Esse 2021 tem sido um ano difícil demais para o mercado de veículos, principalmente no que tem a ver com o setor de unidades 0km. Olhando para os valores dos últimos meses, vê-se que a comercialização continuou fraca em outubro indicando que o fim do ano não ia ser fácil. No acumulado dos dez primeiros meses o crescimento foi de 9,5% se comparado com o mesmo período de 2020.

 

De acordo com a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), novembro já registrou um crescimento de vendas de 6,5% ante o mês anterior, com 173 mil unidades 0km vendidas no penúltimo mês do ano contra 162,3 em outubro (incluindo automóveis, veículos comerciais leves, caminhões e ônibus). Ainda assim, as estatísticas são as piores registradas para esse período do ano desde 2005 e significam uma queda de 23,1% no comparativo com novembro de 2020. No mesmo sentido, a Associação estimou, nas suas projeções, que o ano irá encerrar com uma queda de -1% ou um crescimento fraco de até 3%.

 

O fato é que o leve crescimento nas vendas de carros novos pouco tem a ver com a demanda da população por este tipo de meio de transporte -é só ler sobre a quantidade de recordes que bateu a venda de usados em 2021-, e sim com as restrições de ofertas disponíveis no mercado. Em outubro, por exemplo, o estoque de 0km foi apenas de 17 dias, bem abaixo da média histórica e representando menos da metade dos valores que seriam considerados normais naquela época, devido a que as concessionárias costumam receber mais unidades para assim compensar as férias de fim de ano. No que atinge a produção acumulada até novembro, o crescimento com relação aos 11 meses do ano passado foi de 12,9%.

 

A principal causa da falta de oferta

 

Obviamente a pandemia é, indiretamente, um dos motivos da falta de estoque de carros novos, tanto no mercado nacional como internacionalmente. Mas a causa direta tem a ver com a chamada “crise dos chips” que está colocando um freio nas linhas de produção das automotrizes. Para entender a importância desta crise é necessário saber que existem umas peças bem pequenas, os semicondutores, responsáveis pela maioria das funções elétricas dos automóveis: da gestão do motor ao travamento central das portas. Eles não são visíveis para os motoristas, mas, em média,  um carro pode precisar de até 1.400 unidades deste produto para a sua fabricação e montagem.

 

Mas a pergunta é, por que há falta de estoque destes pequenos aparelhos? A resposta pode ser achada no começo da pandemia, em 2020, quando em pleno mundial a paralisação das montadoras e concessionárias geraram uma consequente queda nas vendas e, portanto, uma drástica diminuição nos pedidos de fornecimento destes componentes eletrônicos. Do outro lado, numa época em que a maioria das atividades viraram para a sua versão virtual, seja por trabalho, estudo ou lazer, foi acrescentada a demanda de aparelhos eletrônicos de consumo como tablets, smartphones, computadores, videogames, impressoras, televisores, etc.

 

Nesse contexto, a resposta da indústria dos chips foi mais do que lógica e segundo as regras do mercado: a produção e venda se focou naqueles setores que garantiram os maiores pedidos. Só que tempo depois, já no último trimestre de 2020, com o começo da recuperação do setor automotivo, os fabricantes acrescentaram o pedido de chips, mas tiveram que ficar no último da fila. Ou seja, atualmente existem dois setores com alta demanda de componentes eletrônicos e poucos fornecedores que, por enquanto, não estão conseguindo remediar a situação e satisfazer o volume solicitado. Como explicou o gerente de contas-chave de uma das gigantes mundiais de componentes automotivos, (EMEA) da ZF, Alessandro Vitali, “se antes demorava seis meses para conseguir um microchip, hoje os prazos dobraram”.

 

As projecoes para 2022

 

Como a maioria dos analistas identificaram, essa escassez mundial dos chips acabou sendo bem mais grave do que o estimado no final de 2020, quando foram apresentadas as estimativas para 2021. De acordo com a consultoria internacional BCG, por causa da falta de estoque, entre 10 e 12 milhões de unidades deixaram de ser produzidas este ano. Lamentavelmente, 2022 também não é prometedor: os analistas projetam uma perda de cinco milhões de veículos na produção mundial, só voltando à normalidade em 2023.

 

No relativo aos preços, a falta de unidades obviamente fez com que o valor dos carros subisse drasticamente, ultrapassando amplamente o percentual de inflação que encerra o ano por cima de 10% ao ano. Atualmente podemos dizer que nao existem opções “econômicas” na hora de escolher um veículo, e até as alternativas populares passam dos 100.000 reais. Isto também tem a ver, não apenas com a dolarização do preço dos carros e a inflação, mas também com as regras de fabricação do Brasil que obriga a incorporar em todos os modelos itens e a adequação às normas de emissões, aspectos que acabam por acrescentar os custos de produção.

 

Para este ano novo, a Anfavea não apresenta projeções de queda dos preços dos carros, pelo menos até meados de 2022. O dólar em alta é um dos responsáveis por manter o valor dos veículos, pois ele se reflete na importação das peças e insumos necessários na montagem, o que finalmente deixa os modelos produzidos no nosso país mais caros. 

 

O fenômeno não apenas acrescenta o valor final do carro para o consumidor, mas provoca outras consequências. Em primeiro lugar, isso vai fazer com que o preço do seguro da maioria dos modelos registre incrementos, pois as apólices estão diretamente ligadas ao valor de mercado da unidade segurada (principalmente pelo risco de ter que indenizar em caso de roubo ou de ter que suportar o custo de peças para reparação por exemplo). Nesse sentido, já foi anunciado que o IPVA (Imposto sobre Propriedades de Veículos Automotores) deve ficar mais caro acompanhando a valorização. Por outra parte, um dos setores mais influenciados continuará sendo o mercado de seminovos e usados que, perante a alta de preços e longos prazos de entrega dos 0km, provavelmente irá registrar crescimento na demanda dos consumidores. 

 

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