A prisão da dona da creche em Naviraí, a 239 quilômetros de Campo Grande, nessa terça-feira (11), após acusação de torturar e dopar bebês aconteceu depois da interceptação com captação ambiental no local e instaladas pelo Departamento de Inteligência da Polícia Civil.

A instalação das câmeras na creche ocorreu depois do relato de uma das crianças que frequentava falar sobre os maus-tratos que aconteciam no local e diante dos indícios de crime foi feito o pedido para a Justiça de captação das imagens e áudios. Tudo foi acompanhado em tempo real pelos policiais. 

Através do monitoramento, policiais constataram que um , de 11 meses, foi agredido pela mulher às 11 horas. A criança estava em um colchão no chão, sozinha e havia saído do travesseiro. A mulher brutalmente tirou a criança do colchão e a jogou no mesmo lugar. Em seguida, a bebê voltou a chorar, momento em que a suspeita novamente a pegou e jogou no colchão, além de dar alguns tapas no corpo da bebê, nitidamente como castigo em virtude do choro. A mulher ainda chamava a bebê de ‘sem vergonha' e dizia que quando a criança começasse a andar estavam lascadas.

Como as imagens visualizadas pela polícia eram vistas em tempo real, uma equipe se deslocou até a creche enquanto outra permanecia fiscalizando pelo monitoramento.

Na creche, os investigadores estranharam o fato da bebê não se levantar do colchão e ficar no local por horas, sem se arrastar, engatinhar ou andar, aparentando estar sob efeito de algum medicamento.

A equipe que analisava as imagens notou que uma funcionária, de 26 anos, deu algum remédio para a mesma bebê, que dormiu por horas. Nesse tempo, a proprietária e a funcionária ficaram por muito tempo sentadas, mexendo no celular, sem olhar para as crianças que estavam lá.

Outras crianças estavam na creche e foram alimentadas pela equipe policial, pois estavam com fome. A perícia foi acionada e apreendeu o medicamento utilizado pelas cuidadoras. O remédio era utilizado para tratamento de sintomas de enjoo, tontura e vômitos, podendo causar sonolência, havendo a descrição de proibição na embalagem e na bula quanto ao uso por crianças menores de 2 anos.

Relato das mães 

Uma das mães de um dos bebês agredidos relatou que a filha chegava em casa muito sonolenta e a comida que mandava sempre voltava. Quando questionava a cuidadora, ela dizia que a bebê não estava gostando da comida, o que causou estranheza na mãe, já que a filha sempre gostou das frutas que mandava para a creche.

A mãe ainda relatou na delegacia que em uma das vezes em que buscou a filha percebeu que a bebê estava com machucados na lateral do corpo, arranhões, e a cuidadora teria dito que poderia ter se machucado já que engatinhava muito pelo local.

Em outra ocasião, a bebê apareceu com bolhas de sangue na sola dos pés. A bebê estava na creche havia 4 meses, e segundo a mãe a mensalidade era de R$ 200.

Sobre medicamentos ministrados a bebê, a mãe disse que nunca autorizou a cuidadora a fazê-lo e que mandava remédios indicados pelo pediatra para a filha tomar em caso de alguma dor ou febre. 

Outra mãe disse na delegacia que o filho de 2 anos sempre chegava sonolento da creche e chorava muito quando era a hora de ir para o local, mas acreditava que seria porque ele queria ficar com ela e não que estava sendo torturado. A criança ficou durante uma semana no local e a mãe não o levou mais.

Uma das crianças de 5 anos, que frequentava a creche contou à mãe, que as cuidadoras batiam nas bocas dos bebês e que um dos meninos em uma ocasião fez xixi na calça e a dona do local o puxou pelo cabelo até o banheiro e deu tapas no rosto do menino. Ainda segundo o relato, a dona do local fez com que outras crianças o chamassem de ‘mijão' e caso não o fizessem seriam colocados de joelhos no milho até sangrar.

Uma das crianças torturadas disse à mãe que não queria ir mais à creche porque a ‘tia é má, bate e puxa o cabelo'. O menino ainda disse para a mãe: “Tia falou que meu cabelo é ruim”. Neste dia, a criança chegou em casa bem triste.