Marqueteiro do PT admite ‘conta-laranja’ na Suíça

Destino de US$ 7,5 milhões

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Destino de US$ 7,5 milhões

O Banco Central e a Polícia Federal conduzem sigilosamente uma investigação para saber a origem e o destino de US$ 7,5 milhões de uma conta na Suíça. Parte desse dinheiro foi desviada da Petrobras e teria sido destinada a integrantes da cúpula do PT.

A conta em questão foi aberta no banco suíço Heritage e é conhecida como Shellbill, nome de uma empresa offshore criada pelo publicitário e ex-marqueteiro de campanhas petistas, João Santana, que na semana passada teve homologado seu acordo de delação premiada pelo ministro do STF, Edson Fachin. Tanto a PF como o BC já sabiam da existência da conta, que foi confirmada pelo próprio marqueteiro, quando foi preso em fevereiro de 2016. O que não se sabia até agora é que boa parte dos recursos que passaram por essa conta teria como destino final outros personagens do PT.

A revelação foi feita por João Santana durante negociação com a Procuradoria-Geral da República, mas não se sabe se essa informação entrou no texto final da delação premiada porque os procuradores ponderaram que, para incluí-la, seria necessário aprofundar as investigações.

“A princípio imaginamos que a conta na Suíça era usada para que João Santana recebesse pelos serviços prestados tanto no Brasil como no exterior. Mas, com as informações que temos agora, podemos inferir que a conta seria uma espécie de laranja para que os dirigentes do PT recebessem propinas no exterior”, afirmou na noite da quarta-feira 5 uma das pessoas que participaram das negociações.

“Para atestar a informação, já solicitamos ajuda da Suíça para rastrear a saída de recursos dessa conta”. O marqueteiro não declinou os nomes dos favorecidos. Apenas afirmou que se tratava de membros da cúpula do partido. Quem lhe informava sobre os depósitos e as transferências que deveriam ser feitas era o ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega. Reticente em abrir o jogo num primeiro momento, João Santana só reconheceu que a Shellbill era uma conta-laranja depois que a Procuradoria da República começou a contabilizar o valor que, pelo acordo, ele deveria devolver aos cofres públicos.

Os procuradores usavam como base de cálculo os US$ 7,5 milhões movimentados no banco suíço. Foi quando Santana afirmou que o dinheiro não era apenas dele. O marqueteiro foi taxativo: a pedido de cabeças coroadas do PT, ele disponibilizou sua conta para que petistas pudessem receber dinheiro sujo não declarado no exterior. O intermediário era Mantega. A existência da conta-laranja mostra que os préstimos de Santana ao PT transcenderam os serviços de marketing às campanhas dos ex-presidentes Lula e Dilma entre 2006 e 2014.

Na delação premiada, homologada na última semana, o casal João Santana e Monica Moura deixa claro que houve movimentação irregular de dinheiro em todas as campanhas eleitorais nas quais participaram no Brasil e em outros países da América Latina, no período de 2006 até serem presos, incluindo as de Lula e Dilma. As operações ilícitas envolveram ainda as campanhas de Hugo Chavez, falecido, e Nicolas Maduro, na Venezuela, de Maurício Funes, em El Salvador, de Danilo Medina, na República Dominicana e de José Eduardo dos Santos, em Angola.

Aos procuradores, Santana também atestou relato do empresário Marcelo Odebrecht à força-tarefa da Lava Jato e ao TSE de que, sim, Dilma tinha conhecimento das operações ilícitas de caixa dois – o que desmonta de maneira cabal e irrefutável todas as versões apresentadas até agora pela ex-presidente segundo as quais ela estaria alheia às tratativas de propina e caixa 2.

Entre todos os políticos implicados pelo casal João Santana e Monica Moura, a ex-presidente petista foi, indubitavelmente, a mais atingida. Num dos capítulos do depoimento, Santana e sua mulher fazem outra imputação grave a Dilma. Guarda relação com mais uma tentativa da petista de obstruir a Justiça. Eles acusam Dilma de vazar de dentro do Planalto informações sigilosas sobre o andamento da Lava Jato. Segundo Santana, o Planalto, sob o comando de Dilma e com o consentimento e conhecimento dela, o avisou de que ele estava para ser preso, às vésperas de sua detenção pela PF em fevereiro de 2016.

O marqueteiro disse não saber se o alerta foi redigido por Dilma ou por um assessor dela. Ele teria confirmado, porém, que a fonte do alerta seria o Palácio do Planalto. O aviso foi dado por meio de uma mensagem, localizada dentro de um e-mail cifrado. O endereço do e-mail teria sido criado na presença de Dilma Rousseff e dentro da biblioteca do Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência da República. A senha era compartilhada entre Dilma, Mônica Moura e o marqueteiro. Ou seja, somente os três tinham acesso ao endereço eletrônico. Cópias de uma dessas mensagens cifradas alusivas à investigação da Lava Jato foram entregues aos procuradores.

CONTAMINADAS

Estas campanhas foram abastecidas com recursos ilegais, segundo delação do marqueteiro João Santana

“É problema do lula”

Nos bastidores do PT, ninguém revela surpresa com o conteúdo do depoimento do marqueteiro. No dia em que Santana e sua mulher foram presos, ainda em 2016, Lula já sabia que a casa tinha caído. Sobretudo para Dilma. “Ela (Dilma) sabia que ia dar m…Que isso tudo chegaria na campanha”, esbravejou o petista em conversa telefônica com o então ministro da Casa Civil, Jaques Wagner.

Na mesma conversa, Lula rememorou uma conversa mantida no Palácio do Planalto entre o senador Delcídio do Amaral (PT) e a presidente Dilma na esteira da prisão de Marcelo Odebrecht. Durante uma reunião, o senador petista advertiu a chefe do Executivo: “Presidente, a sra. sabe que foi uma dessas empreiteiras implicadas na Lava Jato que bancaram sua campanha e pagaram ao publicitário João Santana”. Ao que Dilma respondeu: “Isso é problema do Lula. Ele que resolva”. Delcídio então rebateu: “Não, a campanha era sua. É sua a responsabilidade”.

Compete agora ao procurador-geral Rodrigo Janot, que está em viagem à Coreia do Sul e ao Japão, definir os próximos passos das investigações. Janot se debruçará sobre o assunto a partir desta semana, quando estará de volta ao Brasil. Segundo apurou ISTOÉ, na PGR não pairam dúvidas: é líquido e certo que a delação do marqueteiro ensejará abertura de inquéritos para investigar a tríade petista – Lula, Dilma e Guido Mantega. Pode sobrar até para o tesoureiro da campanha de Dilma à reeleição, Edinho Silva, hoje prefeito de Araraquara. O lulopetismo agoniza.

Duda conta tudo

Além do marqueteiro João Santana, o publicitário Duda Mendonça, que conseguiu eleger Luiz Inácio Lula da Silva presidente do Brasil em 2002, também assinou um acordo de delação premiada com a Polícia Federal há pouco mais de uma semana. Os depoimentos do inventor do “Lulinha paz e amor” estavam na Justiça do Distrito Federal, mas como ele narrou ilícitos envolvendo pessoas com foro privilegiado, o processo foi enviado ao Supremo Tribunal Federal. A delação foi motivada pela investigação da Polícia Federal sobre as gráficas fantasmas da campanha de Dilma Rousseff.

O conteúdo está sob sigilo, mas a colaboração será anexada à investigação que corre no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para ajudar nas apurações de possível abuso de poder econômico na campanha que elegeu a presidente Dilma e seu então vice-presidente, Michel Temer, na disputa de 2014. O ministro do STF Edson Fachin ainda decidirá se homologa ou não a delação de Mendonça. Em 2005, Mendonça confessou à CPI dos Correios ter recebido R$ 10,5 milhões pela campanha à eleição de Lula via caixa 2.
Documento da Lava Jato mostra detalhes das contas offshore usadas por João Santana

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