Lançamento de sonda em direção ao sol é adiado
POR: SALVADOR NOGUEIRA A primeira tentativa de lançamento da Parker Solar Probe teve de ser interrompida com pouco mais de 2 minutos para a decolagem, em razão de uma anomalia nos dados do sensor de um dos tanques de hélio pressurizado do foguete Delta IV Heavy. Sem mais tempo para resolver o problema, a equipe […]
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POR: SALVADOR NOGUEIRA
A primeira tentativa de lançamento da Parker Solar Probe teve de ser interrompida com pouco mais de 2 minutos para a decolagem, em razão de uma anomalia nos dados do sensor de um dos tanques de hélio pressurizado do foguete Delta IV Heavy. Sem mais tempo para resolver o problema, a equipe foi obrigada a interromper o ciclo e reiniciar as preparações para nova tentativa neste domingo (12), a partir das 4h30.
A missão da sonda é viajar para as regiões mais internas do Sistema Solar e no fim das contas se colocar numa órbita próxima do Sol, muito mais perto dele que o planeta Mercúrio.
A primeira “roçada” em nossa estrela-mãe acontece cerca de três meses após o lançamento, na primeira de 24 passagens próximas previstas ao longo de sete anos. Numa órbita bastante alongada, a cada afastamento a Parker Solar Probe cruza as órbitas de Mercúrio e Vênus, por vezes usando encontros próximos venusianos para “apertar” ainda mais seu cerco ao redor do Sol.
Claro que a sonda nunca vai entrar no interior da estrela -nada conhecido pela ciência poderia sobreviver intacto a um contato com a fotosfera solar (sua “superfície”), onde a temperatura é de cerca de 5.500 °C.
A espaçonave, contudo, fará travessias constantes da chamada coroa solar -que é basicamente a atmosfera estendida do Sol. Em sua aproximação máxima, estará a apenas 6,2 milhões de km da fotosfera (para efeito de visualização do nível de proximidade, nessa hora, entre ela e o Sol daria para colocar apenas uns quatro sóis enfileirados).
De forma curiosa, a coroa solar é ainda mais quente que sua superfície, atingindo temperatura de milhões de graus. Os cientistas ainda não sabem explicar direito o porquê, e a ideia é que a Parker Solar Probe ajude a descobrir o que rola.
Mas se a sonda não aguentaria os 5.500 graus da superfície do Sol, como pode encarar uma temperatura de milhões de graus na coroa solar? Tenha em mente a definição de temperatura: trata-se do grau de agitação das partículas. Na coroa solar, as partículas estão se movendo extremamente rápido -ou seja, a temperatura é alta-, mas a quantidade de partículas por volume é bem pequena. É o que torna a missão possível.
“Mesmo na órbita mais próxima do Sol a densidade de partículas por metro cúbico é cerca de um centésimo da do melhor vácuo obtido em laboratórios aqui na Terra”, explica Caius Lucius Selhorst, pesquisador da Universidade Cruzeiro do Sul (Unicsul) e especialista em física solar não envolvido com o projeto.
O maior desafio na verdade é lidar com a radiação luminosa -as partículas de luz do Sol chegam em maior quantidade quanto mais perto se está dele. Esses fótons, por sua vez, excitam materiais que encontram pela frente, agitando-os (e aí a sonda esquenta).
Para contornar o problema, a Parker Solar Probe conta com um escudo térmico de 12 cm de espuma de compósito de carbono ensanduichados entre duas folhas de fibra de carbono.
Todos os equipamentos, salvo a pontinha dos painéis solares e antenas, ficam atrás do escudo, onde a temperatura é mantida a confortáveis 29 °C. Na frente do escudo, onde a luz solar incide diretamente, a temperatura deve chegar a 1.371 °C. Mas ele aguenta.
O nome da sonda é uma homenagem ao astrofísico solar americano Eugene Parker, que na década de 1950 fez grandes avanços teóricos na compreensão do vento solar -a torrente de partículas ionizadas lançadas pelo Sol ao espaço.
Entendendo o sol
Os cientistas já têm uma compreensão razoável do que leva ao surgimento de estrelas como o Sol e de como elas “funcionam”, gerando energia por meio da fusão nuclear que acontece em seu interior.
Muitos detalhes, contudo, ainda pedem explicações mais sofisticadas. Isso inclui os padrões vistos nos ciclos de máximo e mínimos de atividade (que variam para cada estrela e, no caso do Sol, acontecem a cada 11 anos) e suas variações, e também nos fenômenos que acontecem na coroa para gerar o vento solar.
E o interesse pelo fenômeno vai muito além da curiosidade acadêmica. A interação do vento solar com o campo magnético terrestre é de alta relevância para nosso mundo tecnológico. Tempestades solares intensas podem danificar satélites em órbita e mesmo afetar redes elétricas em solo.
Daí a importância de saber prever esses fenômenos, e não há como fazer isso sem compreendê-los. Diversas espaçonaves foram lançadas nas últimas décadas para estudar o Sol, como a SoHO e o SDO, mas nenhuma com esse foco de visitar a coroa solar e tomar dados no local em que os fenômenos nascem. Em suas aproximações do Sol, a Parker Solar Probe estará no centro da ação.
“Creio que os dados obtidos serão fundamentais para ajudarmos a entender melhor os processos de formação do vento solar e das partículas energéticas que podem causar grandes distúrbios na nossa magnetosfera”, diz Selhorst.
Além dos dados inéditos, a espaçonave baterá diversos recordes. Em suas aproximações do Sol, puxada pela gravidade solar, ela chegará a 700 mil km/h -velocidade cerca de 30 vezes maior que a da Estação Espacial Internacional.
Nada disso virá de graça, claro. O projeto já está sendo desenvolvido há oito anos, com um gasto total de US$ 1,5 bilhão. Jornadas épicas custam caro. Mas, ao que parece, Ícaro finalmente será vingado.
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