Chefe do PCC que usou pandemia para fugir da justiça em MS ameaçava policiais desde anos 80
Documentos datados de 1988 mostram como Gerson Palermo, 63 anos, conhecido narcotraficante e considerado liderança no PCC (Primeiro Comando da Capital), já naquela época ameaçava as autoridades. As investigações apontam ameaças graves de morte a agentes da Polícia Federal e uma possível ‘ajuda’ de autoridades sul-mato-grossenses. Desde aquela época, Palermo, conhecido como ‘Pigm…
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Documentos datados de 1988 mostram como Gerson Palermo, 63 anos, conhecido narcotraficante e considerado liderança no PCC (Primeiro Comando da Capital), já naquela época ameaçava as autoridades. As investigações apontam ameaças graves de morte a agentes da Polícia Federal e uma possível ‘ajuda’ de autoridades sul-mato-grossenses.
Desde aquela época, Palermo, conhecido como ‘Pigmeu’, já era apontado como um dos maiores traficantes que atuavam em Mato Grosso do Sul. Ainda naquele ano ele estava foragido no Paraguai e mesmo assim continuava gerindo o tráfico e a entrada da droga no Brasil. Além disso, tinha inquéritos em vários estados como Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Goiás.
Assim, naquele ano de 1988, episódio envolvendo jornalistas brasileiros e um policial militar teriam revelado graves ameaças às autoridades federais. Isso porque tais repórteres teriam conseguido voar em aeronave, que seria do Governo de Mato Grosso do Sul, até o encontro de Palermo no Paraguai.
O que aconteceu no encontro
Ainda segundo a denúncia, a entrevista aconteceu em um restaurante em Pedro Juan Caballero (PY). Então, Palermo teria contado a intenção de matar agentes da Polícia Federal e até mesmo delegados, que ele acusava serem responsáveis pela prisão de membros da organização criminosa que chefiava.
A partir daí teve início a investigação do que seria o envolvimento de autoridades de Mato Grosso do Sul com traficantes. Também restou apurado que um policial militar do Estado teria acompanhado toda a viagem da equipe de reportagem e intermediou a entrevista.
Além disso, havia indícios de que autoridades do Governo naquela época estariam ajudando Palermo a investigar a vida dos agentes federais. Isso para que ele pudesse concluir o plano de matança. No entanto, chefe de Segurança na época deu resposta negando as acusações.
Para a Polícia Federal, naquela época, tal envolvimento de Palermo com autoridades “reforçava o comprometimento do organismo de Segurança Pública de Mato Grosso do Sul com o crime organizado”. Ainda na mesma peça há uma investigação de envolvimento de políticos e autoridades em atividades de contrabando de armas.
Essa questão envolve família poderosa na região de fronteira, hoje alvo da Operação Omertà.
Fuga e apuração pelo CNJ
No dia 23 de abril, o corregedor nacional de Justiça, ministro Humberto Martins, instaurou pedido de providências para apurar o habeas corpus que concedeu a Palermo a prisão domiciliar. Foram 8 horas da soltura até que ele conseguisse romper a tornozeleira eletrônica e fosse considerado foragido.
Então, foi determinado pelo ministro a autuação da decisão como pedido de providências, constando a CNJ (Corregedoria Nacional de Justiça) no polo ativo e o desembargador responsável pelo HC no polo passivo. Com isso, ele foi intimado para prestar informações sobre os fatos.
Quem é Palermo
Gerson foi investigado no âmbito da operação All In, deflagrada em março de 2017 pela Polícia Federal. Essa ação resultou na apreensão de duas remessas de mais de 800 quilos de cocaína em Cubatão (SP) e São Paulo (SP). Ainda foi descoberto que o PCC teve à disposição pelo menos três aeronaves e cerca de 15 caminhões e carretas, além de vários veículos de passeio. Tudo isso oriundo de rendimentos do tráfico de drogas e registrado em nome de laranjas.
No entanto, Palermo se passava por comerciante informal de caminhões e aeronaves, desfrutando de alto padrão de vida sem que tivesse qualquer bem em seu nome. Ainda era ele quem determinava a troca frequente da propriedade formal dos caminhões e aeronaves. Assim, o grupo tinha alguns de seus integrantes exclusivamente dedicados à compra, venda e transferência de bens.
Eles contavam também com despachantes, incluindo despachantes aeronáuticos, e tinham acesso a uma rede de falsários. Estes eram dedicados a obter documentos ou até empreender falsificações, justamente para dinamizar os atos de lavagem de ativos. Para legitimar a movimentação de lucros do tráfico, usavam contas correntes de seus próprios integrantes, familiares, amigos, conhecidos e mesmo empresários próximos, fragmentando as transferências em depósitos múltiplos, a fim de evitar os mecanismos de detecção de movimentações bancárias suspeitas.
Visando blindar as comunicações vinculadas ao tráfico, o PCC contava também com terminais telefônicos registrados em nome de terceiros (sem qualquer relação com os fatos), com a troca constantes destes mesmos números, com a preferência por realizar contatos por aplicativos ou chamadas audiovisuais e a utilização de códigos e apelidos.
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