Cinegrafista ferido: polícia não acredita em versão de suspeito visto com bomba
A polícia não acredita na versão do depoimento do tatuador Fábio Raposo, que foi visto nas imagens divulgadas ontem pela TV Brasil, dando um explosivo ao autor do disparo que atingiu o cinegrafista da Bandeirantes Santiago Andrade, na última quinta-feira, no centro do Rio de Janeiro. Fábio se apresentou na madrugada deste sábado na Barra […]
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A polícia não acredita na versão do depoimento do tatuador Fábio Raposo, que foi visto nas imagens divulgadas ontem pela TV Brasil, dando um explosivo ao autor do disparo que atingiu o cinegrafista da Bandeirantes Santiago Andrade, na última quinta-feira, no centro do Rio de Janeiro. Fábio se apresentou na madrugada deste sábado na Barra da Tijuca com um advogado depois que suas imagens rodaram o mundo entregando o artefato ao autor do crime.
O delegado Maurício Luciano, titular da 17ª Delegacia de Polícia e responsável pelas investigações, disse que Fábio já foi indiciado por tentativa de homicídio qualificado e crime de explosão e que a pena pode chegar a 35 anos de reclusão caso o cinegrafista, que está em coma, não resista aos ferimentos. “O depoimento dele é inverossímel. Ele estava nervoso, gaguejando muito e está claro que foi uma versão montada pelo advogado para eximi-lo de culpa”, afirmou, com base nas informações dadas pelo delegado da Barra.
Mauricio Luciano afirmou que o medo de ser reconhecido foi fundamental para ele ter se apresentado. “Ele é tatuado e ficou com medo de ser reconhecido e decidiu contar essa história.” Nas imagens da TV Brasil pode-se ver Fábio caminhando durante algum tempo ao lado do homem que acendeu e colocou no chão o explosivo que atingiu Santiago. “Ainda não podemos afirmar se, quando o homem colocou o rojão no chão, ele já estivesse aceso” disse, já que existe a possibilidade de que Fábio tenha ajudado o autor do crime a acender o artefato.
Fábio Raposo negou ser adepto da tática Black Bloc e disse que recebeu convite para a manifestação através da internet. “Ele já foi detido duas vezes em outras manifestações. No dia 7 de Setembro e no dia 22 de novembro”, confirmou Mauricio Luciano, afirmando que o jovem está sempre envolvido em manifestações populares e quase sempre com perfil violento. Fábio prestou depoimento na madrugada deste sábado na Barra da Tijuca e se dispôs a colaborar. O delegado não entendeu porque, sendo morador do Méier, ele foi depor na Barra. “Certamente foi uma estratégia do advogado,” disse o delegado.
O tatuador apagou seu perfil no Facebook, mas o delegado da 17ª já acionou a Delegacia de Repressão a Crimes de Informática para tentar recuperar o perfil do jovem e tentar rastrear suas atividades e conversar para tentar identificar o autor do crime. “O depoimento do fotógrafo do (jornal) O Globo, que presenciou mais de perto o momento, também vai ser fundamental para tentarmos identificar o autor do crime,” disse o delegado, que está analisando uma série de imagens em busca de um momento anterior à explosão do artefato para tentar uma imagem do autor do crime sem máscara.
Passagem pela polícia
Após o depoimento desta madrugada, a polícia levantou a ficha criminal do suspeito e constatou que ele já foi autuado ao participar de outras manifestações. “Ele tem passagem por ameaça, dano ao patrimônio público, que são crimes praticados durante as manifestações. Ele também está sendo investigado por associação criminosa e pode ser indiciado, inclusive preso, por causa desse crime”, falou. Foram registrados dois boletins de ocorrência contra Fábio Raposo na 5ª DP, por dano ao patrimônio público e associação criminosa. Já na 14ª DP, ele foi fichado pelo crime de ameaça.
O delegado não forneceu detalhes sobre esses indiciamentos. Vídeo mostra socorro a cinegrafista da rede Bandeirantes ferido em protestoClique no link para iniciar o vídeo A polícia ainda tenta identificar quem seria o segundo suspeito que participou da ação. Raposo afirma que não conhece o homem, mas o delegado acredita que ele possa estar escondendo a identidade o agressor. “Num primeiro momento ele está negando a participação, é uma estratégia dele. Mas, se ele identificar o coautor, isso será levado em consideração. É previsto em lei e ele será beneficiado se isso ocorrer”, disse. A Polícia Civil recebeu uma grande quantidade de imagens do protesto e pretende, com esse material, identificar o homem que acendeu o pavio do explosivo. “A imagem que temos desse suspeito é dele correndo de costas, é claro que isso dificulta. Mas, é claro, para as pessoas que o conhecem, fica fácil de identificar.
São muitas imagens e, se a gente conseguir uma imagem que esteja nítida, poderemos identificar.” Pressão para se entregar Após o depoimento, o manifestante deu uma entrevista à Globo News e confirmou as informações repassadas à polícia. Fábio Raposo afirmou, entre outras coisas, que vem recebendo ligações de desconhecidos pedindo para que ele assuma o crime. “Meu nome é Fábio. Eu estava ontem na manifestação contra o aumento das passagens. Sim, era eu. As fotos que foram apresentadas nas mídias era eu sim. Eu era o de camisa, bermuda e tênis, com as tatuagens. Era eu passando o artefato para o outro indivíduo, mas o artefato não era meu, quero deixar isso bem claro.
Logo que eu cheguei, houve um corre-corre e eu fui até lá para ver o que tinha acontecido e estava tendo um confronto entre manifestantes e alguns policiais militares”, disse o rapaz. Fábio diz que foi nesse momento de confusão que ele viu a bomba caída no chão, e a pegou. “Nesse corre-corre, eu vi que um rapaz correndo deixou uma bomba cair. Uma bomba, não sei o que é, um negócio preto assim. Eu peguei e fiquei com ela na mão. Este outro cara veio e falou para mim: ‘Passa aí para mim que eu vou e jogo’. Eu peguei e passei para ele. Foi só isso mesmo. Eu em momento algum vou para as manifestações para quebrar as coisas e bater em policial, jogar pedra”, falou.
O homem citado por ele é o segundo elemento investigado pela polícia, que acabou acendendo o artefato que atingiu o repórter cinematográfico. “Só estou vindo aqui mesmo porque estou assustado demais. A minha foto foi divulgada até em mídias internacionais. Já recebi ligações de pessoas desconhecidas, não sei se são grupos ou o que são, pedindo para eu assumir o caso e falar que fui eu, tentando me obrigar. É isso.
Não fui eu mesmo. Eu quero o bem do repórter que está em coma, a família dele, tudo. Não sei o que falar, mas é isso. Melhoras, cara”, disse, lamentando o ocorrido. Raposo garante que não viu nem o rosto do rapaz que recebeu o explosivo. “Ele era um cara alto, chamava bastante atenção. Ele estava com uma camisa na cara, preta. Ele chamava bastante atenção, mas não tenho ideia de quem seja. Eu fui sozinho na manifestação(…). Acredito que ele não tenha feito por mal. Acredito que foi um acaso de ele estar filmando, os cinegrafistas ficam no meio do fogo cruzado”, afirmou. “Eu estou torcendo para ele (cinegrafista) sair dessa, foi algo surreal, que não deve acontecer nunca, não pode acontecer mais.
Os repórteres devem se respeitados. Eles têm o direito de estar ali, como os manifestantes também têm. Acho que ele vai sair dessa, torço para ele sair dessa”, completou. O cinegrafista da Band continua internado em estado grave no Centro de Terapia Intensiva (CTI) do hospital Souza Aguiar. No dia em que foi ferido, ele passou por uma neurocirugia de emergência.
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