Em bairro onde estudante morreu em festa, sobra tempo livre e faltam opções de lazer

Até aonde vai a vontade de de uma criança brincar ou o desejo de jovens terem um espaço para se divertirem, sem que festas regadas a bebidas alcoólicas sejam a única saída? Essa dúvida certamente paira entre vários pré-adolescentes que procuram por divertimento, amizades ou até brincadeiras que durariam tardes no Universitário, na região sul […]

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Praça é a única opção de lazer das crianças e jovens do Universitário. (Foto: Minamar Júnior
Praça é a única opção de lazer das crianças e jovens do Universitário. (Foto: Minamar Júnior

Até aonde vai a vontade de de uma criança brincar ou o desejo de jovens terem um espaço para se divertirem, sem que festas regadas a bebidas alcoólicas sejam a única saída? Essa dúvida certamente paira entre vários pré-adolescentes que procuram por divertimento, amizades ou até brincadeiras que durariam tardes no Universitário, na região sul de Campo Grande.

O bairro é grande, desenvolvido, mas escasso de parques, praças e lugares apropriados para que as crianças e adolescentes possam crescer sem ter que ver o “show de horrores”, como foi o caso da jovem Luana Farias, de 20 anos e morta por engano durante uma festa com bebidas, menores de idade e nenhuma fiscalização em um salão da associação de moradores.

O retrato do descaso é acompanhado pelas declarações da dona Maria Madalena, de 54 anos. Ela conta que mora há 16 anos na região e vê que a situação chegou a esse ponto porque “as pessoas não se interessam” por melhorias.

Em bairro onde estudante morreu em festa, sobra tempo livre e faltam opções de lazer
Dona Maria lamenta que sua filha não possa ter um parquinho para brincar. (Foto: Minamar Júnior, Midiamax)

“O bairro não oferece quase nada, o que tem é a escola com as festas, tanto que tem a festa de Halloween ainda. Tem uma praça só, mas ficamos com medo de ir até lá por ser perigoso e eu morar um pouco longe”, diz a dona de casa. Acompanhada da filha de 11 anos, a criança ainda “sonha em ter um parquinho, um balanço e uma praça” para poder se divertir.

Essa praça citada pela dona Maria fica localizada na rua Enzo Cianteli, próximo à Avenida Guaicurus. A “pracinha” dispõe de dois campos – um para futebol de quadra e outro de futebol de campo, e apenas um parquinho para as crianças com balanço, escorregador. Entretanto, as condições são deploráveis e cada vez mais assustadora.

Cerca de 30 crianças brincam nos finais de semana na praça que fica no bairro, mas sempre acompanhadas dos pais que vira e mexe levam elas para tomar um açaí no estabelecimento que fica atrás do campinho. Porém, existe uma espécie de ‘hora limite’ que as crianças sempre respeitam que vai até às 17h, porque após esse horário, a região começa a ficar perigosa.

“Nessa época de calor não dá para brincar. Então fica difícil e ainda tem um certo limite de horário. Faz falta um lugar para elas se divertirem”, diz a proprietária do estabelecimento, Carina Oliveira, de 31 anos e mãe de dois filhos.

Em bairro onde estudante morreu em festa, sobra tempo livre e faltam opções de lazer
Carina e sua filha desfrutam um pouco da praça que é aproveitada até certo horário. (Foto: Minamar Júnior, Midiamax)

A dona do estabelecimento ainda resgata para a reportagem que entre os finais de semana, ela e seu marido alugam um pula-pula para que as crianças “se sintam melhor” e possam se divertir, mas acredita que isso ainda não é o suficiente. “O celular acaba virando a única alternativa sem algum lugar para elas”.

O senhor Valdivino Ângelo, de 74 anos mora há muitos anos na região e lamenta a falta de opção para as crianças, que segundo ele, são muitas no bairro. Na espera da sua neta, o aposentado instiga que falta bastante coisa no bairro em questões de lazer e locais públicos para diversão.

“Não tem nada, meu filho quando era mais jovem e adolescente, tinha a rotina de ir para a escola e voltar, porque aqui não tem nenhuma área de lazer”, disse com olhar entristecido.

Em bairro onde estudante morreu em festa, sobra tempo livre e faltam opções de lazer
O parquinho e os dois campinhos são a única salvação para quem ainda busca divertimento no Universitário. (Foto: Minamar Júnior, Midiamax)

Briga

A morte de Luana Farias aconteceu durante a madrugada do último domingo (3) em uma festa, após uma confusão generalizada que iniciou com agressões por ciúmes e terminou com garrafadas para todo o lado no salão da associação dos moradores do bairro Universitário, região sul de Campo Grande.

Nesta terça-feira (5), um adolescente de 15 anos foi ouvido na 4º Delegacia de Polícia Civil, onde contou que estava no local acompanhado de uma menina da mesma idade. Só que na festa também estava o ex-namorado dela, que tem 18 anos. O caso será investigado depois das oitivas pela Deaji (Delegacia Especializada de Atendimento à Infância e Juventude).

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Cacos de vidros decorrentes da briga generalizada ainda podem ser vistos em frente ao local da festa. (Foto: Minamar Júnior, Midiamax)

Esse rapaz teria ficado com ciúmes e agredido com socos om garoto e seus amigos. O adolescente ainda disse que após as agressões foi embora do local, sendo que em seguida teria começado a briga generalizada com garrafadas. O rapaz de 18 anos ainda será ouvido, assim como, o organizador da festa e o dono do estabelecimento onde aconteceu o evento.

Luana apresentava cortes do lado esquerdo do pescoço, rosto e braço. Ela foi socorrida pelo namorado e encaminhada a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) localizada na avenida Guaicurus, onde deu entrada por volta das 2h29. Os médicos tentaram reanimá-la, mas a jovem não resistiu aos ferimentos e faleceu às 2h50.

De acordo com as informações, Luana foi a festa para comemorar uma promoção no trabalho e se programava para continuar faculdade de Direito, que havia trancado por problemas financeiros.

Festa sem lei

Como noticiado desde a morte de Luana, a festa estava regada a bebidas alcoólicas, frequentada por menores de idade e sem nenhuma fiscalização. Imagens do local logo após a festa, mostram diversas garrafas de vodca, energético e cerveja. Tudo era vendido no local, para maiores e menores de idade. O conhecido ‘combo’ era vendido e consumido livremente.

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