Funcionária de creche que dopava e torturava bebês em Naviraí é presa por omissão
Polícia localizou mulher se escondendo em casa em cidade a 100 km de distância de onde crime ocorreu
Mirian Machado –
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Mulher, de 26 anos, funcionária da creche onde bebês e crianças eram torturados e dopados em Naviraí, foi presa na manhã desta quinta-feira (27), em cumprimento de mandado de prisão. A mulher foi presa em Ivinhema, cidade a 289 km de Campo Grande.
A polícia emitiu mandado de prisão da mulher pela omissão nos atos praticados pela proprietária da creche, onde, além de agredidas e dopadas, até fezes eram esfregadas no rosto das crianças.
A mulher havia sido presa em flagrante na data em que a polícia descobriu a situação, mas foi liberada em audiência de custódia após pagar fiança. Porém, polícia solicitou prisão preventiva, que foi decretada pelo Judiciário e cumprida nesta quinta-feira (27).
Policiais civis de Naviraí realizaram buscas na cidade de Angélica, com o apoio da polícia local, já que havia notícias que a funcionária estaria naquela cidade. Entretanto, no meio das diligências, descobriram que a mulher estava em uma residência no Bairro Itapoã, em Ivinhema, distante cerca de 100 km de Naviraí.
Quando a polícia chegou ao local onde a mulher se escondia, ela tentou correr para dentro de um dos quartos, mas foi capturada. Ela foi encaminhada para Naviraí e ficará à disposição da Justiça.
Indiciada
A proprietária da creche em Naviraí, acusada de dopar e agredir bebês e crianças, foi indiciada pela Polícia Civil por tortura, maus-tratos e exposição da vida ou saúde de outrem a perigo direto ou iminente. A funcionária que chegou a ser presa no dia também foi indiciada, esta por omissão perante as torturas e maus-tratos, além da ministração de medicamento cujo efeito colateral é sonolência.
A investigação conduzida pela DAM (Delegacia de Atendimento à Mulher) apurou denúncias de maus-tratos, tortura e omissão cometidos pelas investigadas, contra, pelo menos, 20 crianças de zero a sete anos.
O local atendia crianças entre zero e sete anos de idade, no Bairro Sol Nascente, e cobrava valor médio de R$ 280,00, por criança. Apesar de popularmente conhecido, a creche funcionava em uma residência que prestava serviços de cuidados a crianças, sem fins educacionais e não possuía alvará de funcionamento.
Segundo a polícia, elementos coletados ao longo da investigação apontaram que a dona agredia física e psicologicamente as crianças de maneira explícita há meses. A mulher estava convicta da impunidade de cometer os atos ilícitos, sem que nenhuma ação fosse tomada. Estava convicta nas dissimulações que fazia com os pais das vítimas e segura de que não seria descoberta porque boa parte das crianças sequer conseguia falar, já que eram bebês.
A polícia ouviu 20 mães e responsáveis pelas crianças que eram atendidas na creche, o que ajudou a reunir elementos que comprovaram os crimes contra, pelo menos, 20 crianças.
Medicamento para dormir
Algumas mães apresentaram filmagens onde os filhos aparecem em estado de sonolência induzida. O laudo pericial de vistoria na creche constatou que o medicamento apreendido é contraindicado para menores de dois anos e é destinado ao controle de enjoos, vômitos e tonturas de diversas origens. A medicação foi flagrada sendo ministrado pela cuidadora, que afirmou ter dado 20 gotas a uma bebê de 11 meses.
O início de ação do remédio ocorre de 15 a 30 minutos após a administração e a duração da ação pode persistir de quatro a seis horas e causar sonolência. Em crianças pequenas pode causar excitação.
Ainda, segundo o laudo, pode causar efeitos indesejados, como sedação, visão turva, boca seca, retenção urinária, tontura, insônia e irritabilidade, sendo que em caso de dose excessiva do medicamento (superdose), podem ocorrer sonolência intensa, aumento dos batimentos cardíacos, batimentos irregulares, dificuldade para respirar, e espessamento no escarro, confusão, alucinações e convulsões, podendo chegar à insuficiência respiratória e coma.
Segundo apurado, o remédio era dado para as crianças, sob a alegação de que era para tratamento de gripe ou preveni-la em crianças que não estavam gripadas, porém, o real intuito era fazer as crianças dormirem durante o período em que ficavam no estabelecimento.
À polícia, os pais contaram que muitas vezes ao buscarem as crianças elas já estavam dormindo, permaneciam dormindo durante toda a noite e ainda tinham dificuldade de acordar durante a manhã, apresentavam sonolência na escola e também fora do horário normal, além de irritabilidade e agressividade.
A mãe de uma criança, de dois anos, relatou que recebeu um vídeo da proprietária do cantinho, com duração de quase um minuto, onde o filho nem piscou. A mãe chegou a desconfiar que o filho estava sendo medicado para dormir, mas sem conseguir ter certeza, deixou de levar o filho ao local.
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