Em 2020, a prefeitura de Campo Grande anunciou que o terminal de ônibus Júlio de Castilho estaria entre os contemplados com reforma. Quase três anos se passaram, os investimentos não chegaram e passageiros convivem diariamente com o abandono, a sujeira e a falta de informações no terminal de transbordo.

Se a promessa era de melhorias para os passageiros, na prática, a situação piorou de 2020 para cá. A principal reclamação de quem passa pelo terminal Júlio de Castilho é a falta de informações visíveis sobre as linhas de ônibus.

Isso porque até 2020 havia placas grandes e visíveis espalhadas pelo terminal e que indicavam onde cada ônibus parava. Elas não existem mais e, no lugar, há folhas de papel coladas de maneira improvisada. Além disso, um painel digital indica os próximos horários e linhas.

“Tem pessoas idosas que não conseguem enxergar a folha improvisada. As plaquinhas fazem falta, eu quando cheguei de volta não fazia ideia de onde o ônibus que eu precisava pegar iria parar. Também tem a questão de quem não sabe ler. No geral é muito precário”, conta Carolina Silva Santos, 40 anos, que passou uma temporada fora de Campo Grande e voltou recentemente.

Para ela, nos últimos anos, a situação dos terminais piorou consideravelmente. “Esse terminal parece muito sujo, no geral o aspecto não é bom. É feio, sujo, sem informações e em horário de pico é muito lotado, faltam aqueles ônibus sanfonados também”, destaca Carolina.

terminal julio de castilho
Falta de placas de informação sobre onde cada ônibus para. (Foto: Nathália Alcântara/Midiamax)

Vendedor vira informante do terminal

“Amigo, sabe onde eu pego o 71?”, questiona um homem ao vendedor ambulante Wilson da Silva, 55. Em meio à falta de informações sobre onde cada ônibus para, o jeito é sair perguntando para não errar.

Os oito terminais de Campo Grande são divididos em duas plataformas, onde geralmente o mesmo ônibus para indo para o centro ou para o bairro. Na prática, pegar o ônibus certo no local errado pode levar o passageiro ao destino oposto do previsto.

No terminal Júlio de Castilho a cantina está desativada e, na fome, é necessário recorrer ao Wilson, o único ambulante do local à tarde. Um salgado dele custa R$ 5, o refrigerante R$ 4,50 e a água R$ 2,50.

Ele aproveita para dizer que por lá tudo precisa melhorar, mas lembra de um ponto crítico. “Tem um estacionamento de ônibus ao lado do terminal que é de terra e quando o tempo está seco e venta a poeira vem toda nos passageiros. É muito ruim para gente que está todos os dias aqui”, conta ele.

Falta de manutenção é reclamação geral

No terminal Júlio de Castilho, além da falta de informação, é visível a sujeira do chão e a falta de manutenção em bebedouros e banheiros. Usuários relatam que por vezes falta água fria nos bebedouros e papel nos banheiros.

A vendedora Tauany Nantes Lemos, 26, afirma que entre os terminais que ela passa, o Júlio de Castilho é um dos piores. “Aqui falta limpeza, informação, às vezes eu chego e não sei para onde tenho que ir e também não acho ninguém para informar”, conta ela.

Ainda em relação à infraestrutura do local, passageiros afirmam que a última manutenção do terminal foi nos bancos, que aparentam boa conservação. Além disso, um bicicletário aparenta boas condições, mas é pouco utilizado.

Obras anunciadas não saíram do papel

Em 2020, o município anunciou o começo de obras nos terminais Júlio de Castilho, Bandeirantes e Guaicurus. A reforma nas plataformas teve investimento de R$ 5,5 milhões e previa, além de postos da Guarda Municipal, tomadas para recarga de celular, internet e portões para fechar os terminais à meia-noite.

Meses se passaram e a prefeitura celebrou contrato com a empresa Trevo Engenharia, em outubro de 2020, por intermédio da Agetran (Agência Municipal de Trânsito), responsável pelos terminais. A previsão era que tudo ficasse pronto até agosto de 2021, quando Campo Grande completaria 122 anos. O aniversário chegou, passou e nada aconteceu.

A empresa contratada pela prefeitura desistiu da obra em julho de 2021 e, ainda naquele ano, a Agetran anunciou que o município preparava nova licitação para retomar a reforma dos terminais.

Mais 18 meses se passaram e até o momento nenhuma nova licitação com foco em reforma de terminais foi lançada pelo município. O Jornal Midiamax entrou em contato com a prefeitura para mais detalhes sobre o planejamento das reformas nos locais e aguarda retorno.

Caos se estende a corredores

O caos na estrutura que atende o transporte público de Campo Grande se estende também aos corredores de ônibus, que são alvo de reclamações tanto de passageiros como de motoristas e comerciantes.

Série de reportagens do Midiamax mostrou a situação dos corredores, que custaram mais de R$ 110 milhões aos cofres públicos, alguns até com obras inacabadas.

As obras foram iniciadas em 2017, na gestão de Marquinhos Trad, e ainda não estão completamente concluídas. O reordenamento no trânsito de onde a mudança já foi implementada gerou caos e é alvo de reclamações.