É passar pela porta do Centro Comunitário do bairro José Abrão, em Campo Grande, que a vontade de cair no samba parece involuntária. Só que as ‘tocadas', como chamam os músicos, representam muito mais do que diversão para comunidade. Na mais recente, realizada nesse domingo (10), foi feita uma homenagem ao profissional que deixou um legado de alegria, amor pelo próximo e humildade. E ele tem nome estampado no projeto: Leandro Lagranha.

“Conheci o Leandro no ano 2000. Desde então, nos tornamos grandes amigos, ainda quando ele morava no José Abrão e eu no bairro Santo Antônio. Eu tinha ingressado na escola de samba, como músico profissional e percebi que, com a presença dele, as coisas começaram a fluir e isso fortaleceu mais ainda a nossa amizade”, afirmou ao MidiaMAIS o também músico, Joel, conhecido como Juninho ‘canhoto', de 40 anos.

Segundo Juninho, no ano de 2018, a escola de samba já era vista de outra maneira pela comunidade, não só pelas ações sociais mas também pela qualidade do samba. “Nossa situação foi melhorando e lembro que o Leandro falava que estávamos bem, que tínhamos o que comer ao menos e poderíamos ajudar outras pessoas. E ele ajudava também com palavras. No meu caso, ele me incentivou e não me deixou parar quando eu pensei nisso, deu um upgrade na minha carreira mesmo”, argumentou.

Amiga tanto de Leandro como da família dele, a vendedora Viviane da Trindade Milani, de 42 anos, fala que conviveu por ao menos duas décadas com o músico e acompanhou a trajetória profissional dele. “O Leandro sempre foi do samba e das tocadas. Antes, eram realizadas na praça do bairro e aí ele começou a arrecadação de alimentos. A gente entregava no e acompanhamos estas famílias até no Cidade de Deus. Nesta terça-feira (12) está fazendo um ano do falecimento dele e eu nunca mais tinha pisado em um samba. Tudo isso aqui é em homenagem a ele”, disse.

Presidente da escola de samba e músico falam dos trabalhos sociais feitos por Leandro. Foto: Marcos Ermínio/Jornal Midiamax

O presidente da escola de samba Cinderela, Diogo Correa, de 38 anos, fala que Leandro foi um “braço” muito importante e que, infelizmente, nos deixou por conta da covid. “Ele é a pessoa quem ajudou a nos colocar em evidência, uma pessoa participava desde a limpeza até a entrega dos alimentos. Todo domingo temos samba pela escola e, uma vez ao ano, teremos esta homenagem a ele com arrecadação de roupas de frio e materiais de higiene para doação”, ressaltou.

O também músico, Gideão Dias, de 39 anos, o qualificou como um “soldado do bem” e uma pessoa sempre disponível. “É uma pessoa que tirava dinheiro do bolso se possível, que tinha um vínculo com a comunidade. Ele ia no lixão e depois no Cidade de Deus sempre ajudar e, acredito que aqui em Campo Grande, nos tornou a única escola de samba que faz este tipo de trabalho voluntário. Tinha vezes que, até por uber ele mandava as coisas para ajudar”, falou.

Família reunida na primeira homenagem feita na escola de samba. Foto: Marcos Ermínio/Jornal Midiamax

Tio de Leandro, André Pereira, de 37 anos, fala que o músico gostava de “lapidar talentos” e o incentivou quando ele pensou em desistir de ser percussionista, atividade que exercia nas horas vagas. Da mesma forma, a madrinha, Jussara Guarini, de 54 anos, fala que Leandro era um menino espetacular e que só trazia alegrias para toda família.

A esposa de Leandro, Josiane Pereira de Oliveira, de 31 anos, fala que deixou a tristeza de lado, neste fim de semana, para continuar os projetos sociais que ficaram desassistidos. “Todos nós achamos justo fazer e eu fui deixando a tristeza de lado por um tempo. E também estou ao lado dos nossos filhos, de 13 e 14 anos, é um conforto”, explicou.

Juliana diz que Leandro deixou um legado para todos que o conheciam. Foto: Marcos Ermínio/Jornal Midiamax

A funcionária pública Juliana de Paula Santos, de 33 anos, é comadre de Josiane e esposa de Juninho, o melhor amigo de Leandro. “Ele sempre perguntava quando a gente ia ter o nosso filho e, quando eu engravidei, ele foi uma das primeiras pessoas a saber. Quando ele ficou doente, nós o levamos no e meu marido não esquece o gesto que ele fez no carro, na hora da despedida. Ele entendia a gravidade. Até hoje penso que ele está em outro patamar, que não morreu. É uma pessoa que nos deixou um legado, de ajudar o próximo sem pedir nada em troca”, finalizou.

Veja mais imagens do projeto Leandro Lagranha:

Foto: Marcos Ermínio/Jornal Midiamax
Foto: Marcos Ermínio/Jornal Midiamax
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