Brasil tem queda no número de transplantes de órgãos em 2015

Número de doadores notificados caiu 1,4% e o de doadores efetivos, 0,8%

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Foto: Arquivo Midiamax
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Número de doadores notificados caiu 1,4% e o de doadores efetivos, 0,8%

O número de transplantes de órgãos caiu neste começo do ano no Brasil. A espera de quem precisa de um coração, de um rim, está cada vez maior por causa da recusa das famílias em autorizar a doação. Principalmente, porque a família não fica sabendo do desejo do parente de doar os órgãos e salvar vidas.

O Brasil é referência mundial em transplantes, só fica atrás dos Estados Unidos, mas com esta queda na doação não vai ser atingida a meta de transplantes para este ano. No primeiro trimestre, 43% das famílias abordadas pelas equipes dos hospitais não autorizaram a doação. O número de doadores notificados caiu 1,4% e o de doadores efetivos, 0,8%.

Por causa disso, a meta para este ano foi revista. Antes era de 17 doadores por milhão de habitantes. Agora passou de: 15 a 15,5 doadores por milhão de habitantes.

Por órgãos as doações também caíram: rins de 7,6%; fígado: 0,7%; coração 1% e pâncreas: 24%, queda significativa. O único transplante que teve crescimento foi o de pulmão com 19%.

Há um mês e meio, a vida da Laura mudou completamente. O diagnóstico de uma doença grave no coração levou a menina de 8 anos e o pai para uma casa de acolhimento em São Paulo. Eles moram com outros pacientes de várias partes do Brasil, todos à espera de um transplante.

Laura só volta para o interior quando conseguir um coração novo, e pode ser a qualquer momento. “Fé em Deus que vai dar tudo certo, que a gente está aqui por esse coração dela que, com certeza, ele vai chegar logo”, afirma André Luiz Rodrigues.

O Brasil é o segundo país do mundo com o maior número de transplantes, só fica atrás dos Estados Unidos. Se a gente contar as cirurgias pelo sistema público, somos líderes mundiais. No ano passado, foram quase 21 mil cirurgias – 30% delas, de rins.

O Hospital do Rim, em São Paulo, faz 800 transplantes por ano. A espera do Moacir da Silva Carleto durou três anos e terminou esta semana. “Eu estava em casa dormindo e o celular tocou, atendi e foi aquela correria. Chegou aqui, fiz alguns exames e foi tudo muito rápido”, lembra o mecânico.

O exemplo para a vida longa está em casa. Há nove anos, o pai do Moacir passou pelo mesmo transplante. “A gente vai trabalhar muito junto ainda”, conta o também mecânico Francisco Carleto.

Apesar de todo o trabalho dos hospitais e do esforço dos profissionais, o número de doações no país vem caindo. E a principal causa é a recusa de muitas famílias que deixam de autorizar a doação de órgãos sem saber que com esse gesto é possível salvar a vida de várias pessoas.

Depois de constatada a morte cerebral, é possível aproveitar os dois rins, os dois pulmões, o fígado, o pâncreas e o coração, além de tecidos como a córnea. Ou seja, a doação de uma pessoa pode ajudar sete.

“Nós recomendamos sempre: se você quer se doador de órgãos após a morte, avise a sua família. A sua família vai entender isso como seu último desejo e vai autorizar a doação. Independente de estar escrito ou não, só de ter falado uma vez a família respeita esse desejo”, ressalta José Medina, do Conselho da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos.

Com a redução das doações, a meta brasileira para 2015, de chegar a 17 doadores por milhão de habitantes, não será atingida.

Mas a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos acredita que a média nacional pode dobrar nos próximos anos. Para isso, precisa de mais sintonia entre as equipes, desde a conversa com as famílias até o transporte dos órgãos.

“É angustiante, tanto tempo na fila e uma fila que não tem fim. Estou nessa espera há 13 anos e nunca vem”, afirma o aposentado Antônio Macedo.

Laura Rodrigues não quer esperar tanto. “Eu peço assim: ‘Papai do céu, quero que chegue meu coração para eu ir embora’”, diz a menina.

A Associação Brasileira de Transplante de Órgãos vai começar uma campanha com as famílias de pacientes e com os médicos.

Esse esforço de conscientizar as famílias já está sendo feito em Santa Catarina e com sucesso. O número de doações de órgãos aumentou 19% no ano passado.

Santa Catarina tem o sistema de transplantes mais organizado do país. As equipes são treinadas para identificar possíveis doadores, fazer o diagnóstico da morte encefálica e também das famílias desses possíveis doadores.

Além disso, tem um grande investimento em logística e no apoio aos hospitais que prestam um atendimento mais humanizado a essas famílias

Em Santa Catarina, a procura por doadores é algo extremamente profissional que recebe investimentos da secretaria estadual de Saúde. O que justifica essa média de 34 doadores a cada milhão de habitantes enquanto no resto do país a média cai para 14.

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