Feminicídio em MS: número de mortes neste ano já é 33% maior que no mesmo período em 2018
O número de feminicídios registrados em Mato Grosso do Sul nos primeiros seis meses de 2019 já supera em 33% os números do ano passado no mesmo período. A Sejusp (Secretaria de Estado de Segurança Pública e Justiça) registrou 20 casos de mulheres que foram mortas por seus companheiros ou ex-companheiros, somente do dia 1º […]
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O número de feminicídios registrados em Mato Grosso do Sul nos primeiros seis meses de 2019 já supera em 33% os números do ano passado no mesmo período. A Sejusp (Secretaria de Estado de Segurança Pública e Justiça) registrou 20 casos de mulheres que foram mortas por seus companheiros ou ex-companheiros, somente do dia 1º de janeiro de 2019 até a publicação desta matéria. No ano passado, os registros apontam 15 casos de feminicídio no mesmo período.
O crescimento dessa estatística assusta, principalmente porque o conceito de feminicídio nasceu para caracterizar a consequência mais grave da violência doméstica: a morte. O termo qualifica o assassinato de uma mulher cometido por razões da condição do sexo feminino, motivado por violência doméstica, discriminação ou menosprezo. É um crime hediondo que, na maioria das vezes é praticado por homens que vivem ou viveram com a vítima, sendo namorados, companheiros, maridos ou ex.
Conforme dados da Sejusp (Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública), no ano passado foram registrados quatro casos no mês de janeiro; fevereiro dois casos; março um caso; abril cinco casos; maio três casos e nenhum no mês de junho, totalizando 15 registros. Somente na Capital, foram sete casos. O total registrado no ano todo foi de 32 casos de feminicídios.
Nos seis primeiros meses deste ano, no entanto, já foram registrados 20 casos em Mato Grosso do Sul. Foram dois casos em janeiro, dois em fevereiro, cinco no mês de março, quatro em abril, dois em maio e cinco em junho. O mais recente ocorreu nesse sábado (22), quando mais uma mulher foi morta porque o ex não aceitava o fim do relacionamento.
Violência progressiva
A delegada titular da Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher), Joilce Silveira Ramos, aponta que a violência doméstica costuma ser gradativa, até culminar na consequência fatal. “As agressões sempre iniciam pela parte psicológica, evolui para a física e em alguns casos em feminicídio”, explica.
Ramos explica que um homem nunca mata do dia para a noite sem ter praticado outras agressões anteriores. “Se a mulher consegue romper o ciclo de violência antes do primeiro tapa, estará evitando sua morte”, orienta.
A dificuldade de efetuar as denúncias, porém, reside na relação de confiança e nos laços afetivos que as vítimas normalmente têm com os agressores, um vínculo difícil de ser desfeito. Com isso, muitas vezes a vítima tem medo ou vergonha de denunciar o parceiro,
o que resulta em uma demanda reprimida. Na prática, portanto, os números da violência doméstica superam os registrados.
Março sangrento
Em março, mês que seria de celebração das conquistas femininas, há a marca nefasta de cinco feminicídios em Mato Grosso do Sul. Em comum, cada um dos casos tem a crueldade e sadismo dos assassinos, num contexto em que o fim da vidas se torna mero detalhe, por ser precedido quase que por um ritual nefasto e insano.
No dia 10 de março, a professora Nádia Sol Neves Rondon foi assassinada no dia de seu 38° aniversário com 36 facadas em Corumbá, a 425 km de Campo Grande. A faca chegou a entortar e o ex-namorado dela, Edevaldo Leite, entregou-se às autoridades no mesmo dia do crime. Relatos de amigos da vítima apontam que Edevaldo perseguia a vítima há dias. Fazia rondas no bairro onde ela morava e chegou a furar os pneus do carro da professora.
No mesmo mês, Carla Sampaio Tanan, de 36 anos, foi morta após ser atropelada pelo namorado durante uma festa de família na cidade de Caarapó, a 273 km da Capital. O autor do crime, Thiago Belatorres de 29 anos, foi interrogado e não demonstrou arrependimento. A perícia constatou que Thiago passou duas vezes com o carro por cima do corpo da vítima. Ele queria voltar para a festa sozinho, já que teria ficado com ciúmes por Carla estar dançando no aniversário.
A terceira vítima daquele mês, Lais Peres Rodrigues, de 26 anos, foi esganada pelo marido até a morte na cidade de Alcinópolis, a 353 km de Campo Grande. Identificado como João Gomes Olinto, o autor confessou o crime e foi indiciado por feminicídio. De acordo com as informações da Polícia Civil, o casal recebeu amigos em casa durante uma festa regada a bebida alcoólica. Quando os convidados foram embora, os dois se desentenderam e ele teria esganado a esposa até a morte.
Uma semana depois, Edinalva Ferreira Melgaço, de 34 anos, foi assassinada pelo ex-marido, o pedreiro José Cláudio Neres de Melo. Ao ser preso, o homem confessou o crime e disse que não aguentava ver a felicidade da ex-mulher. Edinalva foi morta com quatro golpes de machadinha na cabeça depois de ser perseguida e derrubada de sua motocicleta em Costa Rica.
No último dia daquele mês, Maria das Graças da Hora Pereira, 49 anos, foi morta com 20 facadas pelo seu ex-marido. Eles haviam se separado uma semana antes de ser morta. Após o crime, ele foi até a casa da mãe da vítima procurando o ex-cunhado com quem teria sociedade.
Mas a crueldade dos assassinos repete-se nos demais casos de mulheres que perderam a vida pelas mãos de ex-companheiros. O mais recente caso em Campo Grande foi o de e Erica Aguilar Pereira de 38 anos, morta pelo pintor Fábio Braga do Amaral, 39 anos, em um condomínio no Jardim Campo Nobre, em Campo Grande. Ela foi asfixiada com uma espécie de manta. O autor está foragido.
Já no interior, Jair Varlei Schwantes de 39 anos disse que matou a esposa Andreia Pereira Schwante a tiros depois de ter a sua “honra e masculinidade ofendidas por ela”, segundo depoimento aos policiais no ato de sua prisão. A filha do casal estava na pizzaria no momento do assassinato que ocorreu na noite do último dia 18, em Aral Moreira.
Não se cale, denuncie
Romper o ciclo de opressão e denunciar as agressões pode garantir que a história das vítimas de violência doméstica não sofram um trágico final. Há dispositivos, como as medidas protetivas, que atuam na defesa dessas mulheres. Há vários canais disponíveis para denúncia e esclarecimentos acerca da violência doméstica, bem como sobre quais os direitos delas. Confira:
Ligue 180: é uma central telefônica que atua como um disque-denúncia. É um programa nacional que recebe denúncias de assédio e violência contra a mulher e as encaminha para os órgãos competentes.
190: telefone da Polícia Militar. Tanto este contato quanto o 180 são serviços gratuitos que funcionam 24 horas, todos os dias da semana, inclusive finais de semana e feriados.
Clique 180: aplicativo para celular que traz diversas informações importantes, como os tópicos da Lei Maria da Penha.
Casa da Mulher Brasileira: localizada na Rua Brasília, Lote A, Quadra 2 – Jardim Imá, em Campo Grande. Funciona 24h, todos os dias da semana.
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