De espaços fechados para reforma a mudanças na pandemia, teatro de Campo Grande vive transformações
No Dia Mundial do Teatro, apenas um espaço de Campo Grande está ativo. Segundo especialistas, cidade vive momento de transformações
Nathália Rabelo –
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O Dia Mundial do Teatro é comemorado neste domingo, 27 de março. A data é destinada a homenagear uma das manifestações artísticas mais antigas da civilização humana, mas, nem por isso, livre de mudanças. Em Campo Grande, o segmento do teatro passa por grandes transformações. Enquanto a maioria dos espaços está fechada para reformas, trabalhadores do segmento estão correndo contra o tempo para conseguirem se reerguer após dois anos de pandemia.
É o que afirmou Vitor Samudio, produtor artístico e diretor teatral da Urgente Companhia, em Campo Grande. Há 20 anos na área, ele viveu algo até então nunca experimentado na pandemia, quando os eventos culturais ficaram basicamente inexistentes.
“A pandemia alterou muito as artes e a cultura de uma forma geral, especificamente o teatro de uma forma muito profunda porque o teatro funciona basicamente através das relações pessoais, do público. Então, quando veio o isolamento, o teatro sofreu um impacto muito profundo porque só existe quando existe público. Sem o público a gente viveu e ainda vive uma situação bem complicada”, disse ele ao MidiaMAIS.
Há dois anos sem público, ele afirma que a maior conquista é conseguir pessoas novamente. Para Samudio, é um processo de reconstrução que ainda vai demorar porque os profissionais foram afetados de formas diversas, especialmente estruturais.
“Os grupos, coletivos, companhias e trabalhadores do teatro vêm aí tentando se reerguer com as suas produções, trabalhos, espetáculos. E a gente entende que não vai ser um processo rápido, vai demorar um pouco. Então, todo o apoio é fundamental pra gente poder realmente fortalecer. E o teatro tem uma especificidade que é muito artesanal, diferente da música e cinema que as produções podem entrar pelas casas, pelas telas […] o teatro tem esse fazer que é milenar e a essência muito artesanal, é diretamente ligada às relações”.
Campo Grande precisa formar plateia
Nesse meio tempo, enquanto os profissionais tentam conquistar público e as pessoas voltam a sair tranquilamente, outro ponto é fundamental para Vitor Samudio: a criação de uma plateia fiel em Campo Grande. Diferente das grandes capitais, como São Paulo e Rio de Janeiro, os campo-grandenses ainda não inseriram o teatro na rota de lazer e conhecimento cultural.
“Diferentes dos grandes centros, onde as pessoas têm essa formação mais profunda e há um público maior em relação ao teatro, aqui em Campo Grande a gente percebe que ainda há um trabalho muito grande a se fazer de formação de plateia, desde cedo”, afirma Samudio.
O mesmo é observado por Andreia Escobar Freire, da produtora Marruá Arte Cultura, que atua há 30 anos com teatro, música, audiovisual, literatura e fotografia em Campo Grande. Segundo a especialista, a cidade está no processo de formação cultural.
“Essa tradição está em processo de formação ainda, de acostumar o público com o teatro. Mas isso vem acontecendo dos anos 80 para cá. O teatro tem se intensificado por conta de um olhar nacional que foi abrindo mais espaço para as atividades artísticas em geral”, diz Andreia ao Jornal Midiamax.
Porém, ela observa que a Capital vive um momento de fragilidade com a maioria dos espaços fechados.
E os teatros, como estão?
A maioria dos teatros está fechada para reformas em Campo Grande. Confira, abaixo, a situação de cada um na atualidade, especialmente o Teatro Aracy Balabanian, um dos principais do Estado de Mato Grosso do Sul e que prevê uma grande restauração neste ano de 2022.
- Teatro Aracy Balabanian
Segundo Claudia Lá Piccirelli, arquiteta da FCMS (Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul), as obras do Teatro Aracy Balabanian devem iniciar dentro de no máximo 30 dias. Fechado desde 2016, o espaço integra o Centro Cultural José Octávio Guizzo.
“A licitação da obra já foi realizada, mas estamos no prazo de recurso e logo mais teremos a empresa vencedora do certame”, afirmou a arquiteta.
A obra tem um prazo de 12 meses e custará em torno de 10 milhões de reais. Veja, abaixo, as imagens do projeto arquitetônico do local cedidas ao Jornal Midiamax:
- Teatro do Paço
O Teatro do Paço está fechado há 30 anos na Capital. Em 2021, a prefeitura anunciou a retomada da reforma. Questionada sobre o andamento, a assessoria informou que o projeto está em fase de elaboração do processo licitatório, que deve ser aberto ainda neste semestre.
- Teatro Prosa
O Teatro Prosa é do Sesc MS. Muito importante para a cultura local, o espaço também segue fechado em Campo Grande há três anos para reformas. Após processo de licitação, atualmente, o Teatro Prosa encontra-se em obras.
“Desde então, o Sesc MS tem fomentado a arte do teatro à população sul-mato-grossense produzindo espetáculos na unidade Sesc Cultura, além de projetos culturais como o Sesc no Bosque — em parceria com o Shopping Bosque dos Ipês — e ações populares em espaços públicos como o Domingo na 14 e o Sábado do Agito, em parceria com a SECTUR”, informou, em nota, a assessoria.
- Teatro Glauce Rocha
O Teatro Glauce Rocha integra o campus da UFMS. O espaço está ativado e, inclusive, recebendo espetáculos, como é o caso das apresentações de dança da Ginga Cia de Dança. A equipe de reportagem buscou a assessoria de imprensa da universidade para pegar mais detalhes sobre o funcionamento, mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem.
- Anfiteatros/Auditórios
É o caso do Teatro Dom Bosco, no colégio Dom Bosco, e do anfiteatro Manoel de Barros, no Centro de Convenções Arquiteto Rubens Gil de Camillo. Segundo especialistas, eles não levam a nomenclatura de ‘teatro’ por questões estruturais. Enquanto o Teatro Dom Bosco segue ativo, o Manoel de Barros está fechado desde o início de março de 2022.
Segundo a FundTur, o Centro passará por obras de restauro e a previsão é que fique fechado por um ano.
Com a maioria dos espaços fechados, onde o teatro de Campo Grande acontece?
Grupos teatrais – amor e resistência
Atualmente, os grupos e coletivos teatrais se apresentam na rua, em espaços públicos, nas escolas ou até mesmo na própria sede do espaço de ensaio. Ainda segundo Andreia, eles são resistência para continuar em contato com o público. Na falta de espaços abertos, são os grupos que sustentam o teatro em Campo Grande.
“Na ausência da casa de espetáculos tradicional, os grupos fazem em espaço alternativo, aonde eles montam a estrutura. E o que tem segurado o teatro em Campo Grande nos últimos anos — e não tem a ver com a pandemia — tem sido esses espaços dos grupos”, disse Andreia.
Questionada sobre a importância de incentivar as produções teatrais na cidade, a artista revela que é imprescindível políticas públicas para movimentar o segmento. “A gente sabe que uma cidade onde a arte é fomentada, onde a cultura interage com a cidade, é uma cidade que tem alma. E quando não tem isso, é como se não se reconhecesse”, conclui.
Para conhecer mais sobre o teatro
A série documental ‘Evoé’ foi produzida pela Marruá Arte e Cultura e está disponível gratuitamente. Para quem deseja conhecer sobre a história do Teatro em Campo Grande, o conteúdo está disponível abaixo.
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