Quer provar algo diferente? Carne de avestruz é produzida em MS, sem hormônios e dá até um ‘hamburgão’ delicioso
Campo Grande e São Gabriel do Oeste são sedes de um frigorífico e criatório de avestruzes, que abate cerca de 3,5 mil animais ao ano.
Graziela Rezende –
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Um dos maiores desafios de quem trabalha ou quer trabalhar com comida saudável é transformar o alimento em algo saboroso. É por isso que inventaram coxinha e quibe ‘fit’, hambúrguer diet e por aí vai. E comida, “comida de verdade” mesmo, são poucas opções. Pior ainda quando a pessoa está na dieta e não aguenta nem olhar para frango, ovo e batata doce. Por acaso, tem outra opção?
Tem sim, e bem mais perto do que se imagina. Campo Grande e São Gabriel do Oeste são sedes de um frigorífico e criatório de avestruzes, respectivamente. Ao todo, o estado abate 3,5 mil animais ao ano, produzindo filé, iscas, medalhão, pescoço e até carne moída, além da última novidade para quem não dispensa um lanche no final do dia: hambúrguer de avestruz.
Quem encontra o alimento, disponível nas prateleiras de um supermercado e hortifruti na capital sul-mato-grossense, por exemplo, vai encontrar uma carne “bem vermelhinha”, o qual fica até dificil identificar se tem ou não gordura. Segundo especialistas, este é um dos principais diferenciais
“A carne é totalmente diferente da carne bovina, em se tratando de aspectos nutricionais. Possui bem menos gordura que a carne de boi e por isso é leve. Tem também alta quantidade de ferro, chega a ter três vezes mais ferro que as carnes tradicionais e não é utilizado hormônios na sua criação, com baixo teor de resíduos para o corpo, então, é uma carne que a pessoa não se arrepende de consumir”, afirmou a nutricionista e empresária do ramo de comida saudável, Ana Paula Martone.
‘Preocupação com alimentos de alta qualidade nutricional é cada vez maior’
Atualmente, ainda conforme a nutricionista, é cada vez maior a preocupação em comer alimentos saudáveis, não somente pensando em saciar a fome, mas, também ingerindo algo de alta qualidade nutricional.
“A carne de avestruz é justamente uma opção por conta disso, por conter a gordura insaturada, diferente da gordura saturada, que está correlacionada ao aumento de doenças cardiovasculares. Se a pessoa, no caso, associar isso a uma baixa ingestão de fibras, então, é uma ótima opção para quem está querendo baixar o colesterol”, explicou Martone.
A estudante de nutrição, Kamila Santana Pereira, de 19 anos, também estuda as propriedades nutritivas do avestruz. Ela inclusive escolheu este tema para o TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) da faculdade e apresentou a carne, tanto para os 25 colegas da sala como professores, na disciplina de técnica dietética. “É uma carne maravilhosa, que tem mais ferrro e por isso é bem vermelhinha. Falamos muito sobre ela recentemente e fizemos estrogonfe, picadinho e o hambúrguer na grelha. Tudo agradou muito e falamos do ômega e até do óleo de avestruz”, comentou.
Chef trabalha com avestruz há 6 anos e diz que carne pode ser ingerida até crua
O chef Daniel Pereira Barbosa, proprietário da Hauss Gastronomia e que agora está no estado mineiro, trabalha com carne de avestruz há seis anos. “É uma carne de um animal pré-histórico, então, é livre de protozoários. E um dos pontos mais importantes é que é uma carne que se pode comer até crua. É a segunda carne mais magra do mundo, então, para quem está na dieta, não tem melhor. É suculenta, com baixo teor de gordura, então, quem quiser experimentar, vai ser algo semelhante com um filé bovino”, detalhou.
Ao manipular a carne, Daniel ressalta que é “extremamente magra e de coloração igual a da bovina, além da textura e sabor”, porém, não pode ser muito bem passada porque fica seca, principalmente pelo fato de não ter muita gordura. “O avestruz tem o filé longo, aberto e o filé leque, que é o posterior da coxa dele. E podemos fazer os mais diversos pratos com este animal, um deles é o tartar servido no tutano, o pescoço de avestruz com polenta, estrogonoff e medalhão, por exemplo”, comenta.
Só que o hambúrguer de avestruz, comprado pronto e temperado, não precisa de nada além de fogo e um “dedinho de azeite”. A pessoa então incrementa o lanche da forma que quiser ou achar mais saudável. Recente pesquisa da USP (Universidade de São Paulo) inclusive comparou os teores calóricos, de gordura, colesterol, proteínas e ferro contidos em cada 100 gramas das principais carnes consumidas no Brasil. E adivinha qual a mais saudável?
Espécie | Calórica | Gordura | Colesterol | Proteínas | Ferro |
Avestruz | 101 kcal | 1,8% | 36 mg | 19,0% | 3,2 mg |
Frango | 190 kcal | 7,4 % | 89 mg | 28,9% | 1,2 mg |
Suíno | 212 kcal | 9,7% | 86 mg | 29,3% | 1,1 mg |
Boi | 211 kcal | 9,3% | 86 mg | 29,9% | 3,0 mg |
Empresário trouxe avestruzes para MS e se tornou um dos maiores produtores do mundo
Para quem chegou a chorar na fazenda, na década de 90, sem saber o que fazer com os animais, o empresário Piveta Manoel Assunção, de 72 anos, pode dizer que construiu uma trajetória de muito sucesso. Foi no ano de 1995, quando ele esteve em Zimbábue, na África, que conheceu todo o processo de produção e retornou ao Brasil com 10 casais de avestruzes.
Paranaense, criado na roça, foi direto para o município de São Gabriel do Oeste, a 137 quilômetros de Campo Grande. Ao chegar, buscou inovar com a criação destes animais, mesclando com carneiros. Tempos depois, foi até a Capital para conhecer, estudar e tentar adaptar um frigorífico e lá iniciar o abate de avestruzes.
Avestruz de MS é distribuído para 19 estados da federação e até a China
Da década de 90 para cá, os clientes foram expandindo e “seo Piveta”, como é conhecido, gera cerca de 100 empregos e envia produtos para 19 estados da federação. O empresário diz estar em momento de expansão do negócio e buscar novos mercados, incluindo o exterior. Para a China, por exemplo, ele já exportava antes mesmo da chegada da pandemia.
“É uma atividade rural que começamos fazendo em pequenas áreas e, com muita peregrinação, se tornou um grande negócio. Quem conhece sabe o quanto a carne do avestruz é extremamente saudável, com metade do colesterol do frango. A gordura também é bem menor em comparação a carne bovina, do suíno e do frango também. Não foi fácil no início, só que eu insisti e hoje somos o maior criatório fora da África e um dos três maiores do mundo”, argumentou o empresário.
De acordo com Piveta, o processo envolve toda a cadeia produtiva: ovo – filhote – crescimento – seleção para reprodução – engorda e abate. “Tudo isso propoprciona uma carne melhor e ainda temos o curtimento do couro para a fabricação de bolsas e acessórios. Nós também vendemos a pluma para a região norte e nordeste do país, além de grandes centros como São Paulo e Rio de Janeiro. Os ossos também são encaminhados para Rio Grande do Sul e Minas Gerais, por exemplo, onde existem a fabricação de facas, vão diretamente para cutelaria”, explicou.
No entanto, nem sempre as coisas foram tão simples. Além de Piveta, outras centenas de produtores tentaram atuar no mesmo ramo em Mato Grosso do Sul, porém, desistiram. “Muita gente dizia que não tinha o que fazer com essa carne aqui. Mas, nós persistimos com uma carne extremamente segura e magra e vencemos, apesar dos momentos de extrema dificuldade”, avaliou.
Além do hambúrguer, que é a novidade mais recente da indústria, Piveta ressalta os benefícios do óleo de avestruz, o qual ele comercializa em cápsulas e carrega consigo diariamente, em um porta comprimidos que ele brinca dizendo ser o seu “potinho de ouro”.
Especialistas que estudaram os benefícios do óleo de avestruz são inúmeros, podendo ser utilizados para a cocção de alimentos. Em cápsulas, contém os ômegas 3, 6, 7 e 9. A pessoa também pode tomar cerca de três ao dia e constatar benefícios como melhora da aparência das unhas, pele e cabelos, além de melhorar o funcionamento do coração, do sistema autoimune e evitar doenças cardiovasculares.
Ou seja, os benefícios do avestruz são inúmeros. E você, já provou ou pensa e provar? Conte a experiência para o MidiaMAIS.
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