Em favela onde metade são crianças, volta do frio é pesadelo em Campo Grande
Chuva que antecedeu queda na temperatura molhou os poucos casacos e cobertores de famílias do Mandela
Lethycia Anjos, Thalya Godoy –
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O clima muda e de um dia para outro as temperaturas despencam em Campo Grande. Apesar de muito aguardado por uns, nas regiões mais vulneráveis da cidade, famílias de baixa renda veem a chegada do frio com medo e insegurança.
Na comunidade do Mandela, localizada no bairro Coronel Antonino, 184 famílias vivem em situação de extrema vulnerabilidade social. Do total de 500 pessoas que moram nos barracos improvisados por madeiras e lona, quase a metade (200) são crianças. No frio sobram frestas e falta aquecimento.
No barraco onde mora Juciara Rodrigues, 42, sete pessoas dividem dois colchões que foram encontrados em uma estação de reciclagem. Com a chegada da chuva, o pouco que tinha se perdeu. A água invadiu a casa e molhou a lenha usada para se aquecer, os colchões e os cobertores da família.
Há quatro meses atrás Juciara vivia em uma casa alugada no bairro Mata do Jacinto, até que o desemprego bateu na porta e a única alternativa foi se mudar para a comunidade. No barraco, já moravam o filho, a nora e os três netos de Juciara, de 2, 3 e sete anos.
“Precisamos de tudo, fogão, botijão, geladeira, colchão. A chuva molhou o que tínhamos e agora não sei o que vou fazer quando o frio chegar, vou ter que usar uma lona por cima para dormir”.
Na casa de Juciara, só o marido trabalha e recebe uma diária de R$ 70,00. Com as crianças de férias, ela e a nora se dividem entre o cuidado com os pequenos e trabalhos freelancer para complementar a renda.
Enquanto os filhos brincam em meio ao barro, Ketlen Nayara de Jesus, 22, relata a preocupação com o teto do barraco onde mora que a qualquer momento pode desabar e deixar a família sem moradia.
“A parede está desabando, arruma um lado e cai do outro. Esses dias coloquei uma lona para tapar uma parte que abriu mas chove e começa tudo outra vez. O frio aqui é muito intenso”, conta.
Mãe de um bebê de cinco meses e três crianças de 8, 5 e 3 anos de idade, Ketlen é mãe solo e sem rede de apoio precisou escolher entre trabalhar e cuidar dos filhos.
Para ela, a única alternativa seria deixar os filhos na escola, contudo, há meses ela aguarda sem sucesso, por uma vaga na rede pública de Campo Grande. Enquanto espera, Ketlen sobrevive de pequenos ‘bicos’ como diarista e dos R$ 950,00 que recebe pelo Bolsa Família.
“As vezes consigo deixar eles com minha mãe e faço umas diárias, em outras pago uma babá, mas nesses casos metade do dinheiro vai para pagar a babá, aí não sobra quase nada”, relata.
No barraco em que Ketlen mora, a mãe e as quatro crianças se dividem em duas camas de solteiro quebradas. Sem geladeira, é impossível comprar alimentos básicos que precisem de refrigeração como leite e carne.
Cercada por árvores, moradores da comunidade relatam que nos dias de frio o local chega a registrar uma sensação térmica ainda mais baixa que na maior parte da cidade.
Jessica Tomiati, 28, é mãe de quatro crianças de 2,6, 9 e 11 anos. Uma das crianças possui bronquiolite, infecção dos bronquíolos que afeta o sistema respiratório e ocorre com mais frequência em bebês.
Com o frio a situação se agrava e a mãe precisa se dedicar exclusivamente ao cuidado com a filha. O marido de Jessica trabalha como pintor, mas no período de chuva não consegue serviço o que compromete toda a renda da família.
“Com esse tempo de chuva meu marido não consegue serviço. As crianças estão de férias, por isso tenho que cuidar delas e não posso trabalhar”, explica.
Desempregada há dois meses, Jessica conta com o auxílio de R$ 950,00 do Bolsa Família para complementar a renda da família.
“Ajuda mas não resolve, com esse frio precisamos de cama de casal, cobertor, qualquer doação é bem vinda”, ressalta.
Lucilene Alves, 33, é mãe de duas crianças de 6 e 10 anos e um bebê de 10 meses. Uma das crianças também é portadora de bronquiolite e necessita de cuidados especiais.
“Como aqui é tudo aberto, entra muito vento. No frio é muito difícil ficar aqui e a doença do meu filho piora”, relata.
Assim como grande parte das mães da comunidade do Mandela, Lucilene é mãe solo e sobrevive com R$ 600 que recebe do Bolsa Família. Segundo ela, o litro de leite é vendido a R$ 8,00 no comércio mais próximo, o que dificulta ainda mais a segurança alimentar da família.
Geada de 3°C
Dados do Cemtec (Centro de Monitoramento do Tempo e do Clima) indicam que depois da passagem da frente fria as temperaturas baixas serão acentuadas, principalmente no sul, de 7°C a 9°C e máxima de 23°C, a partir de quinta-feira (13). Nas regiões norte e nordeste, são esperadas mínimas entre 13 e 16°C e máximas podem atingir os 28°C.
Na região oeste do Estado, as temperaturas mínimas ficam entre 12 e 16°C e máximas podem chegar até os 27°C. Em Campo Grande, mínima de 12°C e máxima de até 24°C. Os ventos atuam do quadrante sul com valores de 30 a 50 km/h e localmente podem atingir valores acima de 50 km/h.
As menores temperaturas devem ocorrer na sexta-feira (14) e no sábado (15), com valores entre 5 e 8°C, principalmente na região sul de Mato Grosso do Sul. “Contudo, pode-se esperar valores de temperatura mínima ainda mais baixa, entre 3 e 5°C. Em Campo Grande a temperatura mínima deverá ficar próxima aos 6 e 8°C”, destaca a previsão do Cemtec.
Serviço:
Interessados em ajudar os moradores da Comunidade do Mandela podem entrar em contato pelos telefones: (67) 99346-7696 (Gracielly) e (67) 99205-6047 (Marcia).
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