Pouco representadas em MS, mulheres batalham por espaço nos legislativos
Ambiente político ainda é dominado por homens
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Ambiente político ainda é dominado por homens
As mulheres representam 52% do eleitorado de Mato Grosso do Sul, no entanto este patamar não se repete nas Casas legislativas no Estado, na realidade, fica muito longe disso. Nas eleições de 2016, 108 vereadoras foram eleitas para ocupar cadeiras nas câmaras dos 79 municípios, ou seja 13,1% dos 823 vereadores nomeados no total. Na Assembleia Legislativa, são apenas três deputadas.
Esses números refletem o pouco avanço conquistado através da História. Em Campo Grande, desde 1903, somente 17 mulheres foram eleitas para a Câmara. O pico de representatividade ocorreu na legislatura passada, quando sete vereadoras passaram pelo legislativo da Capital. A primeira representante na Casa, Oliva Enciso, só foi eleita em 1955.
Professora e escritora, Oliva Enciso, que dá nome ao plenário da Câmara Municipal de Campo Grande, foi pioneira na política local. Ocupou a presidência da Casa de Leis em 1958, feito repetido por Nelly Bacha em 1983; e foi a primeira deputada estadual de Mato Grosso, antes da divisão do estado, em 1959.
Em 115 anos, a quantidade de ex-vereadoras é tão pequena que cabe em um parágrafo: Oliva Enciso, Maria de Lourdes Widal Roma, Nelly Elias Bacha, Marisa Serrano Ferzelli, Marilene de Moraes Coimbra, Magali Marlon Picarelli, Maria Emília Sulzer, Maria Elena Flores, Tereza Name, Grazielle Salgado Machado Nishina, Thais Helena Vieira Rosa Gomes, Rose Modesto, Luiza Ribeiro, Carla Stephanini e Juliana Zorzo.
A baixa representatividade, inclusive, foi discutida recentemente pelas duas parlamentares que estão na Casa atualmente. Cida Amaral (Podemos) e Dharleng Campos (PP), que utilizou a tribuna para expor esta situação. “Ainda estamos muito aquém de ocupar os espaços que realmente merecemos. Infelizmente, ainda muitas mulheres estão servindo para preencher a bendita cota. A mulher merece ter seu espaço respeitado, entrar não somente para preencher cota”, discursou.
A “bendita cota” a qual a progressista se refere é a regra eleitoral que obriga os diretórios de partidos políticos a respeitar o mínimo exigido pela legislação de 30% de candidaturas femininas nas listas de postulantes aos legislativos, sob pena de eliminação da lista de todos os candidatos da legenda.
Mesmo com isso, a participação da mulher encontra dificuldade para ultrapassar a barreira de 10% no total de eleitos. Na Capital, elas representam 6% na Câmara e na Assembleia são 12% atualmente, onde apenas nove passaram durante os 40 anos após a criação de MS.
Herança histórica
Em entrevista ao Jornal Midiamax nesta terça-feira (6), a deputada Mara Caseiro (PSDB) credita esse paradigma a “toda uma história de repressão”. “A gente era proibida inclusive de votar. Ainda vivemos num mundo machista, em que consideram que determinada situação não é para a mulher”, justifica.
Eleita em 2014, Caseiro diz que teve dificuldades no início do seu trabalho no legislativo estadual, mas com o passar do tempo se adaptou. “As nossas mulheres têm um certo receio de entrar na política em função deste universo ser muito machista. Hoje já consegui ocupar meu espaço e fazer valer a minha voz”, comemora.
Casos recentes na política sul-mato-grossense evidenciam esse machismo, como o caso de assédio contra uma vereadora do município de Dourados, que teve o bumbum apalpado durante uma sessão solene. O autor do ato disse que se tratava apenas de uma “brincadeira”.
Em Porto Murtinho, em 2016, uma parlamentar afirmou ter sofrido agressões de um colega, que negou ter cometido a investida. Ela foi ao hospital, fez exame de corpo de delito e registrou Boletim de Ocorrência.
Para mudar esse panorama, Mara Caseiro e a vereadora Cida Amaral acreditam que a cota estabelecida durante as eleições deveria ser praticada também para a quantidade de cadeiras reservadas para as representantes femininas.
“Não estamos em um momento muito diferente de lá atrás. Por que não reservar esses 30% para que a gente fique aqui dentro dessa Câmara, assim seríamos nove mulheres e não duas”, questiona Enfermeira Cida. Fugindo do comum, ela critica seus pares por criarem dificuldades na competição entre candidatas. “A gente tem que parar de oprimir umas às outras”, dispara.
Ambas acreditam que deveria haver uma igualdade na quantidade de eleitos e eleitas. “Defendo a paridade, teríamos que ter nessa Casa 52% de mulheres. Mas essa realidade ainda está longe”, lamenta Cida.
“Uma Câmara de Vereadores, uma Assembleia Legislativa ou uma Câmara Federal, que têm 10% de mulheres, não representam a nossa sociedade. Se fossem representativas, deveriam ter, no mínimo, 50%. Para se promover a igualdade nós temos muitas vezes de tratar os desiguais com desigualdade”, conclui Mara Caseiro.
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