibus de Campo Grande.

No Terminal Moreninhas, o ‘nojo' pela situação precária do banheiro e do bebedouro liderou as queixas dos passageiros ouvidos pela reportagem.

No Terminal Júlio de Castilho, além da falta de informação, é visível a do chão e a falta de manutenção em bebedouros e banheiros. Usuários relatam que por vezes falta água fria nos bebedouros e papel nos banheiros.

E no Nova Bahia passageiros reclamaram dos bancos encardidos, paredes imundas, bebedouro que exige coragem para matar a sede e um banheiro que faz qualquer um perder a vontade de usá-lo.

O ponto crítico que todos os usuários do transporte coletivo do Terminal Bandeirantes reclamaram foi sobre os banheiros. A unanimidade tem fundamento já que os sanitários de terminais são famosos pela precarização e má higiene.

O Terminal General Osório é mais um exemplo de abandono por parte da gestão pública Municipal de Campo Grande. Com problemas que vão de ‘cachoeira' no teto a sangue no banheiro, foi eleito um dos piores terminais da Capital.