Manifestações contra golpe político no Paraguai alcançam a fronteira

Universitários ficaram entre Pedro Juan e Ponta Porã

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Universitários ficaram entre Pedro Juan e Ponta Porã

Cerca de mil universitários das faculdades Unves, Uninorte, Catolica e Columbia, saíram as ruas na noite, desta sexta feira (31), em protesto contra a crise politica que se instalou no Paraguai, onde o presidente Horácio Cartes (ANR) busca a reeleição. Paraguaios saíram as ruas contra a reforma da constituição e o manisfesto alcançou até a cidade de Ponta Porã, a 346 km de Campo Grande, onde apenas uma rua separada a cidade brasileira do país vizinho.

Os estudantes seguiram até o governo do Paraguai com palavras de ordem como “Fora Cartes” e “Cartes ladrão vendedor de cocaína” e protestaram em frente ao Palácio do Governo de Amambay na fronteira com o Brasil.

O número de manifestantes deve crescer já que a população também deve sair as ruas para apoiar as manifestações, que podem levar ao Impeachment do atual presidente Horácio Cartes, no Paraguai, já que em Assunção, o confronto com as forças de segurança resultou em várias sedes de instituições tomadas pela população.

Motivação

O senado do Paraguai, dominado por partidários do presidente Horacio Cartes, aprovou nesta sexta-feira (31) a reeleição presidencial, o que deflagrou incidentes entre opositores e a polícia. Manifestantes conseguiram entrar no prédio do Congresso, que fica no centro histórico de Assunção. A polícia disparou balas de borracha, e os manifestantes colocaram fogo no prédio. O canal Telefuturo transmitiu a confusão em frente ao Parlamento.

Conforme o G1, no total, 25 dos 45 senadores votaram a favor da emenda que institui a reeleição. A emenda deverá ser ratificada neste sábado pela Câmara dos Deputados, também controlada pelos governistas.

Os senadores não votaram no plenário do Senado, e sim em um gabinete do Congresso, diante da resistência de legisladores da oposição contra a medida. O presidente do Senado, Roberto Acevedo, o primeiro vice-presidente do Senado, Eduardo Petta, e outros legisladores da oposição ocuparam o plenário da Casa para impedir a votação.

A emenda foi apoiada por opositores ligados ao ex-presidente de esquerda Fernando Lugo, mas o restante da oposição denunciou a medida como um “golpe parlamentar”.

A emenda ainda deve ser votada pela Câmara dos Deputados. Seu presidente Hugo Velázquez, disse que recebeu o projeto nesta sexta e informou que irá votá-lo no plenário da Casa no sábado. O presidente Cartes tem uma folgada maioria na Câmara dos Deputados, integrada por 80 legisladores.

Após ser confirmada pela Câmara dos Deputados, a emenda será submetida a um referendo nacional, no prazo de três meses, convocado pelo Tribunal Superior de Justiça Eleitoral.

A Constituição vigente no Paraguai não permite a reeleição desde 1992.

Magnata dos refrigerantes e do tabaco, o presidente Cartes foi eleito para um mandato de cinco anos em 2013. Seus apoiadores mais entusiasmados querem que ele possa se candidatar para mais um mandato no ano que vem, mas críticos dizem que uma mudança constitucional feita para beneficiar um presidente no cargo seria injusta.

Confrontos

Conforme publicação do G1, houve dois momentos de confrontos violentos com a polícia nesta sexta. O protesto contra a medida que autoriza a reeleição começou antes que ela fosse aprovada. Durante a discussão, o prédio estava cercado por forças de segurança.

Num primeiro incidente, a polícia disparou balas de borracha, gás lacrimogêneo e acionou tanques de água. Ao menos 12 pessoas ficaram feridas, a maioria por balas de borracha e golpes de cassetete, de acordo com a agência France Presse.

O presidente do Senado, Roberto Acevedo, o presidente do Partido Liberal, da oposição, Efrain Alegre, e o deputado Edgar Ortíz, também liberal, foram feridos durante os incidentes, denunciou o senador opositor Luis Wagner.

Depois da aprovação da medida no Congresso, houve mais duros confrontos entre manifestantes opositores e a polícia de choque.

Segundo a agência Efe, “várias centenas de pessoas” romperam a barreira policial, invandindo o prédio do Congresso, onde quebraram vidraças e colocaram fogo nas portas, em papéis e em cadeiras. O incêndio se espalhou, e caminhões dos bombeiros se dirigiram à Praça de Armas.

Ainda de acordo com a Efe, há vários policiais feridos, segundo a instituição.

Ponte da Amizade

Um grupo de manifestantes fechou a Ponte da Amizade na noite desta sexta, após o Senado paraguaio aprovar uma emenda constitucional que permite a reeleição do presidente no país. A ponte entre Foz do Iguaçu e Ciudad del Este é a principal ligação entre o Brasil e o Paraguai.

De acordo com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), que monitora o tráfego de veículos no lado brasileiro, a interdição da ponte é total, ou seja, os carros não podem fazer a travessia em nenhum dos dois sentidos. Não há previsão para que o trânsito seja liberado no local.

Oposição denuncia “projeto ditatorial”

Os senadores contrários ao projeto qualificaram a votação desta sexta de “golpe parlamentar”. “É um projeto ditatorial de Horacio Cartes com a cumplicidade de Fernando Lugo, coautor deste projeto autoritário”, declarou o senador opositor Carlos Amarilla.

O presidente do congresso Acevedo denunciou na quinta-feira, na Corte Suprema de Justiça, os senadores governistas por abuso de função e atentado à ordem constitucional.

“Queremos que o plenário da Corte Suprema de Justiça declare inconstitucional este procedimento ilegal”.
“Queremos que o povo decida se quer ou não a reeleição, e não será uma minoria (parlamentar) que impedirá isto”, disse a senadora Lilian Samaniego, presidente do Partido Colorado.

Presidente pede calma

Após a invasão do Congresso, o presidente Horacio Cartes divulgou um comunicado, onde pede aos cidadãos que mantenham a calma e que “não se deixem levar por aqueles que há meses vem anunciando atos de violência e derramamento de sangue”.

Segundo o presidente, a invasão e o incêndio demonstram que existe um grupo que “não poupará esforços para alcançar seu objetivo de destruir a democracia e a estabilidade política e econômica do país”.

“Devemos construir e defender o Paraguai todos juntos. A violência não é o caminho. Seguimos vivendo em um estado de direito e não devemos permitir que alguns bárbaros destruam a paz, a tranquilidade e o bem estar geral do povo paraguaio”, conclui a nota.

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