Sem previsão de reforma, terminal Nova Bahia ganha fama de ‘mais sujo’ de Campo Grande
Inaugurado há 23 anos, terminal enfrenta abandono sem investimento em melhorias
Mariane Chianezi –
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Bancos encardidos, paredes imundas, bebedouro que exige coragem do passageiro para matar a sede e um banheiro que faz qualquer um perder a vontade de usá-lo. Em mais uma matéria da série sobre os terminais de ônibus de Campo Grande, desta vez a reportagem do Jornal Midiamax visitou o Terminal Nova Bahia, que ganhou a fama de ‘o mais sujo’ da Capital.
A situação do terminal, que fica entre a região do Prosa e Segredo, não se difere muito do encontrado nos terminais visitados anteriormente. A placa de inauguração da estação logo pode ser vista ao passar a catraca: inaugurado em 15 de março de 2000.
Duas décadas depois, o que se relata é que o local recebeu uma mão ou outra de tinta e um início de projeto na entrada do terminal, que está inacabada e ‘esfarelando’, disseram moradores.
O Midiamax publica nesta semana uma série de reportagens sobre a situação dos terminais de ônibus de Campo Grande. Confira as matérias sobre o Júlio de Castilho e o Moreninhas.
Sujeira e abandono
Quando os passageiros falam em ‘sujeira’ não se referem à falta de limpeza no terminal, porque ela existe (funcionárias passam vassoura e pano no local), mas do aspecto de abandono e descaso marcados pelos 23 anos desde a inauguração e nenhum investimento em melhorias por parte do poder público.
Das milhares de pessoas que passam diariamente pelo local, Célia de Oliveira Fontes, de 61 anos, é rápida ao responder o que poderia ser melhorado no terminal: “Tudo”, define. Ela diz que passa pela plataforma da estação todos os dias e que há anos a situação encontrada é a mesma.
“É bebedouro que não dá para usar, banheiro pior ainda. Uma sujeira. É o terminal mais sujo de Campo Grande”, afirma. A passageira relata que o banheiro do terminal é uma ‘missão impossível’ de se usar. Das vezes que precisou recorrer ao sanitário feminino do terminal, voltou para trás. “Passa até a vontade”, afirma.
E não é exagero dizer. Ao entrar no banheiro as paredes sujas e pichadas, mármore encardido de tão antigo, pias sem estrutura, com uma torneira e balde para quem quiser lavar as mãos denunciam o descaso. No canto onde fica o vaso, mais pichação, uma porta sem tranca e nada de iluminação. Resistindo aos furtos, a caixa com papéis para enxugar as mãos permanece trancada com uma grade.
Elizangela da Silva, de 43 anos, é doméstica e fica até em dúvida do que reclamar do terminal Nova Bahia, diante das inúmeras coisas. “Fora os ônibus lotados, o banheiro aqui não dá para usar. É horrível. Eu evito usar, vou no banheiro do trabalho ou espero chegar em casa”, afirma.
Bebedouro vira lavatório
Um motorista que estava no local chegou a conversar com a reportagem e pontuou algumas dificuldades que passam diariamente no Terminal Nova Bahia. Dentre as reclamações, está a falta de água gelada para os passageiros. “Nesses dias de calor, não tem bebedouro com água gelada. É algo que poderia resolver”.
Mas antes seria apenas esse o problema. O bebedouro do terminal, assim como o chão, paredes e teto, é sujo. Em meia hora que a reportagem esteve no local, pelo menos duas pessoas passaram na torneira para lavar as mãos.
Rita Gomes, de 73 anos, aguardava ônibus para voltar para casa e disse que pouco usa o transporte público porque conhece a qualidade oferecida aos passageiros. Ela disse que na ocasião ficou sem a carona do filho e foi embora de ‘busão’ mesmo.
Ao ser questionada se ela teria coragem de beber água no bebedouro do terminal, ela responde: “Jamais. Quando eu saio sempre levo minha garrafinha d’água. Ainda mais porque aqui não tem mais lanchonete para a gente comprar uma água ou um salgado quando está com fome”, disse.
Assim como no terminal Bandeirantes, visitado anteriormente, o terminal Nova Bahia também não conta mais com estabelecimento de vendas, apenas um vendedor ambulante.
O motorista que conversou com a reportagem disse que o local não conta com fiscalização da GCM (Guarda Civil Municipal) à noite, o que facilita o vandalismo.
A reportagem do Jornal Midiamax solicitou posicionamento sobre as reclamações dos moradores sobre o terminal, devidamente documentado, para a prefeitura de Campo Grande, que respondeu em nota:
“A Agetran informa que no terminal Nova Bahia são registrados, aproximadamente, 16500 passageiros, nos dias úteis. A Agência informa ainda que está em fase de levantamento de dados para a elaboração de projeto e orçamento e para, na sequência, dar início ao processo licitatório.
Na segurança pública, a Guarda Civil Metropolitana atua em apoio às forças de segurança, com rondas preventivas de viaturas de duas e quatro rodas no local no horário de pico. A GCM informa que a população pode também fazer denúncias para a GCM pelo telefone 153“.*
Obras anunciadas não saíram do papel
Em 2020, o município anunciou o começo de obras nos terminais Júlio de Castilho, Bandeirantes e Guaicurus. A reforma nas plataformas teve investimento de R$ 5,5 milhões e previa, além de postos da Guarda Municipal, tomadas para recarga de celular, internet e portões para fechar os terminais à meia-noite.
Outros seis terminais, entre eles o Nova Bahia, também foram anunciados, ainda em 2020, como os próximos a serem reformados, mas a promessa não frutificou.
Meses se passaram e a prefeitura celebrou contrato com a empresa Trevo Engenharia, em outubro de 2020, por intermédio da Agetran (Agência Municipal de Trânsito), responsável pelos terminais.
A previsão era que tudo ficasse pronto até agosto de 2021, quando Campo Grande completaria 122 anos. O aniversário chegou, passou e nada aconteceu.
A empresa contratada pela prefeitura desistiu da obra em julho de 2021 e, ainda naquele ano, a Agetran anunciou que o município preparava nova licitação para retomar a reforma dos terminais. Mais 18 meses se passaram e até o momento nenhuma nova licitação com foco em reforma de terminais foi lançada pelo município.
Caos se estende a corredores
O caos na estrutura que atende o transporte público de Campo Grande se estende também aos corredores de ônibus, que são alvo de reclamações tanto de passageiros como de motoristas e comerciantes.
Série de reportagens do Midiamax mostrou a situação dos corredores, que custaram mais de R$ 110 milhões aos cofres públicos, alguns até com obras inacabadas.
As obras foram iniciadas em 2017, na gestão de Marquinhos Trad, e ainda não estão completamente concluídas. O reordenamento no trânsito de onde a mudança já foi implementada gerou caos e é alvo de reclamações.
Quatro novos terminais ficaram só no projeto
Como o Midiamax mostrou em reportagem publicada no início de janeiro, Campo Grande tinha a previsão de ter mais quatro novos terminais com recursos garantidos desde o PAC (Projeto de Aceleração do Crescimento) Mobilidade Urbana, que foi aprovado para a Capital. No entanto, o projeto não foi tirado do papel.
Os quatro terminais – Cafezais, Tiradentes, Parati e São Francisco – estavam no PPA (Plano Plurianual) 2014/2017 de Campo Grande, com previsão de entrega em 2015. O projeto entrou novamente no PPA com previsão de entrega até 2021, mas não foi licitado.
*Matéria atualizada às 16h para acréscimo e posicionamento da Prefeitura Municipal
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