Como fica o desenvolvimento cognitivo, corporal e intelectual da ‘geração galinha pintadinha’?
Chamada muitas vezes de “geração da galinha pintadinha”, estas crianças podem ter distúrbios no sono e apresentar problemas cognitivos, dentre outros.
Graziela Rezende –
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“…brincadeira de criança, como é bom, como é bom, guardo ainda na lembrança…”. A música, lançada pelo Grupo Molejo, em 1997, resume bem o que a molecada fazia na época: esconde-esconde, pega-pega e salada mista são apenas algumas das brincadeiras que a atual geração desconhece ou pouco pratica. Na era tecnológica, o que vale é o celular na mão para assistir desenhos, jogos e até mesmo simular brincadeiras que poderiam ser feitas pessoalmente. Mas e o desenvolvimento cognitivo, corporal e intelectual, como fica?
Chamada muitas vezes de “geração da galinha pintadinha”, estas crianças, devido ao uso excessivo de telas, o que inclui também a televisão, podem ter distúrbios no sono e apresentar problemas cognitivos, como irritabilidade, ansiedade, transtornos alimentares e de imagem corporal, dentre outros.
E a constatação não ocorre somente por parte de especialistas, mas sim por pais e responsáveis, que se dividem entre entregar ou não o aparelho na mão dos pequenos. É o caso do salgadeiro Francisco Carlos Tomaz, de 41 anos, que afirma deixar a filha Gabriele com o celular desde os 3 meses de idade, mesmo sabendo de alguns riscos.
“Ela está com seis anos agora, mas, desde os 3 meses, 4 meses, assiste desenhos. Agora está na fase de ver coreografias. Tem vezes que nem deixo o carregador por perto para colocar limite. Só que é complicado, é algo que ela gosta desde novinha e eu deixo”, argumentou Francisco.
Conforme o pai, as brincadeiras de hoje são realmente muito diferentes do que ele fazia e, em muitos casos, fazem falta. “Fico preocupado com a questão do desenvolvimento, só que nós saímos pouco também. Vejo que, ou está no celular ou está estudando. É bem complicado mesmo”, opinou.
Crianças que assistem pouca televisão tem comportamento diferente, avalia babá
A Graciele da Silva Santos, de 35 anos, diz que atua como babá há 12 anos e cuida desde crianças que ficam no celular, em excesso, até aquelas que são proibidas de tocar no aparelho. A equipe a encontrou no momento em que buscava na escola um menino de 5 anos.
“Ele, no caso, não tem celular e só assiste televisão em horários programados, mas, tem que ir lá e desligar porque senão ele não desliga e fica horas e horas se deixar. E atendo outras casas, em que o comportamento é totalmente diferente. A criança chega a ter dificuldades para dormir. Fica agitada, nervosa, qualquer coisa está chorando, de tanto usar o celular”, avaliou a babá.
Ainda conforme Graciele, as crianças também deixam de falar porque estão, o tempo todo, concentradas no desenho. “O celular também atrasa essa fala e isso são especialistas que dizem. Só que eu vejo na prática, vejo elas quietas ali o tempo todo. Nem mexem a boca. E em outras casas, em que os pais não deixam, tem pequenos que falam até demais, falam sem parar”, brinca.
Criança só cresce com experiências, ressalta neuropediatra
A neuropediatra Maria José Martins Maldonado também compartilha do mesmo pensamento. “Tem crescido muito o contato com a tecnologia. Os bebês já ficam na televisão, Ipads e celular ao invés de brincar. E não é só o número excessivo em contato com as telas que preocupa, mas, o que estas crianças estão deixando de fazer”, diz.
Segundo Maldonado, a criança só cresce com as experiências. “Falando de forma mais técnica, as sinapses só crescem mediante experiências. Outra preocupação é o aumento dos casos de TEA [Transtorno Espectro Autista], doença pela qual a criança tem muita dificuldade social e quanto mais se isola, mais sozinha fica, mais difícil é. É algo ruim também porque fortalece, modifica e cria um comportamento”, explicou.
Por fim, a especialista ressalta que existem vários casos comportamentais ruins decorrentes de horas e horas na tela. “Acaba ou diminui o convívio social e contato com as pessoas, lembrando que crescemos e desenvolvemos com as experiências e isso não se faz somente assistindo vídeos”, finalizou.
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