Hoje é 8 de dezembro, dia da Santa do Caacupê

Basta se aproximar do final da Rua Doutor Ricardo Franco para começar a ver as bandeiras do Paraguai hasteadas em frente a uma casa simples, daquelas com varanda e uma árvore frondosa na calçada. A movimentação vista na manhã desta quinta-feira (8) começava antes do portão e as orações de cerca de 100 pessoas que rezavam uma missa na varanda de Dona Aurélia Gomes, paraguaia nascida em Pedro Juan Caballero, alcançavam os pedestres. Hoje é dia de Nossa Senhora do Caacupê ou Virgem do Caacupê, a padroeira do Paraguai, uma santa adorada também aqui, e por lá chega a ser feriado para celebração da Santa. Na Capital, as festividades na casa de D. Aurélia acontecem há 53 anos, segundo ela. 

Dona Aurélia não quis revelar sua idade, e afirma que a festa tem como objetivo celebrar essa santa, que, conforme explica, já realizou muitas graças para ela e sua família, que foi crescendo ao longo dos anos. “Hoje me sinto muito feliz em ver as crianças vestidas com os costumes paraguaios. Fico emocionada. Esse ano estava de cama, quebrei o braço, mas levantei para a missa e estou até caminhando”, acrescenta. Com o braço apoiado em um curativo, ela afirma que está orando para a Santa, para se curar logo e continuar realizando mais celebrações. 

Debaixo do toldo com as cores do Paraguai, concentrado em auxiliar sua tia, está o sobrinho Luciano Rios, que nos conduz para o interior da casa. Uma estátua de Nossa Senhora do Caacupê foi erguida bem no meio da casa, e é ao redor dela que a missa, celebrada por dois padres em dois idiomas, um padre direto do Paraguai, e um padre brasileiro, em uma mistura sonora de guarani e português, se desenrola debaixo do sol quente das 10 da manhã. Segundo Luciano, sua tia trouxe a devoção do Paraguai e ali na região do Planalto todo mundo conhece a celebração. “Depois servimos um almoço com galinhada, sopa paraguaia e chipa”, convida. Segundo os realizadores, as receitas de sopa e chipa são as originais, direto do Paraguai. 

Agradecer e pedir

Um grupo musical se encarrega de tocar os salmos e músicas em espanhol e português, com a harpa paraguaia sendo a protagonista entre os instrumentos. Homens, mulheres, idosos e crianças, todos se concentram, após determinado momento, em celebrar a fé pela padroeira paraguaia. Pedem por várias questões: paz mundial, cura de doenças, melhoria financeira, amor e paz. Aos poucos, vão se dirigindo para o almoço, preparado ao lado, com a estrutura da casa de Dona Aurélia. 

Parecem não se importar e algumas pessoas vieram de longe para agradecer as dádivas da Santa. É o caso da aposentada Helena Lopes, de 67 anos, que há dois anos vem na celebração. Segundo ela, sua neta de dois anos foi desenganada pelos médicos ao nascer e hoje está bem. “Eu vim rezar e agradecer pois pedi para a Santa para salvá-la. Hoje venho aqui somente para agradecer”, diz a devota. Segundo uma das colaboradoras de D. Aurélia na “arrumação” da festa, Nanci Benitez da Silva, a tradição da comemoração irá passar para as próximas gerações. “Minha mãe e minha vó ajudavam D. Aurélia, e hoje eu ajudo. Estou aqui há 50 edições, cresci aqui, isso é uma comunidade e para nós é muito importante agradecer à Santa e realizar o evento”, enaltece. 

Origem da Santa

Existem lendas e histórias sobre a origem da Virgem do Caacupê. É divulgado que por volta dos anos 1600, os índios Mbayaes perseguiam um índio de origem guarani, por serem de tribos inimigas e porque ele havia se convertido ao cristianismo. O índio guarani escondeu-se entre as folhagens de uma grande árvore, mas foi encurralado por seus oponentes. Diante dessa situação, pediu a proteção da Santíssima Virgem, prometendo, caso escapasse, esculpir uma imagem da Santa. Inexplicavelmente, viu-se livre.

Os perseguidores não o encontraram. Salvo e seguro, o índio, que era um exímio escultor, dedicou-se a cumprir sua promessa. Com a madeira daquela mesma árvore que lhe abrigou, esculpiu duas imagens da Imaculada: uma menor, para alimentar sua própria devoção, e outra maior, para uma igreja. Depois disso, a imagem maior desapareceu em um saque, mas a menor ainda é cultuada pelos paraguaios. Todos os anos, milhares de peregrinos marcham para a cidade, em visita à Basílica de Nossa Senhora de Caacupê.