Ex-presidente do PT deixa o partido, mas descarta militar na direita
Pedido de desfiliação tem 390 nomes
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Pedido de desfiliação tem 390 nomes
Sob o comando do ex-presidente do PT-MS e ex-deputado Antonio Carlos Biffi, 390 militantes estão pedindo a desfiliação do Partido dos Trabalhadores em Mato Grosso do Sul. Um pequeno grupo levou o documento com o pedido, nesta sexta-feira (15), à sede do partido, mas dizem que não foram recebidos pela diretora Maria Helena.
No documento, Biffi e os outros filiados afirmam que não vão militar na direita. “Nós, militantes da esquerda, não deixamos o PT para militar na direita, com muitos fizeram. Temos compromisso em lutar por uma sociedade em que as pessoas tenham oportunidades iguais e possam ter possibilidades de crescimento pessoal, profissional e terem uma vida digna. Nosso objetivo é construir projeto socialista, que tenha compromisso e credibilidade para melhorar as políticas públicas aos que mais necessitam”.
O ex-deputado também divulgou uma carta por meio das redes sociais em que relembra a sua trajetória no partido e afirma que suas convicções não mudaram. “Não me envergonho da minha carreira política nas fileiras do partido. Ao contrário, tenho orgulho de ter construído uma trajetória limpa, íntegra e de luta em favor dos trabalhadores de meu estado e do Brasil, sem nunca ter desrespeitado o Estatuto do partido. São princípios inerentes ao meu perfil político, que carregarei comigo onde estiver”.
Biffi ainda não anunciou se irá migrar para alguma outra legenda. Ele integrava o grupo político do ex-senador Delcídio do Amaral. O grupo de Delcídio disputava espaços no partido com Zeca do PT. O ex-presidente do PT irá divulgar uma carta nas redes sociais sobre a sua desfiliação.
Críticas
Na carta de desfiliação, os militantes afirmam que o atual presidente, Zeca do PT, “toma atitudes que desrespeitam os princípios do PT e não busca diálogo com as forças internas, exercendo uma política medíocre no comando da legenda”.
Entre as justificativas apresentadas pelos ex-filiados para deixar a legenda está a demissão de funcionários contratados pela gestão anterior, sem o pagamento dos direitos trabalhistas. “Como permanecer em um partido em que o presidente promove demissão sumária no Diretório e não paga os direitos trabalhistas aos funcionários, contrariando a carta de princípios do partido”. Entre os desfiliados estão ex-funcionários, demitidos da legenda.
Eles também dizem que o Partido dos Trabalhadores no estado deixou de ser um lugar de diálogo e participação nas decisões. “O projeto político do PTMS está se resumindo em um projeto meramente oligárquico. Anomalia grave que sempre combatemos em nossa luta política, mas que contaminou alguns de nossos dirigentes”.
Zeca do PT foi procurado pela reportagem, mas não atendeu aos telefonemas. No diretório estadual, a informação é de que ele estava incomunicável, no interior.
Confira a carta do ex-presidente do PT:
Há 28 anos, depois de muita disputa, consegui a filiação ao PT, por entender ser o partido capaz de fazer a defesa da classe trabalhadora e de construir um novo projeto político para o Estado e para o Brasil. Disputei oito eleições, quatro para deputado estadual e quatro para deputado federal. Sempre na trincheira de luta pelos direitos dos trabalhadores, dos mais humildes e das minorias (índios, negros, estudantes, idosos).
Como militante ajudei a eleger nossas lideranças nas principais disputas que o partido fez, como a eleição e reeleição do governo estadual petista, ampliação das bancadas estadual e federal, cadeira no senado, além de ser o coordenador de campanha à Prefeitura da Capital em 1996. Em 12 anos de vida pública, enquanto deputado federal, deixei um legado limpo, de construção, sem trazer nenhum desgaste para o partido.
Como deputado federal defendi, incondicionalmente, os governos de Lula e Dilma e honrei minha função pública, como um dos mais atuantes parlamentares de MS. Tenho orgulho de ter sido relator do Prouni, do Pronatec e do projeto que criou a UFGD em Dourados, bem como a reorganização dos institutos federais de educação profissional no Brasil, dez deles em Mato Grosso do Sul.
Participei ativamente na defesa dos projetos que melhoram a educação pública, como o Pró-infância, com a conquista de mais de 180 Centros de Educação Infantil para o estado; o Caminho da Escola, com centenas de ônibus escolares em todos os municípios sul-matogrossenses; o Ciência Sem Fronteira; aprovação do Piso Salarial dos Professores; a conquista dos 10% do PIB para educação brasileira e o PNE (Plano Nacional de Educação).
Presidi o Partido no pior momento de sua história, em que ocorreu a maior campanha midiática anti-PT desde a fundação da sigla, em 1980, e de ódio e difamação contra os petistas, jamais vista na história do Brasil; prisão e cassação do senador Delcidio do Amaral; impeachment da presidente Dilma Rousseff; avalanche de denúncias da operação Lava Jato, que levou à prisão o tesoureiro nacional João Vacari, além da condenação, e investigação no STF, de companheiros aqui do Estado.
Coordenei a campanha das eleições municipais, mesmo com a perda de muitos companheiros prefeitos para outras agremiações antes mesmo do pleito, além da redução pela metade dos vereadores que também deixaram o partido na busca de reeleições. Não conseguimos fazer um só prefeito, mas com muito esforço da militância elegemos 40 vereadores e vereadoras.
Busquei a reaproximação da direção com os militantes e os movimentos sociais, auxiliando na construção da Frente Brasil Popular MS, mas ainda não foi suficiente para alcançarmos a unidade que precisávamos para enfrentar a direita, que avança fortemente com suas medidas neoliberais, contra os mais pobres e a classe trabalhadora.
Internamente, as forças partidárias (mandatos) não se sensibilizaram com nosso apelo para que tivéssemos um processo de eleições diretas (PED) que apontasse o caminho da unidade, no qual a resposta de nossos mandatários foi apresentação de seis chapas para fazer a disputa interna. Defendi até o último instante a unidade e provei isso com a retirada do meu nome da disputa à presidência para apoiar o companheiro Zeca do PT.
Entendo assim, que esgotei minha capacidade de diálogo interno e de construção positiva no Partido dos Trabalhadores. Não me sinto motivado a continuar numa luta de disputas internas que nos fez perder grandes companheiros ao longo de nossa caminhada partidária. Se não posso contribuir para o crescimento da legenda melhor me afastar. Não quero ser ponto de divergência e de disputa permanente, vendo que o PED construiu um ponto hegemônico em torno do atual presidente.
As minhas convicções não mudam. Não me envergonho da minha carreira política nas fileiras do partido. Ao contrário, tenho orgulho de ter construído uma trajetória limpa, íntegra e de luta em favor dos trabalhadores de meu estado e do Brasil, sem nunca ter desrespeitado o Estatuto do partido. São princípios inerentes ao meu perfil político, que carregarei comigo onde estiver.
Deixar o PT não é algo para se comemorar, mas um momento de reflexão, que deveria servir de alerta às lideranças que buscam o fortalecimento da sigla no Estado. Entendo que ainda não é o momento de deixar a política. Temos muitos desafios pela frente, como o combate ao governo golpista e suas reformas contra a classe trabalhadora e o golpe no povo brasileiro. Quero agradecer aos militantes e aos companheiros e companheiras que estiveram conosco nesta marcha. Não abro mão da luta socialista por uma sociedade justa e inclusiva.
Campo Grande (MS), 15 de setembro de 2017
Antonio Carlos Biffi
Ex-deputado federal
Veja também a carta de desfiliação na íntegra:
Ao Sr. José Orcírio Miranda dos Santos
Presidente do Diretório Estadual do PTMS
Campo Grande – MS
Dia histórico e triste para parte da militância e lideranças que ajudaram a construir o Partido dos Trabalhadores em Mato Grosso do Sul. Sair do fronte do partido não é algo que se comemora, mesmo diante da atual situação em que o presidente estadual, deputado federal José Orcírio Miranda dos Santos, o Zeca do PT, toma atitudes que desrespeitam os princípios do PT e não busca diálogo com as forças internas, exercendo uma política medíocre no comando da legenda. As pessoas que saem hoje querem continuar construindo projeto político coletivo para uma sociedade justa e igual.
Nós, militantes da esquerda, não deixamos o PT para militar na direita, com muitos fizeram. Temos compromisso em lutar por uma sociedade em que as pessoas tenham oportunidades iguais e possam ter possibilidades de crescimento pessoal, profissional e terem uma vida digna. Nosso objetivo é construir projeto socialista, que tenha compromisso e credibilidade para melhorar as políticas públicas aos que mais necessitam.
Como permanecer em um partido em que o presidente promove demissão sumária no Diretório e não paga os direitos trabalhistas aos funcionários, contrariando a carta de princípios do partido. Como permanecer, quando o presidente não dialoga com as forças internas e quer apenas impor suas vontades. O PT sempre foi o lugar em que se valorizou o debate e as diferenças de pensamento, mas em Mato Grosso do Sul não existe mais esse espaço democrático, lamentavelmente.
O projeto político do PTMS está se resumindo em um projeto meramente oligárquico. Anomalia grave que sempre combatemos em nossa luta política, mas que contaminou alguns de nossos dirigentes.
Portanto, vimos solicitar a desfiliação dos companheiros e companheiras, conforme segue relacionado. Destacamos que alguns dos pedidos já foram desfiliados do Sisfil desde o dia 15 de agosto passado.
Atenciosamente,
Campo Grande (MS), 15 de setembro de 2017.
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