Adailon Freixeira foi condenado nesta segunda-feira (21) a 24 anos pelo assassinato de Francielle Guimarães Alcântara, de 36 anos. A vítima foi encontrada morta com sinais de tortura em janeiro deste ano.

O Conselho de Sentença decidiu pela condenação do réu, que vai cumprir pena por homicídio qualificado por motivo fútil, recurso que dificultou defesa da vítima, feminicídio e meio cruel.

Ele também responde pelos crimes de tortura e cárcere privado, ambos qualificados. Ao todo, Adailton deve cumprir 24 anos, 2 meses e 5 dias de em regime fechado. Ele ainda deve pagar R$ 15 mil reais pelos danos morais causados à família da vítima.

A pena pelo homicídio foi reduzida de 22 para 18 anos e 4 meses, pela confissão. A defesa de Adailton tentou modificar a tipificação do crime para tortura que resultou em morte, descartando ainda o cárcere.

Porém, ao Midiamax a filha de Francielle confirmou o cárcere privado. Ela disse que o padrasto impedia que elas saíssem da casa e ainda fazia ameaças. A jovem também contou que teme pelo filho mais novo da vítima.

Com apenas dois anos, o bebê ainda chama pela mãe e apresentou mudanças no comportamento. A família teme que ele tenha traumas ou depressão pelo que ocorreu com a mãe.

Assim como relatado por Adailton durante o interrogatório, a defesa do réu sustentou que ele não tinha a intenção de matar Francielle, uma vez que tentou reanimar a vítima e acionou o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência).

Bem como Adailton, a defesa também alegou que a vítima sofria de problemas de saúde, tentando justificar hematomas e lesões que aparecem nos laudos, alegando que poderiam ser resultado das doenças.

O réu disse em depoimento que Francielle tinha desmaios e que chegou a desmaiar no banheiro e bater o rosto na pia, como forma de explicar um ferimento na boca. Também afirmou que o hematoma no pescoço teria acontecido após ela tentar tirar a própria vida.

Confessou tortura na delegacia

Apesar de já ter confessado as torturas na (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher), Adailton alegou no plenário que nunca agrediu a esposa. Inclusive, porque caso tivesse agredido os vizinhos teriam ouvido algo.

Sobre a morte de Francielle, Adailton afirmou que “só pegou no pescoço dela”. Ele ainda disse que após a janta a vítima tomou o medicamento e, depois de buscar água para a esposa, a encontrou caída.

Então, teria socorrido a vítima e pedido para o filho adolescente chamar o Samu. Sobre as acusações de cárcere privado, ele disse: “Não sei disso não”.

Mãe pediu justiça pela morte de Francielle

Revivendo a morte da filha no julgamento de Adailton Freixeira, que acontece nesta segunda-feira, a dona de casa Ilda Guimarães Pereira, de 53 anos, diz que espera por Justiça pelo feminicídio da filha.

“Eu espero pela Justiça dos homens e a de Deus”, falou Ilda, que ainda relatou a falta de memória após a perda tão brutal de Francielle. A dona de casa contou que a filha nunca reclamou do relacionamento.

No entanto, disse acreditar que seria por medo que ela passasse mal, já que tem problemas de saúde. “Parece que é hoje o dia que tudo aconteceu porque a gente revive tudo de novo”, diz muito abalada a dona de casa.

Ela falou que tomou calmantes na noite de domingo (20) para conseguir acompanhar o julgamento de Adailton. “Tento tocar a minha vida, mas sempre tem algo que lembra minha filha”, disse Ilda.

Depoimento de Adailton na delegacia

Adailton não negou as sessões de tortura e disse que teria cometido os atos por uma suposta traição da mulher, que mal saía de casa, fato que repete reiteradas vezes em depoimento, na tentativa de encontrar justificativas para os atos cruéis cometidos.

O homem contou que a tortura começou com os cortes de cabelo que fez em Francielle, sendo que em uma das vezes chamou um barbeiro para ‘acertar' o cabelo da vítima pagando R$ 20.

O soldador detalhou que em uma das sessões de tortura à Francielle, ele chegou a esfaqueá-la no tórax, causando uma ferida de 7 a 10 centímetros, além de fazer cortes nas costas da vítima e perfurar a sua costela com uma faca de serra.

Adailton ainda teria ameaçado cortar as partes íntimas da esposa, caso ela continuasse a ‘mentir' para ele.

Tortura e crueldade

Sobre as nádegas de Francielle estarem sem pele, Adailton disse que os machucados eram devido a quedas que a mulher havia sofrido. Ele ainda afirmou que o local havia infeccionado e ela que teria pedido para ele passar uma navalha para retirada de pus.

O soldador disse que após fazer o procedimento com a gilete, jogou água oxigenada nas nádegas de Francielle ‘que parecia não sentir dor'.

Adailton ainda teria batido por oito vezes com a perna de uma cadeira nas nádegas machucadas de Francielle. Sem detalhar o motivo, Adailton confessou que bateu novamente na mulher após ela retornar da casa da irmã em dezembro, onde passou três dias.

Ele teria dado chutes na barriga de Francielle na ocasião. Sobre os dentes quebrados de Francielle, Adailton afirmou que foram quebrados quando ela caiu no chão, e que a própria esposa teria terminado de arrancá-los com um alicate de unha.

No dia da morte de Francielle, ele contou que ainda tentou reanimar a esposa. Quando não conseguiu, pediu para que o filho de 17 anos acionasse o Samu, mas nega ter dito ao adolescente que teria visto Francielle tomar remédios.

Ele fugiu logo em seguida, indo para a rodoviária de e pegando um direto para Cuiabá.

Prisão na rodoviária

Adailton acabou preso no dia 31 de janeiro, na rodoviária de Cuiabá, no Mato Grosso, onde tinha parentes e pretendia se esconder da polícia. No dia 3 de fevereiro, Adailton chegou a Campo Grande, após policiais irem buscá-lo no Mato Grosso.