Dom Dimas diz que católicos devem decidir voto de olho na corrupção
Igreja escolheu 26 candidatos para debater que rumo tomar se eleitos
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Igreja escolheu 26 candidatos para debater que rumo tomar se eleitos
A Arquidiocese de Campo Grande, unidade da Igreja Católica, em audiência com 26 candidatos a vereador da cidade, de partidos diversos, indicados por padres, pregou aos concorrentes que, vencida a eleição, o político eleito nunca contrate como assessor, pessoas com a chamada “ficha suja”.
Para a igreja, além de se afastar e combater a corrupção, o vereador ideal para Campo Grande são aqueles que se comprometerem em contra-atacar ideias que permitam o aborto, que apoiem projetos favoráveis à família, povos indígenas, habitantes de assentamentos rurais e que se esforcem por programas educacionais que exijam a criação de escolas com tempo integral. Ao todo, a igreja fez 15 recomendações aos candidatos (veja a lista ainda nesta página).
Os participantes da reunião, promovida sábado passado (23), assinaram um documento, conhecido como proposta de intenções, e protocolaram num cartório, em que pactuaram a seguir as orientações da Diocese. Midiamax conversou com Dom Dimas Lara Barbosa sobre o tema.
Na primeira vez que conheceu o território sul-mato-grossense, cinco anos atrás, disse, viajou para Dourados, onde participou de um evento religioso.
À época, recorda o arcebispo, um juiz administrava a cidade porque o prefeito, vice e 9 dos 12 vereadores da cidade tinham sido presos por corrupção.
Nesta entrevista ele comenta situação quase parecida dado ao envolvimento de vereadores num suposto golpe para tirar o mandato do prefeito Alcides Bernal (PP) e a prisão do ex-prefeito Gilmar Olarte, hoje sem partido. Eis o diálogo.
A Igreja Católica propunha esses pactos somente aos candidatos a prefeitura, agora com vereadores, por quê?
Dom Dimas – Desde que chegamos aqui nós temos promovido debate para o Executivo, tanto para o governo do estado quanto para a prefeitura. Entregávamos aos candidatos uma pauta mínima, digamos assim, para que eles assinassem – se concordassem – como critério do que a gente se espera de um candidato. Alguns critérios são de ordem ética, outros de ordem programática. Quanto ao legislativo nós nunca fizemos debate porque o número de candidatos é muito grande. Então, para o legislativo, a gente só pegava a lista [com as intenções] destinada ao executivo, mudava a linguagem, porque não cabe ao legislador ter programa de governo. Recomendávamos situações como apoiar políticas que caminha nessa direção, isso da ordem pragmática; do ponto vista da ética, sim, é pedido um posicionamento concreto de todos. Nesta eleição, notamos o grande de candidatos a prefeito e resolvemos entrevistar um a um, em separado, na TV Imaculada.
Entre os 15 tópicos propostos aos candidatos destacaria quais?
Dom Dimas – A questão da ficha limpa, defesa da vida e dignidade humana, questão do aborto, defesa da família. Nós estamos acostumados a ver secretarias de defesa da juventude, da mulher, isso é ótimo. Mas é raro ver secretaria da família. E essa secretaria devia ser elemento mais presente nas políticas públicas.
Ser contrário ou a favor ao aborto sempre gera polêmica, esse assunto é tido como de vez pela igreja?
Dom Dimas – O princípio é simples, quem diz que a vida começa na concepção, não é a bíblia, é a ciência, a boa ciência. A partir do momento que houve a concepção, você tem um ser humano. Tirar a vida de um ser humano, sobretudo indefeso e inocente, para nós será sempre uma agressão indevida.
O senhor acha que a iniciativa da igreja em querer afastar o corrupto da política é receptiva pelo leitor, está entusiasmado?
Dom Dimas – Cada um tem de fazer sua própria parte. Nem todos, incluindo os católicos praticantes estão engajados na política. Eu me dou por muito satisfeito quando recebo a notícia dizendo que 1,6 mil candidatos foram barrados pela lei da ficha suja, alguma coisa em termos da cidadania já fizemos, mas acho que chegamos até aqui e muito pode ser feito.
Podemos dizer que os políticos que descumprirem as orientações propostas pela igreja serão ‘condenados’ por isso?
Dom Dimas – Acho que quem tem de condenar o político é o eleitor e a justiça. Gostaria se deus quiser de começar em breve com uma espécie de associação de católicos na política. Que as punições alcancem não apenas as pessoas que trabalham com a coisa pública a partir de um mandato popular, mas também quem é funcionário de carreira, as vezes assessor de assembleia ou congresso. Casos de envolvimento dessas pessoas, talvez abrem caminhos e fecham caminhos da corrupção de maneira mais eficiente que o político.
De 2013 para cá, o campo-grandense vê cada vez mais ações da polícia contra políticos, o senhor vê isso como?
Dom Dimas – Claro que vejo as coisas com perplexidade, mas também com otimismo. Perplexidade em que sentido? Já faz tempo que o Brasil tem acordado para o problema da corrupção. Quando apresentamos o projeto da Ficha Limpa [igreja católica deu início ao movimento pela lei por meio de coleta de assinaturas], até a grande mídia ficou contra a gente. Muitos articulistas achavam a lei fascista, inconstitucional. Foi uma luta pesada. A lei entrou no centro das discussões com o escândalo da cueca [político detido com dinheiro], em Brasília, aí realmente o assunto foi debatido. Quando o projeto foi votado houve quase que um blecaute porque o número de mensagens pela internet era maior do que as assinaturas que coletamos. Agora, com o surgimento do mensalão, lama asfáltica, lava jato, percebemos o tamanho do rombo, isso assustou e, por isso, vejo com perplexidade. O otimismo: está sendo feito alguma coisa, aos poucos têm sido expurgados os candidatos pela lei da ficha suja.
Mas, especificamente quanto aos escândalos envolvendo vereadores, prisão de ex-prefeito?
Dom Dimas – O nosso estado tem entrado na pauta nacional por motivos nem sempre elogiosos. Por outro lado, existe a esperança. O povo não é bobo. Agora, nas urnas, algo de novo pode acontecer. Eu acredito que o povo está prestando mais atenção.
Parte dos especialistas, muitos deles renomados do Brasil acha que o processo que tirou a presidente Dilma do poder e ainda o que incrimina o ex-presidente Lula tem sido severo demais se comparado às investigações de outros partidos. O senhor vê isso também?
Dom Dimas – Não tenho competência técnica para avaliar ações específicas da Polícia Federal na avaliação desses ou daqueles personagens. O que chama a atenção: existem outros mensalões, como aconteceu em Minas Gerais, existem outras pessoas que também foram indiciadas de outros partidos e cuja celeridade na investigação não é tão acentuada como têm sido na Lava Jato. Sei que a investigação da Lava Jato é prioridade devido ao volume da denúncia, delações premiadas que não aconteceram nas outras. Não só eu, mas todos torcemos que essa ação da PF e Ministério Público, recupere o fôlego e saia em busca daqueles não vinculados ao governo Dilma.
E a questão da luta do índio pela terra, conflitos envolvendo fazendeiros em MS, como vê?
Dom Dimas – Não tenho dúvida que o Brasil vive num regime de flagrante desobediência à Constituição, desde 1993. A Constituição de 1988 tinha dado prazo de cinco anos para que o país demarcasse as terras indígenas. E isso não aconteceu. Se tivesse feito, muito sofrimento tinha sido poupado. Um dos motivos que levou a morosidade dos processos de demarcações em MS, talvez o pior, é que a solução encontrada terá que ser replicada para o todo o Brasil. [no caso, o fato de os fazendeiros pedirem indenização para deixar a terra, ideia aprovada pelo líder católico].
PROTOCOLO DE INTENÇÕES
A Arquidiocese de Campo Grande – MS promove um encontro com candidatos à Câmara Municipal indicados pelas Paróquias ou outros organismos da Igreja Católica, em 23 de setembro de 2016, e apresenta as propostas abaixo elencadas como requisitos mínimos esperados do futuro Vereador, e pede aos candidatos que concordarem com eles, que os assinem como forma de compromisso. Os Protocolos, devidamente assinados, serão registrados em Cartório. A população será notificada sobre a decisão dos candidatos.
Ética:
Comprometo-me a usar os princípios da “Ficha Limpa” na escolha de meus Assessores, mesmo que isso signifique a exclusão de pessoas de meu Partido ou de minha base aliada, que não se adéquem a esses princípios.
Comprometo-me, ainda, a potencializar e acompanhar o Portal da Transparência da Prefeitura Municipal de Campo Grande, para que todos saibam, em tempo real, onde estão sendo aplicados os recursos públicos.
Defesa da Vida:
Reconheço a dignidade da pessoa humana, cuja vida é sagrada, da concepção até sua morte natural. Por isso, comprometo-me a combater toda e qualquer iniciativa no sentido da descriminalização do aborto e de sua implantação na rede pública ou privada, mesmo que esta minha decisão seja contrária a propostas pró aborto contidas nos programas de meu próprio Partido ou de minha base aliada.
Família:
Reconheço a família como núcleo básico da sociedade e me comprometo com a criação de políticas públicas específicas no sentido de valorização e amparo às famílias, sobretudo aquelas em situação de vulnerabilidade, seja pela violência, álcool e outras drogas, desemprego, presença de doentes ou idosos dependentes, falta de moradia ou outras situações de risco.
Povos indígenas:
Campo Grande possui uma população de cerca de 10 mil indígenas, distribuídos em aldeias urbanas, loteamentos e grupos familiares. Reconheço o valor de sua cultura e o direito desses povos à preservação de sua própria identidade, e comprometo-me a criar, em diálogo permanente com os mesmos, políticas públicas que os amparem e ajudem como protagonistas de sua própria história.
Saúde Pública:
O modelo de gestão do SUS, baseado na descentralização, hierarquização, regionalização e participação popular, ainda apresenta sérios problemas nas unidades básicas de atendimentos, hospitais com déficits de leitos e falta de medicamentos básicos. A solução deve se estender às outras categorias da saúde, pois medicina não se faz apenas com médicos, havendo necessidade de uma equipe multiprofissional atuando conjuntamente (enfermeiros, técnicos em enfermagem, fisioterapeutas, odontólogos, nutricionistas, psicólogos, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais e assistentes sociais).
Comprometo-me a apoiar projetos da administração pública cujo propósito seja garantir a democratização do acesso à saúde, medicamentos, exames, internações, de modo que todos, sobretudo as pessoas mais vulneráveis e empobrecidas, possam ter tratamento adequado à sua dignidade de filhos e filhas de Deus. Particular atenção darei ao grande desafio da traumatologia, e da insegurança no trânsito como grave problema de saúde pública. Por outro lado, comprometo-me também a denunciar e combater quaisquer medidas ou iniciativas que possam prejudicar, impedir ou diminuir o acesso de todos aos serviços de saúde.
Saúde mental:
Reconheço que esta é uma área particularmente frágil no Sistema Único de Saúde. Comprometo-me a propugnar por Políticas Públicas e/ou Programas específicos de atendimento a dependentes químicos, seja na área de prevenção, seja no âmbito de sua recuperação, inclusive mediante parcerias com as comunidades terapêuticas já existentes em nossa capital.
Agricultura e Economia Familiar:
O município de Campo Grande possui 14 Assentamentos e Comunidades Quilombolas atuando em diversas áreas da economia familiar, particularmente a agricultura. Por isto, comprometo-me a colaborar decididamente com programas para utilização de sua produção de alimentos, especialmente na merenda escolar, e apoiá-los na logística de estocagem e distribuição nos centros comerciais mais próximos de sua base produtora. Terceiro Setor:
A Sociedade Civil organizada há de ser, em meu mandato, parceira privilegiada, e valorizada em suas diversas iniciativas. Reconheço que inúmeras entidades beneficentes e filantrópicas de diversos matizes vêm realizando importantes serviços à população, sobretudo nas áreas da educação, saúde e assistência social, muito além do que é possível ao Poder Público, uma vez que são movidas pelo voluntariado, com amor e inestimável dedicação. Por isso, empenhar-me-ei em apoiá-las e promovê-las como importantes parceiras a serviço do bem comum.
Juventude:
Comprometo-me a promover e apoiar políticas públicas específicas para a Juventude, incluindo-a desde o planejamento, abordando a educação, a profissionalização, o esporte e o lazer e outras áreas afins à vida dos e das jovens, atuando na prevenção das causas que geram a violência e morte em meio à juventude. Outrossim, comprometo-me firmemente a opor-me a iniciativas de criminalização e violência injustificada contra jovens, sobretudo os mais pobres ou oriundos de grupos vulneráveis.
Educação:
O futuro de qualquer Nação passa por uma educação de qualidade. Esta haverá de ser uma das minhas preocupações constantes: lutar pela valorização permanente da Escola, sobretudo em nível fundamental e médio, aí incluídas as Escolas Técnicas, buscando soluções adequadas à nossa realidade. Comprometo-me a envidar esforços para aumentar o número de escolas em período integral, de forma a atender a todas as regiões de nossa cidade, inclusive a área rural, e a combater qualquer forma de manipulação ideológica de alunos e professores.
Saneamento básico:
Campo Grande precisa de um adequado plano de saneamento básico, que inclua temas como acesso à água de qualidade; drenagem de águas pluviais; serviços de esgoto e seu tratamento; coleta (seletiva), reciclagem, tratamento e destinação final adequada dos resíduos sólidos (lixo), valorizando nesses projetos as Associações ou Cooperativas de Catadores de Materiais Reciclados. Comprometo-me a ter sempre presente essa grande necessidade do nosso povo.
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