Dos cinemas para o teatro, espetáculo Joelma fica em cartaz na cidade até domingo

Espetáculo retrata personagem para além do rótulo de uma das primeiras transexuais do Brasil

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Espetáculo retrata personagem para além do rótulo de uma das primeiras transexuais do Brasil

Joelma é uma figura mítica do submundo ao qual travestis e transexuais (e todas as pessoas que fogem das normas sociais) são empurradas desde que o mundo é mundo. No interior da Bahia, na cidade de Ipiaú, ela transgrediu o sistema e assumiu-se mulher numa época de discriminação ainda mais agressiva, ignorando a atribuição de gênero que lhe foi imposta ao nascer. Em São Paulo, Joelma se reinventou, até fez a cirurgia de redesignação sexual. Casou-se. Voltou à cidade em que morava, tal qual a Tieta de Jorge Amado. Joelma, a figura mítica, hoje com 71 anos, inspira-nos a resistir e a sobreviver.

Sob a forma de teatro, a história de Joelma está em cartaz em Campo Grande, no teatro Aracy Balabanian. Derivada do curta-metragem homônimo, de autoria do cineasta Edson Bastos e com interpretação do ator Fábio Vidal, o espetáculo fica em cartaz a preços populares até domingo (22). Na última quinta-feira (19), a montagem foi direcionada a estudantes e contou com bate-papo no final. Mas, a partir desta sexta-feira (20), todos podem contemplar a narrativa teatral. E emocionar-se com ela.

“Sou de Ipiaú, mesma cidade de Joelma. Sou formado em cinema e meu trabalho é pegar esses personagens da minha cidade e levar para o cinema. Isso teve início em 2006, quando iniciei a roteirização para cinema. Em 2008, nós nos inscrevemos em um edital de cultura LGBT do Estado da Bahia e finalmente, em 2011, lançamos ‘Joelma’, o curta-metragem. E vencemos o prêmio de melhor curta escolhido pelo público do Festival Mix Brasil”, revela o diretor.

 

 

 

 

Montagem e intervenções

A adaptação do curta-metragem para os palcos, no entanto, veio da necessidade de dar a profundidade ao personagem que o filme não permitiu. E foi assim que, em 2013, a dupla desenvolveu o espetáculo homônimo, recriado especialmente para o espaço cênico e que fosse mais justo com a riqueza de detalhes que enobrecem o lado mítico de Joelma. “Este é meu 6° espetáculo solo. Antes de desenvolver a versão, eu já notava assuntos e motes em que eu gostaria de dar um aprofundamento e de trazer para a linguagem cênica. Assim fizemos e já no primeiro edital em que inscrevemos a adaptação, fomos contemplados”, destaca o ator Fábio Vidal.

No espetáculo, a interação com o público é um dos recursos que o curta-metragem não permitia. Após o espetáculo, é comum haver debates entre os presentes, que discutem o preconceito e a discriminação. “Somos felizes nesse nosso objetivo de aproximar o público desse tema a partir da aproximação com a própria Joelma. O interesse da gente de combater o preconceito e a discriminação, vem da intenção das pessoas saírem daqui com um outro pensamento, percebendo Joelma não apenas como uma transexual, uma travesti, mas como uma pessoa qualquer que tem momentos de alegria e de tristeza”.

 

A peça também traz muitas reações instantâneas na plateia, seja ela qual for. A propósito, uma das performances para além do palco traz a personagem pedalando pela cidade, em uma Monark brisa, vestida toda de branco e com uma maquiagem de gueixa. “Acabamos de fazer essa cena em pelas ruas de Cuiabá e eu nunca senti um olhar tão negativo vindo das pessoas. Um olhar de ‘morra’. E no teatro, também já tivemos muitas reações diferentes. Pessoas saíram, ausentaram-se da plateia, pois se sentiram ofendidas. Por outro lado, também temos relatos de pessoas muito emocionadas como tratamento que damos a esse assunto, com a naturalidade que tratamos dele. E principalmente, por não criar um um bicho de sete cabeças com esses dados”, explica Fábio.

Para diretor e ator, um dos aspectos mais ricos da personagem se materializa na forma em que ela se apresenta à plateia, como uma figura muito altiva, com certa majestade. E assim, também deixa transparecer a influencia de cultura religiosa. “Ela tem uma fala mística, como uma espécie de bruxa. Ela olha pra você dizendo: ‘Você tá com mal olhado, você precisa tomar banho de água africana. Tome cuidado com esse pessoal que fica de abraço e risinho com você. Peça ajuda de seu anjo da guarda’, destaca o diretor.

De Joelma para Joelma

A montagem chegou a ser apresentada para a Joelma original, hoje com 71 anos. E o resultado impressionou Fábio e Edson. “Fizemos uma apresentação para ela e foi uma das melhores que fizemos. O público participou muito e teve até uma cena em que ela cutucou a amiga e disse: ‘Viu que é verdade?’, então foi muito bacana ver a validação dela”, conclui Edson.

Espetáculo fica em cartaz até domingo (22) (Alessandra Nohvais/Divulgação)

 

Serviço –  Espetáculo Joelma. Nesta sexta (20), sábado (21) e domingo (22), no Teatro Aracy Balabanian (rua 26 de agosto, 453 – Centro), sempre às 20h. Os ingressos custam R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia), à venda na Livraria Le Parole (rua Euclides da Cunha, 1126 – Jd. dos Estados) ou na bilheteria do teatro, uma hora antes do início do espetáculo.

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