Grupo ligado a Puccinelli é acusado de golpe para tomar Santa Casa após intervenção
Beatriz Dobashi e Leandro Mazina publicaram Edital que substitui associados históricos por servidores comissionados, o próprio governador e até ex-BBB nomeado no Governo de MS
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Beatriz Dobashi e Leandro Mazina publicaram Edital que substitui associados históricos por servidores comissionados, o próprio governador e até ex-BBB nomeado no Governo de MS
Às vésperas de perder a prefeitura de Campo Grande, uma manobra realizada pela Junta Interventiva que controla a Santa Casa tenta substituir os membros da Associação Beneficente de Campo Grande, entidade que fundou e é a mantenedora oficial do maior hospital de Mato Grosso do Sul.
A denúncia foi feita pelos membros originais da ABCG (Associação Beneficente de Campo Grande – Santa Casa) após a publicação de um edital, com data de 26 de outubro, que tenta legalizar a “Atualização Cadastral da Lista de Associados”.
O documento, assinado pela secretária estadual de Saúde, Beatriz Figueiredo Dobashi, e pelo secretário de Saúde da Capital, Leandro Mazina Martins, reúne basicamente servidores públicos em cargos de comissão ligados ao grupo político do governador André Puccinelli e do prefeito Nelson Trad Filho.
Na listagem, chamam a atenção nomes conhecidos da atual administração do governo do estado, como a secretária de Administração, Thie Higushi Viegas dos Santos, o diretor da Funsau, Ronaldo Perches Queiroz, e o próprio governador André Puccinelli.
No total, são duzentos e dez nomes. Porém, membros históricos da Associação, como o ex-governador Wilson Barbosa Martins, o ex-senador Valter Pereira, e até o atual presidente com eleição registrada em ata, Wilson Teslenco, curiosamente não constam na lista de “Atualização” montada por Dobashi e Mazina.
A reportagem entrou em contato com alguns dos “associados” citados no Edital. Todos confirmaram que são servidores em cargos de comissão e que foram contactados para “colaborar” com a Santa Casa. Mas desconheciam que estavam se tornando associados da Entidade.
“Me ligaram mesmo perguntando se eu queria ajudar nesse negócio da Santa Casa, mas eu achei que era algo pontual, até uma ajuda financeira. Vou verificar porque meu nome está nesta lista”, estranhou um dos servidores que pediu para ter a identidade preservada.
O atual presidente da ABCG, Wilson Teslenco, também foi pego de surpresa com a lista. “Nenhum dos dois secretários possui competência nem legitimidade para realizar qualquer ato em nome da Associação, a não ser para a gestão provisória da Santa Casa e sob ordem judicial”, explica.
Segundo ele, a publicação seria uma manobra política para tentar manter o controle sobre o orçamento do hospital, um dos maiores de Mato Grosso do Sul, após o fim de 16 anos de mandatos consecutivos do PMDB em Campo Grande.
Os dois secretários de Saúde, Dobashi e Mazina, administram atualmente a Santa Casa através de uma Junta Interventiva nomeada judicialmente. No entanto, as atribuições previstas na ação civil pública número 0076320-40.2007.8.12.0001 (001.07.076320-9) se referem apenas à gestão direta do hospital, e não ao controle da ABCG.
Após disputa que se arrasta na justiça há anos, a intervenção está com o fim previsto para abril de 2013. Segundo Teslenco, este seria o motivo da jogada política que tenta assumir o controle da Associação. O quadro de associados ‘atualizado’ terá a missão de escolher a nova diretoria.
“Essa jogada pode tornar o prefeito eleito refém de um grupo político na área da saúde. É um verdadeiro estelionato”, afirmou.
“O ato dos secretário é clara tentativa de criar um quadro paralelo de associados. É um desrespeito para os quase 200 membros que ao longo da história da Santa Casa dedicaram especial atenção ao hospital”, denuncia Teslenco.
Máfia de branco
Na Santa Casa, o clima é de incerteza e revolta. “Em 20 anos de Santa Casa, nunca imaginei que veria uma verdadeira quadrilha brigando descaradamente para manter o controle do caixa do hospital. É tudo uma questão financeira”, indigna-se um médico que trabalha a duas décadas no hospital.
“Aqui estão todos revoltados. Depois, vêm falar de máfia de branco, mas isso não existe. Aqui dentro é uma máfia familiar mesmo, com cinco ou seis lucrando. A maioria que veste branco está aqui para trabalhar”, desabafa. Assim como os demais entrevistados, o médico aceitou falar mediante a garantia de ter a indentidade preservada. “Eu preciso trabalhar”.
O prazo para impugnação da lista termina na próxima terça-feira. O atual presidente da ABCG já confirmou que tomará medidas judiciais para invaliar o Edital de Dobashi e Mazina.
Segundo Teslenco, o estatuto da ABCG prevê que a inclusão de novos sócios só é possível por proposta escrita de pelo menos um associado, depois de aprovação unânime no Conselho Administrativo e a exclusão de qualquer associado só pode ser decidida pela Assembléia Geral.
Erros e Big Brother
Além da presença de servidores que ocupam cargos em comissão, grupos de parentes, e pessoas ligadas a vereadores e deputados do grupo político de Puccinelli, também se destaca na lista a forma como alguns nomes são citados, inclusive com erro de grafia.
A servidora Esterlita Fonseca Lelis, técnica de serviços organizacionais da Secretaria de Administração, por exemplo, é citada na lista como Esterlita Fonseca “Lela”. Ela teve prorrogada a portaria que a colocou à disposição da Secretaria de Gestão de Recursos Humanos, em janeiro de 2012.
Outro caso interessante é o do ex-big brother Dilson Walkares Rodovalho Filho, que, para se tornar associado, é citado no edital como “Dilson Madmax Walvares Rodovalho”. Além de ter o nome artístico estranhamente enxertado no documento oficial, ele também foi nomeado em cargo de comissão na Secretaria de Estado de Governo em abril de 2011.
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