Página agrega histórias de abusos sofridos por empregadas domésticas e viraliza

‘Eu Empregada Doméstica’ está com quase 60 mil curtidas

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‘Eu Empregada Doméstica’ está com quase 60 mil curtidas

 

Página agrega histórias de abusos sofridos por empregadas domésticas e viralizaAs histórias são chocantes, mas algumas aconteceram há pouco tempo e ainda são o cotidiano de muitas mulheres brasileiras que atuam como empregadas domésticas. A página do Facebook “Eu Empregada Doméstica” tem quase 60 mil curtidas em pouco mais de 48 horas, e apresenta histórias enviadas por usuárias e internautas, sobre abusos sofridos por mulheres trabalhadoras do lar. Alguns relatos mostram a faceta de uma realidade ainda dolorosa: como a mulher pobre, principalmente a pobre e negra, ainda é tratada por nossa sociedade. 

No Dia Internacional do Trabalhador Doméstico, comemorado nesta sexta-feira (22), essa discussão fica ainda mais profunda. “‘Joyce, você foi contratada para cozinhar para a minha família, e não para você. Por favor, traga marmita e um par de talheres e, se possível, coma antes de nós na mesa da cozinha; não é por nada; só para a gente manter a ordem da casa’”, disse uma patroa à criadora da página, a paulista Joyce Fernandes, de 31 anos. A frase absurda foi ouvida em 2009. Hoje professora de História, ela decidiu criar a hashtag #EuEmpregadaDoméstica e uma página homônima no Facebook para denunciar o que chamou de “abusos dos patrões”.

“Meu objetivo é provocar e dar voz a quem não tem voz. Esse tipo de tratamento desumano acontece entre quatro paredes e essas mulheres, a maioria negras, não têm com quem desabafar”, conta ela em entrevista à BBC Brasil. “Quero expor o que está sendo varrido debaixo do tapete. É preciso humanizar a relação entre patrões e empregados. Muitas vezes, naturalizamos agressões e opressões. Isso está errado”, acrescentou.

Outras histórias estarrecedoras permeiam a página. “Eu cuidava de uma criança de 3 anos e fiz brócolis pro jantar dele, acho que ficou muito cozido porque desmanchou, então a patroa falou: ‘Meu filho não vai comer isso, pensa que ele tá acostumado às suas lavagens? Comer pão com ovo?’”, disse uma internauta. “Minha mãe trabalhou de empregada doméstica por meia vida dela. Em uma das casas que ela trabalhava, ela não podia comer na mesa, nem a mesma comida e nem sequer dentro de casa. Ela comia a comida com ovo e comia sentada no degrau da porta, pois não podia ser dentro da casa”, relatou outra colaboradora.

Realidade x ficção

 

Cena do filme 'Histórias Cruzadas' / Foto: Divulgação

 

 

Na página, as imagens muitas vezes mostram cenas do filme “Histórias Cruzadas”, com as atrizes Emma Stone e Viola Davis, que conta a história de diversas babás, faxineiras e empregadas em plena luta por direitos dos negros nos Estados Unidos nos anos de 1950, quando as babás cuidavam de milhares de crianças brancas sem ter direito a coisas básicas, como usar o banheiro dentro de casa, salários dignos e tratamento de respeito. O racismo é um dos temas do filme, além de falar sobre como desumanizamos as pessoas que cuidam de nossos filhos. 

Já o filme “Que Horas Ela Volta?”, da cineasta brasileira Anna Muylaert, que foi o indicado pelo Brasil para entrar na corrida do Oscar em 2015, é um retrato mais fiel e totalmente condizente com a nossa realidade brasileira. O longa tem a empregada Val (Regina Casé) como protagonista, morando no quarto dos fundos de ricos patrões paulistas. Ela cuidou a vida inteira de Fabinho, filho da patroa, e mal conhece sua própria filha Jéssica, que ficou em sua terra para que ela pudesse trabalhar. Quando Jéssica decide prestar o mesmo vestibular que Fabinho, em São Paulo, o abismo social que é imposto pelos patrões de Val fica totalmente evidente. 

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