Os vereadores de dizem ser favoráveis à internação de forma compulsória de dependentes químicos. Com o aumento das ‘minicracolândias' que se espalham pelos bairros da Capital, os parlamentares pedem mais participação do Poder Público e agilidade em projetos eficientes para combater as consequências sociais acarretadas pelo avanço do narcotráfico doméstico.

Na última semana, uma de 10 anos foi atropelada por um ônibus após se assustar e fugir de uma briga envolvendo dois usuários de drogas. O fato gerou polêmica entre os vereadores, já que o número de bocas de fumo tem aumentado com o crescimento da cidade.

Para não perder o controle, os vereadores da Capital dizem que são favoráveis à internação compulsória, que diferente da voluntária, não depende da decisão da pessoa ou de envolvidos.

Através de uma decisão judicial, um considera a periculosidade do dependente químico à sociedade. Assim, de acordo com o risco, ele é obrigado a fazer tratamento, mas para isso acontecer, é necessário laudo médico constando a saúde física e mental do usuário.

Jornal Midiamax publica série de reportagens sobre ‘minicracolândias' em Campo Grande e a disseminação de bocas de fumo pelos bairros da cidade, bem como as implicações sociais que esse tipo de atividade criminosa causa. Leia as outras reportagens da série: 

“Narcotráfico doméstico avança e ‘minicracolândias' se espalham por bairros de Campo Grande”.

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Valdir Gomes (PSB), explica que alguns usuários não aceitam o tratamento de forma voluntária. O vereador também ressalta a importância de o Poder Público prestar apoio aos dependentes que estão passando por tratamento.

“Sou a favor que eles sejam recolhidos contra a vontade. Alguns não aceitam tratamento, mas também é necessário que o Poder Público tenha lugares para essa pessoa realizar o tratamento necessário de maneira correta. Acredito que o certo seria colocá-los em uma fazenda para trabalhar. É preciso oferecer oportunidade de vida aos usuários. Eles não são donos de si e têm que ser recolhidos”, disse.

Presidente da Comissão de Educação da Câmara, Professor Juari (PSDB), se diz favorável à internação compulsória. O vereador ressalta que o dependente químico não tem condições de decidir as suas ações.

“A família também precisa ser encontrada e ter participação no tratamento. O correto é desintoxicar e devolver o usuário de drogas aos familiares. O município tem a obrigação de dar assistência a essas pessoas. Sem o apoio do Poder Público, os dependentes precisam procurar igrejas que realizam trabalho voltado a essa causa”, explicou.

Professor Riverton (PSD), que já morou nas ruas, comenta que viu de perto a realidade das ‘minicracolândias' e de pessoas usuárias de drogas. De morador de rua a vereador da Capital, o parlamentar explica que é a favor da internação compulsória, mas também adianta que é necessário realizar um tratamento de continuidade eficaz.

“Fiquei nas ruas por um tempo. Não usei drogas, mas vários amigos usavam e não conseguiam se recuperar. Após o tratamento, a pessoa também precisa voltar para a sociedade com emprego, educação, alimentação, etc. Estamos reparando que o número de usuários está aumentando muito. As minicracolândias estão espalhadas por Campo Grande”.

(Dependentes químicos na região da antiga rodoviária, em Campo Grande. Foto: Nathália Alcântara/Midiamax).
Dependentes químicos na região da antiga rodoviária, em Campo Grande. (Foto: Nathália Alcântara/Midiamax).

Coronel Alírio Villassanti (União Brasil), participa de ações sociais voltadas para dependentes químicos em áreas centrais e conhecidas de Campo Grande. Regiões do e da antiga rodoviária ficam ‘dominadas' pelos dependentes e moradores acabam ficando inseguros devido ao aumento do narcotráfico doméstico.

“Sou favorável em alguns casos. Um exemplo é na antiga rodoviária que tem muitos dependentes há décadas. Sou leigo, mas no meu entendimento eles perderam o discernimento”.

Professor André Luis (Rede), diz que o município precisa auxiliar dependentes químicos durante o tratamento. O vereador destaca que é um assunto necessário um planejamento preventivo para que a Capital de Mato Grosso do Sul não acabe como os grandes centros do Brasil.

“Sou favorável à internação compulsória mediante um laudo médico. Isso é um problema social. Campo Grande não pode virar o que virou que tem 35 mil moradores de rua. Uma pessoa nessa situação não tem capacidade de escolha. O município cobra imposto. Se não tem estrutura ele tem que desenvolver”.

Atendimento de dependentes químicos em Campo Grande

Conforme a Sesau (Secretaria Municipal de Saúde), no SUS (Sistema Único de Saúde), o paciente que busca tratamento para vício em álcool e drogas é acompanhado pelo CAPS (Centros de Atenção Psicossocial), que faz o acolhimento por demanda espontânea de pacientes em crise e o atendimento de pacientes referenciados. O atendimento também pode ser feito em qualquer unidade de saúde, que irá realizar o acolhimento do paciente e referenciá-lo ao CAPS.

No Centro de Atendimento Psicossocial, ele será acompanhado por uma equipe multidisciplinar, que avaliará o melhor tratamento de acordo com cada caso. A família também tem apoio, quando observada a necessidade.

A Rede de Saúde Mental do Município é composta por 6 CAPSs, sendo 4 CAPS III, 1 CAPS A.D IV, 1 CAPS Infanto Juvenil, 1 Unidade de Acolhimento e 3 Residências Terapêuticas. De acordo com a prefeitura, todas as unidades funcionam 24 horas por dia, com média de 1.300 consultas ambulatoriais de saúde mental e 2 mil atendimentos por mês.

A Rede Municipal possui 101 leitos para atendimentos de pacientes com problemas psiquiátricos ou usuários de álcool e drogas. Campo Grande conta com 12 leitos contratualizados no Hospital Regional para atendimento de pacientes de álcool e droga, 27 no Hospital Nosso Lar e 10 na Santa Casa para atendimento de pacientes com transtornos psiquiátricos.

A previsão é de que até o final do ano o município passe a contar com mais um CAPS AD, tendo mais 20 leitos para tratamento de pacientes usuários de álcool e droga. Existe ainda um serviço chamado “Consultório na Rua”, voltado à abordagem e atendimento de moradores em situação de rua e usuários de drogas.