Referendo está previsto para acontecer neste domingo (1º)

A pretende realizar, neste domingo (1º), um referendo pela independência dessa região autônoma da Espanha. O governo regional afirma que “está tudo pronto” para a realização do referendo nas mais de 2 mil seções eleitorais, e os organizadores dizem que 60 mil pessoas já se inscreveram. No entanto, o governo espanhol considera o referendo ilegal, reivindicando que a Constituição declara que o país é indivisível, e diz que ele não irá ocorrer. 5,3 milhões de cidadãos estão convocados a votar.

Nesta sexta, o chefe da polícia da Catalunha ordenou que os policiais desalojem sem violência todos os centros de votação no domingo às 6h (horário local). Alguns colégios eleitorais foram ocupados por defensores do referendo para impedir que os locais fossem fechados, como foi solicitado pela juíza que investiga o governo regional por desobediência, desfalque e prevaricação.

O governo espanhol também confiscou cédulas e materiais de propaganda eleitoral, ordenou o bloqueio dos sites oficiais com informações sobre a votação, e deteve membros importantes do governo regional na organização do referendo, que foram colocados em liberdade condicional. Para o domingo, enviou à região 10 mil policiais como reforço para impedir as pessoas de votarem.

O organismo criado para supervisionar o sufrágio foi dissolvido quando seus membros receberam multas diárias de 12.000 euros por desobedecer ao Tribunal Constitucional, e o departamento governamental encarregado de contar os votos foi revistado na semana anterior pela polícia.

Sentimento separatista

Os separatistas são maioria no Parlamento catalão desde 2015, mas as pesquisas indicam que a sociedade catalã está muito dividida. A última pesquisa feita pelo governo catalão, em junho, mostrou que 49% eram contra a independência e 41% a favor.

No referendo de 2014, que também foi declarado inconstitucional por Madri, quase 1,9 milhão (80%) de catalães votaram pela independência, embora a participação tenha sido de 37%.

O embate entre autoridades da Catalunha e do governo central da Espanha em torno do referendo independentista desperta a curiosidade sobre o movimento separatista na região e suas motivações.

O sentimento separatista surge de uma soma de diversos fatores, entre eles históricos, culturais e econômicos.
Veja a seguir 3 fatos para entender o movimento separatista da região:

1.Território perdeu governo próprio e foi integrado à Espanha na guerra de sucessão.

Assim como outras regiões da Espanha, a Catalunha foi incorporada a um reino da Península Ibérica por meio de um casamento. Na Idade Média, com a expulsão do domínio árabe, passou a fazer parte do Reino de Aragão, depois que o Rei Ramiro II de Leão casou sua filha Petronila com o conde de Barcelona, Ramón Berenguer.

Três séculos depois, os reis católicos Fernando e Isabel estreitaram a união entre as coroas de Castela e Aragão, da qual a Catalunha dependia, firmando os pilares da coroa espanhola e do nascimento do Estado espanhol.

Foi em 1714, na guerra de sucessão pelo trono da Espanha, que estava vago por falta de herdeiros, que Barcelona sucumbe após um longo cerco às tropas franco-espanholas e a Catalunha perde suas instituições e leis próprias. A data deste episódio, 11 de setembro, é celebrada desde então como o Dia da Catalunha.

2.Catalães têm identidade cultural e língua próprias, além de sentimento de nação.

As instituições de autogoverno foram recuperadas em 1931, com a proclamação da Segunda República Espanhola. Então foi aprovado um Estatuto de autonomia, e o idioma catalão ganhou status oficial ao lado do castelhano.

Durante a ditadura de Francisco Franco, o uso público do catalão, assim como outras línguas, foi proibido e o poder ficou centralizado. Mas em 1979, já na democracia, um novo estatuto de autonomia voltou a instituir o catalão como língua oficial e permitiu à região assumir competências em educação, saúde, política linguística e cultura, além de criar uma polícia própria.

Assim como sua língua, os catalães são conhecidos por promover e preservar suas tradições culturais, marcando sua diferença com o resto da Espanha. Um exemplo é a proibição das touradas, aprovada em 2010, em um referendo.

O sentimento de nação foi expresso em 2006 com a aprovação de um novo estatuto que deu mais autonomia à região e definia a Catalunha como uma nação. O estatuto foi aprovado pela Justiça espanhola, mas foi levado pelo Partido Popular, do chefe de governo Mariano Rajoy, ao Tribunal Constitucional, que anulou a categoria de “nação” à região. Segundo análise do jornal “El País”, a partir dessa decisão só aumentou a escalada do embate entre nacionalistas catalães e o governo central.Catalunha tem referendo pela independência neste domingo; entenda o movimento separatista

3.A Catalunha é uma das regiões mais ricas da Espanha e sofre com déficit orçamentário.

A Catalunha representava 19% do PIB espanhol em 2016, competindo com Madri (18,9%) pelo posto de região mais rica do país. Em PIB per capita, está em quarto lugar (28.600 euros frente a uma média de 24.000 nacional), atrás de Madri, País Basco e Navarra. A região é líder em exportações, indústria, pesquisa e turismo, apesar de uma dívida elevada — de 75,4 bilhões de euros no fim de março.

Um dos argumentos pela separação defendidos pelos independentistas é o déficit orçamentário. A Catalunha entrega mais dinheiro ao governo central do que recebe. O executivo catalão estima esse déficit em cerca de 16 bilhões de euros (8% do PIB regional), e o Estado, com outra metodologia, em 10 bilhões (5% do PIB regional).

O sentimento separatista aumentou durante a crise econômica de 2010, que elevou o nível de desemprego na região e em todo o país.