O Terminal General Osório é mais um exemplo de abandono por parte da gestão pública Municipal de . Com bebedouros totalmente inoperantes, banheiros danificados, falta de limpeza e uma estrutura que não protege da chuva com eficiência, o local deixa a população que depende do transporte coletivo a mercê de condições precárias há anos. O Jornal Midiamax publica hoje mais uma reportagem da série sobre os terminais de Campo Grande.

Para o digitalizador Lucas da Silva Quirino, de 21 anos, a situação é lastimável e persiste há anos. “A estrutura está ruim. Eu uso desde e sempre foi assim. É muito sujo e quando chove molha bem em cima do banco, porque vasa por essa calha do meio e o povo não tem onde sentar”, disse ele.

No solo, é possível ver o concreto cedendo e com diversas rachaduras. Ainda em relação à estrutura dos bancos, ele denuncia. “Aquele banco está quebrado há no mínimo oito meses”, disse o digitalizador.

Vídeo publicado pelo Jornal Midiamax em 19 de agosto de 2020.

A doméstica Glaucia Lima, de 36 anos, já até desistiu de usar os banheiros do terminal. “Das vezes que eu fui estava sujo e com a pia quebrada, eu nem vou mais no banheiro daqui. É muito precário”, disse ela.

“Aqui eu não vejo as pessoas limpando ou varrendo. Minha filha de 2 anos precisava ir no banheiro, mas desisti. Não tem como usar naquelas condições. É muito fedido e sujo”, disse ela em relação à limpeza do ambiente.

Descaso com o cidadão

O servidor público Arlindo Nunes, de 59 anos, foi categórico ao descrever a situação lastimável do terminal. “Toda negatividade tem aqui. O terminal não oferece nenhum conforto aos passageiros. É um problema muito sério, tudo aqui está crítico porque nada funciona adequadamente”, relatou.

Bebedouros não funcionam (Foto: Henrique Arakaki / Jornal Midiamax)

O Terminal possui dois banheiros masculinos. Em ambos, os mictórios foram removidos. Em um deles, somente um box funciona. “Não tem um sanitário adequado, em um dos banheiros só funciona um box. É horrível, eu não tenho adjetivos para descrever [a situação] desse banheiro. Pelo que se paga, é um descaso com cidadão”, relatou Arlindo Nunes.

Para a aposentada Iede Martins, de 70 anos, o problema também envolve os bancos. “Tem hora que está muito cheio e não tem lugar para a gente sentar. Quando chove, os bancos ficam todos cheios de água, a chuva escorre pela calha e cai nele. Precisa melhorar”, disse ela.

Eleito um dos piores terminais de Campo Grande

No dia 25 de fevereiro de 2022, as conversas com diversos passageiros do Consórcio Guaicurus geraram uma reposta clara: Morenão e General Osório são os piores terminais do município.

Só um box funciona em um dos banheiros (Foto: Henrique Arakaki / Jornal Midiamax)

Naquela data, a reportagem foi às ruas para ouvir dos próprios passageiros o porquê desses terminais ganharem o status de ‘piores de Campo Grande' e, após diversas entrevistas, é possível perceber que não se trata de situações específicas encontradas nesses locais, mas a constância desses problemas.

“É a estrutura e organização, é difícil de entrar nos ônibus, o terminal é inferior aos outros”, resumiu Matheus Rodrigues, de 29 anos, que retornava do Centro da Capital para o referido terminal. Independente da pessoa, as opiniões são similares. “Os banheiros são horríveis e não tem bebedouro”, comentou Vinícius Carrilho de Arantes, de 23 anos.

Alagamento no Terminal General Osório

A chuva que caiu em diversas regiões de Campo Grande, na tarde do dia 4 de abril de 2022, alagou o terminal General Osório, no Bairro Cruzeiro.

Banco no Terminal General Osório (Foto: Henrique Arakaki / Jornal Midiamax)

No terminal, a água que alagou a via destinada aos ônibus coletivos transbordou e invadiu a área destinada aos passageiros. No local, quem precisou atravessar de uma estação para outra, enfrentou a chuva e também o alagamento.

Sujo com urina e sangue

Uma passageira, que prefere não se identificar, relata que o banheiro do Terminal General Osório estava sujo e sem condições de uso, na quinta-feira, 2 de junho de 2022. De acordo com a passageira, o banheiro estava com o chão inundado de urina e sangue e não passou por manutenções durante a manhã.

A mulher aponta que tentou usar o banheiro pela primeira vez às 5h50 da manhã e foi quando se deparou com o local sujo e sem condições de uso. Em seguida, tentou usar o banheiro novamente às 10h30 e a situação estava a mesma. “Eu levantei cedo para trabalhar, voltei e o banheiro estava do mesmo jeito”, aponta.

Um dos banheiros no Terminal General Osório (Foto: Henrique Arakaki / Jornal Midiamax)

Sobre a situação, a passageira descreve que é “uma vergonha, R$ 4,40 para andar de ônibus, sente necessidade de usar um banheiro e tava essa vergonha. Alagado de mijo e sangue”.

Quatro novos terminais não saíram do papel

Como o Midiamax mostrou em reportagem publicada no início de janeiro, Campo Grande tinha a previsão de ter mais quatro novos terminais com recursos garantidos desde o PAC (Projeto de Aceleração do Crescimento) Mobilidade Urbana, que foi aprovado para a Capital. No entanto, o projeto não foi tirado do papel.

Os quatro terminais – Cafezais, Tiradentes, Parati e São Francisco – estavam no PPA (Plano Plurianual) 2014/2017 de Campo Grande, com previsão de entrega em 2015. O projeto entrou novamente no PPA com previsão de entrega até 2021, mas não foi licitado.

Rachaduras na pista (Foto: Henrique Arakaki / Jornal Midiamax)

Caos dos corredores de ônibus

Recentemente, o Midiamax mostrou em uma série de reportagens o caos espalhado pela Capital com as obras de corredores de ônibus, muitas inacabadas, que custaram mais de R$ 110 milhões aos cofres do município.

Dinheiro público escoando pelo ralo, falta de planejamento e trânsito caótico são só alguns dos problemas apontados pelos leitores que diariamente precisam ter paciência redobrada para passar por vias onde os corredores com seus ‘pontões' foram instalados.

Midiamax revelou que na gestão de apenas 24% das obras dos corredores foram concluídas.

A administração pública municipal ainda foi selecionada em 2020 para um financiamento de mais R$ 93,1 milhões para modernização da malha viária da cidade, o Avançar Cidades. Ou seja, para recapear ruas e vias urbanas ao invés de insistir em tapa-buracos. No entanto, a Prefeitura perdeu a linha de crédito.

Fachada do terminal (Foto: Henrique Arakaki / Jornal Midiamax)

Isso porque a gestão de Marquinhos deixou a cidade negativada no Cauc (Sistema de Informações sobre Requisitos Fiscais) e no Cadin (Cadastro Informativo de Créditos não Quitados do Setor Público Federal), acima do teto da LRF (Lei de Responsabilidade Fiscal) e com mais de R$ 1,5 bilhão de financiamentos já contratados para fazer desembolso.

Com isso, Campo Grande ficou à mercê do Orçamento Geral da União, com recursos sujeitos a contingenciamento, e que acabaram comprometendo o cronograma de execução das obras, como as que estão atualmente paralisadas, na Avenida Gunter Hans e outra que nem começou, na Avenida Cônsul Assaf Trad, licitada no início de novembro de 2022.

O Jornal Midiamax acionou a PMCG (Prefeitura Municipal de Campo Grande) sobre a situação precária do terminal, mas até a publicação desta matéria não obtivemos retorno. O espaço segue aberto para posicionamento.