Quase 4 anos após promessa, reforma não chega ao Terminal Morenão e passageiros enfrentam abandono
Alguns terminais de Campo Grande passaram por reformas parciais, enquanto outros não viram nem uma demão de tinta
Fábio Oruê –
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“Problema é o que tem”, declara a doméstica Maria das Graças, de 50 anos, quando perguntada sobre o Terminal Morenão. Ela usa o local para ir e voltar do trabalho e sente na pele a falta de estrutura do transporte coletivo de Campo Grande, que coleciona problemas dos ônibus aos terminais de embarque e desembarque.
Em mais uma reportagem da série que expõe a realidade dos terminais de Campo Grande, o Jornal Midiamax desembarca no Terminal Morenão para mostrar os desafios e problemas enfrentados pelos passageiros, que se sentem abandonados pelo poder público.
Entre os problemas elencados por Maria das Graças, os estruturais são os que saltam aos olhos: há bancos sem ‘assentos’, falhas no chão e até fios expostos. “Não tem nem como sentar aqui. A estrutura está bem feia; precisa melhorar muito. Muita coisa tem que mudar aqui”, reclama.
O Morenão faz parte dos terminais que iriam receber investimentos, em anúncio feito pelo então prefeito Marquinhos Trad (PSD) ainda em agosto de 2019. Passados mais de três anos, o local não viu nem uma demão de tinta.
Além do Morenão, o anúncio de Trad previa a reforma dos terminais Aero Rancho, Nova Bahia, General Osório, Moreninhas e o ponto de integração Hércules Maymone. Investimento esse que não saiu do papel.
Passageiros lidam com abandono
“O Bandeirantes eles reformaram, ficou bom. Agora esse aqui, só por Deus”, opina a doméstica. A situação é ainda pior para quem passa o dia no local, como o vendedor ambulante Elielson Macedo, de 33 anos.
“Olha a situação dos banheiros, não tem água, não tem nada. E a gente paga para ter um ambiente melhor, mas não tem”, lamenta ele ao Jornal Midiamax. Ele trabalha no local e faz uso diariamente da estrutura precária do Terminal Morenão.
São bancos e muretas danificados, sujeira, pichações, fios expostos, canos vazando e chão quebrado. Esse combo de problemas atinge toda a estrutura oferecida para seus usuários.
“Quando chove isso aqui” – diz ele apontando para o teto – “desce ‘todindo’ de aguaceiro. Atrapalha aqui, atrapalha os outros lá também”, revela o profissional sobre seu ponto de vendas. “Os bebedouros nem funcionam. Reformaram só o terminal Bandeirantes e o Júlio de Castilho e esse aqui nem mexeram; abandonaram”, lamenta.
A reforma citada pelos usuários se refere ao anúncio feito em 2020, quando começaram as obras em outros três terminais: Júlio de Castilho, Bandeirantes e Guaicurus. A reforma nas plataformas teve investimento de R$ 5,5 milhões e previa, além de postos da Guarda Municipal, tomadas para recarga de celular, internet e portões para fechar os terminais à meia-noite.
Entretanto, as obras foram abandonadas quando a empresa que tocava as reformas abandonou o projeto. Apesar das melhorias, os locais já sofrem com o sucateamento, como mostrado ao longo da semana passada (confira os demais episódios no fim da matéria).
(In)segurança
Enquanto alguns locais receberam guarita da GCM (Guarda Civil Metropolitana), a segurança do terminal também foi algo criticado por seus usuários. “A estrutura é péssima. Tem que melhorar tudo, primeiramente a segurança. Aqui dentro fica transitando morador de rua, não tem uma segurança”, diz Elielson.
Passageira assídua do Terminal Morenão, a diarista Roseli Godez, de 52 anos, também cita a falta de segurança como um item a ser melhorado. Ela conta que já teve furto de fios que atrapalhou a vida dos usuários.
“Roubaram ‘tudinho’ os fios um tempo atrás. Ficou sem ter como colocar passe lá no guichê porque estava sem internet”, relembra. A passageira ainda acrescenta: “Os banheiros estão horríveis. Precisam de uma reforma”.
Banheiros?
No melhor estilo da canção de Vinicius de Moraes, o banheiro do Terminal Morenão é “muito engraçado”: Não tem água, não tem luz, nem tampa nos sanitários e, aparentemente, também não tem manutenção e limpeza.
Talvez no universo lúdico da canção, o local ficaria na Rua dos Bobos, número zero, mas fica na Avenida Costa e Silva, uma das principais e mais movimentadas de Campo Grande. A falta de higiene dos banheiros, constatada pela equipe de reportagem, também foi algo comentado por Maria das Graças.
“Banheiros fedem demais e os vasos não funcionam”, comenta a doméstica. Quem também passa todos os dias pelo terminal é o estudante João Vitor Barros, de 19 anos, que evita usar os banheiros. “Quando você vai no banheiro do terminal é meio punk o negócio”, explica.
Muita gente para pouco ônibus
Outro ponto de muita reclamação dos usuários é a questão dos horários e quantidade dos ônibus que passam pelo Terminal Morenão, que atende mais de 20 linhas, distribuídas em apenas uma plataforma de transbordo.
“Problema é o que tem. Os ônibus são lerdos e a gente está cansado; quer chegar em casa. Olha, é difícil pegar ônibus”, reclama Maria das Graças, que abriu a reportagem.
“Acabou de sair um, agora [o outro] vai demorar meia hora e a gente tem que ficar aqui esperando. É uma coisa que não podia; a gente trabalha, está cansado e quer ir embora. Chego em casa todo dia de noite por causa de ônibus”, diz.
Quem também sofre com esse problema é o estudante João Vitor, que trabalha na região central. “De manhã quando venho, tenho que pegar o 070 para ir. Aí tem vezes que não dá para pegar porque entra muita gente. Aí tenho que esperar o outro 070 e chego atrasado”, lamenta.
Obras anunciadas não saíram do papel
Para as obras nos terminais, a previsão da prefeitura de Campo Grande era gastar R$ 2.704.201,2 nas obras, mas houve aditivo no contrato e o valor final saltou para R$ 3.337.653,21. Parte dos recursos era federal, do PAC Mobilidade. A licitação foi finalizada em fevereiro de 2020.
Meses se passaram e a prefeitura celebrou contrato com a empresa Trevo Engenharia, em outubro de 2020, por intermédio da Agetran (Agência Municipal de Transporte e Trânsito), responsável pelos terminais. A previsão era que tudo ficasse pronto até agosto de 2021, quando Campo Grande completaria 122 anos. O aniversário chegou, passou e nada aconteceu.
A empresa contratada pela prefeitura desistiu da obra em julho de 2021 e, ainda naquele ano, a Agetran anunciou que o município preparava nova licitação para retomar a reforma dos terminais.
Conforme anunciado anteriormente, essa reforma inclui: reforma dos banheiros e bebedouros; revisão das instalações elétricas e hidráulicas; plano de segurança contra incêndio e pânico; cobertura; reforço do piso rígido do pátio; pintura geral; troca dos bancos; sala para descanso dos funcionários; guarita dos guardas municipais ou seguranças; e grades móveis para o fechamento dos terminais durante a madrugada, quando não há circulação de ônibus.
Mais 18 meses se passaram e até o momento nenhuma nova licitação com foco em reforma de terminais foi lançada pelo município. O Jornal Midiamax entrou em contato com a prefeitura para mais detalhes sobre o planejamento das reformas nos locais e aguarda retorno.
Confira as matérias da série de reportagens do Midiamax sobre os terminais de ônibus de Campo Grande
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