Disfunção erétil e orgasmo: quais são os pesadelos dos campo-grandenses na hora do sexo?

Neste Dia do Sexo, o Midiamax ouviu especialistas para entender quais são as disfunções sexuais mais comuns que levam a população ao consultório médico

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Tabu de falar sobre sexo pode prolongar sofrimento. (Mohamed Chermiti, Pixabay)

Disfunção erétil, orgasmo, dores e até ansiedade: o que atormenta os campo-grandenses na hora da relação sexual? O Midiamax ouviu ginecologista, urologista e uma sexóloga para entender as causas mais comuns que levam o campo-grandense a procurar um médico. O Dia do Sexo é comemorado nesta quarta-feira (6).

Uma pesquisa da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) sobre o perfil sexual da população brasileira, realizada nos anos 2000, já apontava que o “pesadelo” sexual mais comum para o homem era a disfunção erétil, ou seja, quando não consegue manter a ereção por um tempo satisfatório, enquanto para as mulheres era a dificuldade de chegar ao orgasmo. 

Vinte anos depois, o panorama para os campo-grandenses não mudou, de acordo com o perfil dos pacientes nos consultórios médicos. 

Segundo a ginecologista e obstetra Maria Auxiliadora Budib a disfunção do orgasmo é a mais frequente para as mulheres, seguida pela dispareunia (dor no ato sexual) e a disfunção do desejo sexual.

Ela explica que esse “perfil sexual” está ligado ao histórico patriarcal e machista de Mato Grosso do Sul, como exemplo os registros de feminicídio. “Muitos problemas sexuais estão enlaçados em relações tóxicas. Comumente quem vive em uma relação abusiva manifesta dores na sexualidade”, explica a ginecologista.

Ligado a isso, a médica aponta que há os ciclos da vida, como a adolescência, que traz ansiedade pela performance e alcance da liberdade. A mulher no ciclo gravídico e no puerpério convive com inúmeras manifestações hormonais que podem alterar o desejo, a excitação e o orgasmo. 

Durante o climatério, fase em que a mulher passa do período reprodutivo para o não reprodutivo, a redução do estrogênio traz dor, ressecamento e isso reforça a evitação sexual. Assim, o ciclo de dor, evitação e dor leva a mulher a distúrbios e prazer sexual fica comprometido. 

Contudo, a ginecologista coloca a violência sexual imposta por parceiros como os casos mais dolorosos de se tratar. 

“Várias situações me marcaram e me marcam como mulher que cuida de mulheres. A violência velada nas relações que violam do corpo ao espírito. As mulheres que se calam uma vida. Outras que convivem com fantasmas impostos por parceiros cruéis, que falam sobre vaginas ‘largas’, sobre os corpos femininos como objetos de seu consumo. As mulheres que vivem estas relações chegam atrasadas em sua autoestima”, ela lamenta. 

O que atormenta os homens?

Sabemos que você, leitor, quando lê a palavra “machismo” ou “patriarcado” quer torcer o nariz e colocar tudo que envolve o assunto no saco do “mi-mi-mi”. 

Contudo, pense em todas as vezes que deixou de ir ao urologista para cuidar da própria saúde. Em muitos casos, foi empurrado pela esposa, mãe, filha, alguma mulher que se preocupa e sabe que o assunto é sério. 

O que te impediu de ir ao médico senão a vergonha de contar a outro homem um problema íntimo?

O médico urologista Flávio Faria afirma que culturalmente o homem é resistente em ir ao médico devido a uma visão machista. Em muitos casos eles têm dificuldades em reportar o que sentem e qual é o problema. 

“É também uma questão de cultura familiar. A mulher sempre vê a mãe indo ao ginecologista e o homem culturalmente está preocupado com o trabalho e deixa a saúde e família de lado”, ele aponta. 

Ele reafirma que muitos campo-grandenses só procuram o médico porque outra pessoa marcou a consulta. “Os homens procuram mais o médico, seja por causa do desconforto da disfunção sexual que traga na vida ou incentivado pelo parceiro, ou parceira, porque isso acaba afetando os dois”, observa o médico.

Já o que leva o homem campo-grandense com mais frequência aos consultórios é a disfunção erétil, seguido pela ejaculação precoce e perda de líbido. Flávio pontua que já trabalhou em São Paulo e diz que por lá o perfil não é muito diferente. 

“Essa é uma questão até interessante. Quando se fala de disfunção erétil pensa-se em um público idoso, mas o público jovem também tem espaço com causas diferentes a fatores psicogênicos, estresse, ansiedade e uso de medicação. Entre os idosos é mais uma questão cardiovascular, como hipertensão, diabetes, AVC e infarto”, conta o médico.  

O urologista pontua que a investigação de disfunção sexual pode ser marcador de problemas cardiovasculares, como a obstrução de artérias penianas. Nesses casos, precisam ser investigadas as causas cardiogênicas. 

O urologista Thiago Frainer relata que os casos que mais chocam os médicos são relacionados ao câncer porque eles estão intimamente relacionados a higiene. “Aquele paciente que protela a procura ao médico, o tratamento em geral é a amputação peniana e isso prejudica totalmente a vida sexual do paciente e do seu parceiro e parceira”, ele explica.

Ele aponta que um dos principais pontos que fazem protelar a ida ao médico é o medo pelo exame de toque de próstata. “Acaba protelando a procura ao médico, mesmo para fazer a prevenção a saúde do homem, mas aos poucos essa realidade tem mudado com a busca de informação e quebra desse preconceito”, aponta Thiago.

Outro tormento dos homens é a ejaculação precoce, ou seja, com tempo insatisfatório. O médico Flávio explica que antigamente o tempo de latência ejaculatória (desde a penetração até a ejaculação) era de 3 a 5 minutos. 

Porém, esse tempo foi alterado na medicina e agora entende-se que precisa durar por período que seja satisfatório para a pessoa e o parceiro. Assim, não há nada de errado caso esse tempo seja menor ou maior, desde que seja bom para os dois. 

O que atrapalha a sexualidade?

A psicóloga e sexóloga Karina Brum, de 43 anos, afirma que, no consultório, as disfunções sexuais comuns que chegam ao consultório são a disfunção erétil e baixa libido. A causa mais comum para homens e mulheres são o estresse e a autocobrança. 

Além disso, as pessoas ainda sentem vergonha de conversar sobre o sexo em casa, mas que as pessoas se sentem mais confortáveis de tratar sobre isso no consultório do terapeuta. 

“É um assunto muito difícil de se abordar dentro de casa. Acredito que seja porque os pais não foram educados para naturalizar a educação sexual dentro de seu círculo familiar”, aponta. 

A ginecologista Maria Auxiliadora aponta as redes sociais, para o caso das mulheres, como um ponto positivo e negativo sobre a sexualidade. Por um lado, as mídias sociais trouxeram a desmistificação do orgasmo, a popularização dos brinquedos sexuais e a experiência de se ter prazer reconhecendo seu próprio corpo. 

Porém, do outro lado há histórias de “contos de fadas”, corpos sarados irreais e a venda de um universo perfeito, o que não existe. 

Alguns remédios podem atrapalhar vida sexual. Imagem Ilustrativa. (Freepik)

“Precisamos também reconhecer que as redes abrem agendas necessárias e as informações trafegam em ambos os sentidos. Sempre aprendemos. Não há só um lado bom ou um lado ruim”, ela explica. 

A profissional também aponta que amigos e familiares devem ser uma rede de proteção, crescimento e não para julgamentos. “A cobrança familiar pela perfeição, pelos relacionamentos encantados é algo que a sociedade precisa prestar mais atenção”, ela alerta.

Ainda no universo das mídias sociais, a sexóloga Karina Brum aponta que essas ferramentas foram criadas para aproximar pessoas, mas o que se observa é um afastamento dos afetos humanos, especialmente quando se fala em infertilidade. 

“Ainda existe a crença de que o homem nunca seria infértil. E em nossa atualidade, os casais decidem ser pais mais velhos. Existe uma cobrança social por ‘darem netos’. E isso atormenta homens e mulheres que estão numa geração de alta oferta de informações e estímulos”, ela aponta. 

Entre os tabus sobre sexo, ela aponta a prevenção contra as ISTs (Infecções sexualmente transmissíveis) como uma das que menos são discutidas. 

“O foco sempre fica em torno da doença quando instalada. Ainda em 2023, o uso de preservativos é considerado ruim, desconfortável. E nesses casos, não devíamos pensar em ‘desconforto’, mas sim, em saúde”, ela alerta. 

Já entre os homens, há inúmeros pontos que podem atrapalhar a sexualidade, como excesso de pornografia e de masturbação. 

Uma pesquisa do International Sex Survey, feita entre 2021 e 2022, apontou que os brasileiros assistiram pornografia de 2 a vezes na semana no último ano. Os dados também indicaram que quase 100% já se masturbaram pelo menos uma vez na vida. 

“São questões que têm que ser vistas com naturalidade, mas sem excesso, que não traga comprometimento sexual. Existem algumas medicações que afetam o desempenho, como o uso de testosterona. Temos a facilidade de compra da testosterona pela questão de proximidade com o Paraguai”, aponta o urologista Flávio Faria. 

A testosterona está dentro do grupo dos esteroides e anabolizantes e o médico diz que muitos homens usam esses medicamentos devido à academia e influência de amigos. “A gente vê a longo prazo os prejuízos, como os casos de infertilidade”, esclarece. 

Como ajudar a própria sexualidade?

Os especialistas apontam a prevenção em primeiro lugar para melhorar a sexualidade, como o uso adequado de preservativos para evitar ISTs. Algumas festas durante o ano ganham reforço nas campanhas, mas é importante lembrar que há “dates” todos os dias.

A ida ao médico para um check-up e conversar sobre o assunto também podem ajudar. “A orientação profissional e informação são sempre a melhor prescrição. Falar sobre a sexualidade e tudo que está em seu entorno é requisito fundamental para quem está cuidando da saúde da mulher. Durante a pandemia, com maior tempo em casa, muitos casais tornaram-se mais íntimos e outros afastaram-se. Isso no pós-pandemia trouxe a demanda reprimida e houve aumento de procura”, explica a ginecologista Maria Auxiliadora.

A dica é reforçada pela psicóloga Karina Brum, que tem homens como a maioria dos pacientes, que procuram tratamento após terem passado por vários médicos e constatado estarem com o “corpo” saudável. 

“Um ‘exercício’ emocional muito indicado é procurar informação com profissional adequado. Psicólogos e sexólogos atendem de forma a aconselhar e educar. O espaço terapêutico é seguro e acolhedor. E nesse contexto, o ‘exercício emocional’ seria pensar em se dar mais valor, em se acolher e se proteger de infecções que não se ‘vê’ a olho nu”, ela aconselha. 

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