Fabricantes pagaram estudo que afirma que cigarros eletrônicos são seguros

Artigo redigido por especialistas diz que pesquisa foi fundamentada em ‘base extraordinariamente frágil’

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Artigo redigido por especialistas diz que pesquisa foi fundamentada em ‘base extraordinariamente frágil’

Um estudo que foi citado por autoridades britânicas de saúde como comprovação de que usar cigarros eletrônicos é seguro foi financiado pelos próprios fabricantes desses dispositivos.

Na semana passada, o Public Health England (PHE, na sigla em inglês), entidade de saúde pública da Inglaterra, divulgou um relatório que encorajava os oito milhões de fumantes do país a trocarem seus cigarros convencionais pelos eletrônicos. O documento afirmava que a versão tecnológica é 20 vezes menos prejudicial do que a tradicional, alegando que usar o vaporizador é 95% mais seguro do que fumar tabaco.

No entanto, especialistas de saúde alertaram, em um artigo publicado nesta sexta-feira na respeitada revista médica “The Lancet”, que o relatório baseou-se em um estudo de 2014 conduzido por cientistas financiados por empresas de cigarro eletrônico.

Segundo os médicos, o PHE fundamentou uma “grande conclusão” em uma “base extraordinariamente frágil”. A junta acusou a agência de falhar em cumprir sua missão de proteger a saúde pública. O artigo do “The Lancet” revelou que três dos 11 autores do estudo são financiados pela indústria do e-cigarette. Os editores da revista “European Addiction Research”, que publicou a pesquisa, chegaram a incluir um aviso ao lado do texto dizendo que havia um “potencial conflito de interesses” no estudo. Mas o PHE não fez o mesmo alerta quando apresentou as conclusões a jornalistas, em uma reunião em Londres, na semana passada.

Na polêmica pesquisa, o PHE estimou que, se todos os fumantes na Grã-Bretanha trocassem seus cigarros convencionais para os vaporizadores, cerca de 75 mil vidas poderiam ser salvas por ano. O órgão pediu para que os dispositivos sejam prescritos para os pacientes no Serviço NHS (Nacional de Saúde do Reino Unido) que desejam parar de fumar, uma vez regulado. Até agora, nenhuma marca de cigarro eletrônico foi licenciada pela agência reguladora de medicamentos e produtos de saúde (MHRA) ou pelo Nice (Instituto Nacional para Saúde e Cuidados).

Por outro lado, vários estudos atestam que os aromas usados nesses cigarros podem causar problemas respiratórios e danificar o sistema imunológico. Uma pesquisa publicada nesta terça-feira pela Universidade do Sul da Califórnia ainda sugeriu que esses atrativos poderiam incentivar os jovens a começarem a fumar. Em agosto de 2014, a OMS (Organização Mundial de Saúde) disse que a utilização desses dispositivos deveria ser proibida em ambientes fechados, já que eles podem ser tão tóxicos para os fumantes passivos quanto os cigarros normais.

O relatório da OMS também afirmou que os fabricantes devem ser impedidos de anunciar seus produtos como métodos para abandono do tabagismo até que as empresas forneçam evidências científicas que apoiem a afirmação. Um novo documento, emitido em outubro, atestou que a maioria dos produtos não tinham sido testados cientificamente e advertiu que a nicotina presente nos aparelhos pode contribuir para doenças cardiovasculares, neurodegeneração e crescimento de tumores. Concluiu-se que os e-cigarettes representam ameaças particularmente graves para os adolescentes.

 

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