Gaeco diz que Olarte emprestou cheques para pagar depois da cassação de Bernal
Ex-assessor de Olarte levantou R$ 900 mil e depoimentos sugerem que valor pode ter ‘financiado’ cassação de Bernal
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Ex-assessor de Olarte levantou R$ 900 mil e depoimentos sugerem que valor pode ter ‘financiado’ cassação de Bernal
Caiu o sigilo do processo do Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado) que oferece denúncia por corrupção passiva, continuidade delitiva e lavagem de dinheiro contra o prefeito de Campo Grande, Gilmar Olarte (PP). O Midiamax teve acesso ao conteúdo da investigação, que revela suposto esquema para captar dinheiro que teria sido usado politicamente na época da cassação de Alcides Bernal (PP).
Com a queda do prefeito eleito, Olarte, que era vice-prefeito, ficou no cargo. Ele, no entanto, usou informe publicitário pago divulgado em alguns jornais de Campo Grande para classificar de ‘infundadas’ as acusações apresentadas pelo Ministério Público em mais de 900 páginas de investigação com muitas escutas telefônicas, depoimentos e provas como cópias de cheques e fotografias.
As investigações tramitaram em segredo de Justiça porque contaram com escutas telefônicas de diversas pessoas, mas foram abertas pelo desembargador Luiz Cláudio Bonassini após oferecimento da denúncia pelo Ministério Público, na semana passada.
O processo foi aberto após denúncia de Paulo Sérgio Telles, que relatou um esquema de empréstimo de dinheiro por parte de Ronan Feitosa, supostamente a pedido de Gilmar Olarte, na época que a Câmara caminhava para cassação de Alcides Bernal (PP).
‘Busca da Prosperidade’
Segundo denúncia, algumas pessoas emprestaram, aproximadamente, R$ 900 mil, em cheques e dinheiro, com a promessa de que receberiam cargos e vantagens futuras na administração municipal de Campo Grande. Porém, a maior parte destas pessoas teria acabado levando ‘tombo’.
Alguns trechos revelam conversas que remetem a tramas novelescas de malandragem e muitas manobras financeiras em busca da prosperidade com cheques sem fundos e empréstimos não oficiais. Boa parte dos envolvidos são ligados, de alguma forma, por vínculos religiosos. Gilmar Olarte é pastor de uma igreja evangélica antes mesmo de se tornar político.
No processo que está em fase de digitalização, constam empréstimos de R$ 115,1 mil do filho de M.D., R$ 240 mil de S.V., R$ 100 mil de I.M., R$ 68,5 mil com C.L.S. e R$ 47 mil com M.S.T.. Quem supostamente emprestou não tinha intenções de caridade, pois os valores teriam supostamente sido cedidos mediante promessa de cargos e participações na prefeitura, caso Olarte ficasse com o cargo de Bernal.
Segundo processo, sob o comando de Olarte, Ronan teria procurado as pessoas pedindo cheques e prometendo cargos. A mulher que emprestou o cheque de um filho chegou a ser flagrada em conversas onde, por meio de rede social, cobra diretamente ao novo prefeito pelas promessas não cumpridas após a cassação de Alcides Bernal.
A mulher chega a pedir R$ 3,5 mil ao prefeito e diz que o filho dela nem conversa mais com ela, visto que ficou negativado por conta dos cheques que voltaram por não terem fundos. Há no processo, por exemplo, várias indicações de que ela teria recebido salário da prefeitura, já com Olarte no comando, sem nem ter trabalhado.
Em uma das gravações anexadas ao processo, esta testemunha relata que Olarte utilizaria parte do dinheiro para pagar pessoas para demonstrar insatisfação com a gestão de Bernal e parte para conquistar apoio junto a membros do Poder Legislativo, favorecendo a queda do próprio companheiro de partido e mandato para ficar com o cargo.
‘Terrenos e obras’
Outro envolvido teria emprestado R$ 236 mil e ficado sem receber o dinheiro. No processo, consta que ele teria recebido promessa de cessão de uso de terrenos públicos e execução de obras públicas, caso Gilmar Olarte assumisse.
Apesar das acusações de Olarte contra as investigações do Ministério Público Estadual, o promotor questiona na denúncia, por exemplo, o fato de o prefeito nunca ter registrado boletim de ocorrência contra Ronam, que segundo ele teria utilizado indevidamente o nome dele para fazer os empréstimos.
‘Família cuidada’
Além disso, consta na denúncia um diálogo entre o prefeito e o irmão de Ronan, P.C.F.L, onde o prefeito promete ‘atenção’ à família deles.
Segundo processo do Gaeco, na conversa Olarte prometeria que vai cuidar da família de Ronan, que a esta altura não estava mais em Campo Grande. Gilmar promete ainda na gravação dar uma parte do dinheiro para os familiares e outra “fatia” para o próprio Ronan.
Há também gravações onde a ex-mulher de Ronan conversa com uma amiga, dizendo que recebeu a promessa de que ela ou o filho receberiam cargos na prefeitura. Na ocasião, ela diz que só não foi nomeada ainda porque a esposa do prefeito, Andrea Olarte, “que mandava na prefeitura”, tinha barrado.
Olarte tentou manter sigilo
O processo já tem mais de 900 páginas e tramita no Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul, agora livre do sigilo. A última movimentação foi a liminar onde o desembargador negou pedido da defesa de Olarte. Apesar de afirmar que não tem nada a esconder, e que as denúncias são todas infundadas, o advogado de Gilmar tentou impedir que o sigilo fosse quebrado.
Sem chamar o Midiamax, a assessoria de imprensa da Prefeitura, mantida com dinheiro público, promoveu no Paço Municipal uma ‘coletiva’ nesta tarde para falar do processo que Gilmar Olarte responde. O atual prefeito disse que teria chamado apenas ‘a boa imprensa’ para o evento, onde distribuiu uma nota do advogado particular dele já publicada em espaços pagos de alguns jornais de Campo Grande.
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