Na base do mutirão, comunidade reforma centro e cria horta comunitária

Pelo menos 40 pessoas, indiretamente, se envolveram no projeto

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Pelo menos 40 pessoas, indiretamente, se envolveram no projeto

Eles cresceram, se conheceram e se casaram no Conjunto Residencial Octavio Pécora, em Campo Grande. As ruas do bairro compõem boa parte das memórias do casal e, por lá, não há quem não conheça a Cantina do João Wagner e da Rosália. Com o passar dos anos, eles viram o bairro se deteriorar e, em especial, o centro comunitário morrer.

“Estava tudo abandonado. O lixo tomava conta, as paredes estavam pichadas e quase não tinha mais telhas no telhado. Depois passou a ser ponto de uso de drogas e os crimes pequenos começaram a aumentar aqui na região. A gente via aquilo com tristeza mesmo”, explica José Wagner, 52 anos, agora presidente do bairro.

Há um ano, as coisas mudaram e a dupla decidiu topar o desafio. “Conversando com a Rosália, nós tivemos a ideia de começar esse desafio. Não fosse ela, não teríamos iniciado esse trabalho.” Mas começaram. E lá se vão mais de 12 meses de muitas transformações, a começar pelo centro comunitário.

Depois de quase perdê-lo por falta de manutenção, os moradores se aliaram ao casal nesta empreitada e o que se vê agora, em nada lembra o passado do prédio. As telhas foram reformadas, os vidros trocados e as paredes ganharam mais cores. No entanto, foi a horta comunitária que mais união trouxe à comunidade.

“A Rosália fazia um curso na época, e tinha que desenvolver um projeto de revitalização. Escolheu o centro comunitário e, com isso, trouxe um monte de parceiros que tornaram tudo isso possível”, diz João.

Um deles, é o professor Rodrigo Borghezan que conduziu o processo ao lado do casal. Com ele, vieram também os princípios da permacultura e a consciência de que muita coisa pode ser reaproveitada e transformada na natureza.

“Elaboramos um projeto de horta comunitária e de um parquinho com materiais reutilizados. O centro tinha outras necessidade, mas nosso trabalho era a horta e o parquinho. Com o tempo, abraçamos o projeto deles como um todo. E de uma disciplina, a ação se tornou amizade, coisa de família”, diz o professor que já levou a família e os amigos para participar. Cerca de 40 pessoas, indiretamente, participam do projeto.

Aos domingos o grupo se reúne para um “mutirão” no local. O trabalho é duro, mas a diversão é maior ainda. Na composteira, que recebe restos orgânicos da lanchonete do casal e das casas de moradores, eles produzem o adubo que deve colaborar para tornar o solo pobre dá região em terra produtiva.Na base do mutirão, comunidade reforma centro e cria horta comunitária

No meio do vai e vem dos carros no prolongamento da Avenida Ernesto Geisel, que passa ao lado, a horta deve se tornar um reduto verde. São várias espécies já plantadas e muita coisa por crescer. O trabalho ainda é inicial, mas quem fica alguns minutos por lá, já percebe a presença de borboletas e outros insetos. “quando ressurge a flora, vem também a fauna”.

Durante a semana, os cuidados não cessam e é preciso haver revesamento nas tarefas. O artista plástico Luciano Alonso, é um dos que participam. Ele se desloca do Conjunto Aero Rancho ao Conjunto Residencial Octavio Pécora, pelo menos duas vezes por semana. O modo como chegou ao projeto também é bem interessante.

Na base do mutirão, comunidade reforma centro e cria horta comunitáriaHorta urbana sempre foi um assunto de interesse para ele. Mas era difícil encontrar pessoas interessadas no mesmo tema. “Fizemos um grupo no Facebook para falar sobre hortas e conheci o projeto deles e perguntei se não poderia participar. Isso foi há quatro meses, desde então, Luciano não se afastou mais do projeto.

“Não moro no bairro. Mas é um projeto que me interessa muito e participar é bem importante porque acho que a sociedade não precisa ficar esperando o poder público propor soluções e medidas. Nós todos podemos atuar e transformar”, diz Luciano que já tentou implantar projetos como este no Bairro em que vive, mas não obteve sucesso. “É preciso haver envolvimento da comunidade, senão, não adianta”, diz enquanto molha das plantas.

Para arcar com os custos da reforma, que já superou R$ 20 mil, a comunidade realiza almoços, feijoadas e outros eventos. No entanto, pelo menos 80% do valor saiu dos cofres de Rosália e José Wagner.

“As pessoas perguntam, questionam o fato de termos nos envolvido tanto nisso aqui. Mas é amor, sabe? Não teria como deixar isso tudo acabar, não se importar. É a história de tanta gente, tantas memórias. Vale muito a pena”, diz José Wagner que pretende concluir a reforma em outubro.

 

 

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