Um dos presos seria responsável por ‘apagar' rastros

Mais duas pessoas foram detidas por envolvimento com o esquema de desvio de energia descoberto pela no dia 12 de maio. Em continuação as investigações, equipes da 5ª Delegacia de Polícia Civil localizaram outras 40 pessoas que pagavam a um leiturista terceirizado da empresa para ter o consumo de energia reduzido e agora a fraude pode chegar a R$ 500 milhões. Entre os presos está um suspeito de ‘apagar' os rastros da fraude.

Depois da prisão do Daniel Ramirez, de 34 anos e do comerciante Dejailton Galdino dos Santos, de 34 anos, por corrupção ativa e passiva, policiais do SIG (Setor de Investigações Gerais) da delegacia passaram a realizar diligências e descobriram outro leiturista aplicando o mesmo golpe.

Nesta quarta-feira (18) o homem foi detido e acabou revelando que assim como Daniel, era pago por alguns clientes da Enersiga para reduzir o consumo de Kilowatts nos relógios, mas que depois da prisão do colega contratou um autônomo para desfazer as fraudes. “Em vistorias em alguns imóveis, encontramos os relógios zerados e com o lacre violado”, relatou o delegado Jairo Carlos Mendes.

Foi então que os policiais chegaram ao segundo suspeito. Dono de um software capaz de reduzir ou zerar o consumo, o autônomo relatou que o leiturista entrava em contato com ele, apontava a residência e ele ia até o local fazer o serviço. Mesmo com uma tecnologia única no Brasil, o rapaz precisava retirar o lacre dos relógios, deixando vestígio do crime. Em relógios analógicos, o esquema falhava e queimava o aparelho de medida.

Com as investigações a polícia já calcula aproximadamente 100 pessoas envolvidas no crime. Para o perito criminal Sávio Ribas, levando em consideração que em Mato Grosso do Sul são mais de 900 mil relógios consumidores, uma conta rápida mostra que o prejuízo causado pela fraude pode ultrapassar R$ 500 milhões.

Ainda assim, o valor exato só será divulgado depois que o levantamento da Energisa e também do Instituto de criminalística estiverem prontos. “Esse tipo de fraude não prejudica só a empresa, mas também os cofres do governo, que deixa de recolher ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços.)”, lembra o delegado Jairo.

“É uma descoberta inédita em nível de Brasil, concessionárias de outros Estados estão entrando em contato com a Enersiga para perguntarem como o crime foi descoberto e como funcionava a fraude”, afirmou o delegado responsável pelo caso João Belo Reis.

Ainda segundo o delegado, as investigações revelaram um suspeito que pode estar comercializando o software para todo o país. O autônomo teria adquirido o dele por R$ 480 e desde então ganhava a vida com o golpe. Dos dois leiturista também já praticavam o crime por pelo menos cinco anos, antes mesmo de trabalharem para a Enersiga.

“Essa prática está forte dentro do estado. O consumidor que for flagrado irá responder por corrupção ativa. Já os leituristas e o autônomo, serão indiciados por corrupção passiva, associação criminosa e, além disso, o autônomo também responderá por fraude processual”, explicou João Belo Reis.

A todo o momento, a polícia reforçou que as descobertas até agora são apenas a ponta do iceberg, e que passam do Estado para o Brasil. “O esquema é forte, com muitas pessoas envolvidas e os números são alarmantes”, revelou o delegado. Os suspeitos foram ouvidos e liberados, mas nesta quinta-feira (19) voltaram a delegacia para participar de novas diligências.