Globo faz ‘sanduíche’ de Mato Grosso do Sul no horário nobre e Travessia vira recheio

TV Globo descobriu em Mato Grosso do Sul ingredientes do sucesso. Com histórias ambientadas no Estado, emissora pretende emplacar mais um hit no horário nobre

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mato grosso do sul
Da esquerda para a direita: cena do 1º capítulo do remake de "Pantanal" (2022), novela "Travessia, de Glória Perez, e frame de "Terra e Paixão" – (Fotos: TV Globo/Reprodução)

Principal aposta da TV Globo para a ficção da emissora nesta década, Mato Grosso do Sul virou uma espécie de “sanduíche do sucesso” no horário nobre, tendo “Travessia”, de Glória Perez, como recheio. É que, pelo segundo ano seguido, uma novela das nove (principal produto da emissora e programa mais assistido da TV brasileira) terá MS como cenário.

Sim, tereré, chipa, sotaque, pôr do sol… estas e outras características sul-mato-grossenses aparecerão por dois anos consecutivos, diariamente, na casa dos brasileiros e em horário nobre – quando a população está em casa, mais receptiva a consumir entretenimento para relaxar e se desligar dos problemas do dia a dia.

A “aparição” do Estado teve início em 2022, com o “boom” do remake de “Pantanal”. Hit do ano e fenômeno de audiência, a regravação do clássico folhetim da TV Manchete rendeu bons frutos à TV Globo e também a Mato Grosso do Sul.

Durante todo o ano passado, MS esteve em alta e se tornou alvo de interesse do brasileiro. Pela primeira vez na história, o Estado ganhou destaque em um produto de ficção tão popular e acessível. O pantanal, bioma, era o grande o foco, mas alguns costumes e hábitos sul-mato-grossenses também tiveram seu espaço.

Mato Grosso do Sul obsoleto e irreal

Enquanto “Pantanal” retratou MS de forma um tanto obsoleta, retrógrada e prescrita, “Terra e Paixão” promete levar ao Brasil e ao mundo um Mato Grosso do Sul contemporâneo, mais próximo da realidade.

A diferença se dá porque o remake foi escrito em cima de um texto de 1990, já baseado no que o criador da história, Benedito Ruy Barbosa, entendia sobre a lida na roça. De acordo com a neta de Benedito, Paula Barbosa, o avô escreveu “Pantanal” sem pisar no bioma.

Da mesma forma, Bruno Luperi repetiu a trama, sem muitas atualizações e, principalmente, sem o compromisso de retratar a cultura local como ela realmente é. Até jargões não praticados pelos pantaneiros foram “inventados”, seguindo a identidade que Ruy Barbosa criou para os mesmos personagens na década de 90.

O próprio folclore retratado no folhetim pouco condiz com as lendas mais fortes de Mato Grosso do Sul. Mulher que vira onça? Velho que se transforma em sucuri? Se não na novela, onde mais se ouviu falar nessas histórias?

Ainda assim, “Pantanal” se consagrou um sucesso e conquistou o público sul-mato-grossense (e brasileiro de forma geral), quase sem ressalvas. Desse modo, ao trazer à tona um MS mais atual, “Terra e Paixão” tem ainda mais chances de fisgar a audiência local que, muito possivelmente, se verá representada na telinha.

Reparação?

A tirar pelas primeiras chamadas lançadas pela Globo, “Terra e Paixão” apresentará um sotaque mais fidedigno e menos caricato que o de “Pantanal”. Ponto para a obra de Walcyr Carrasco. Além disso, o canal já mostrou que o tereré terá destaque na nova novela. Os atores também aprenderam sobre a culinária regional, especialmente sobre sopa paraguaia e chipa. Será que veremos esses quitutes na TV?

Baseada em um roteiro de 1990, distante, o remake de “Pantanal” não abordou com esmero nenhum detalhe da cultura sul-mato-grossense. Fará “Terra e Paixão” uma espécie de reparação?

“Sanduíche” de MS

De um lado, temos “Pantanal” (2022) como uma fatia de pão. Do outro, “Terra e Paixão” como outra fatia. No meio disso, “Travessia”, de Glória Perez, aparece como recheio – o recheio do horário nobre da Globo, dominado por Mato Grosso do Sul.

A trinca se dá pela seguidinha: “Travessia” figura entre duas novelas gravadas em território sul-mato-grossense e levou a dramaturgia global de volta ao Rio de Janeiro.

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Deep fake espalhada no primeiro capítulo de “Travessia” virou a vida da protagonista de cabeça para baixo – (Foto: Reprodução/TV Globo)

Não vai saturar?

Isto posto, com MS brilhando depois do Jornal Nacional por dois anos consecutivos, já tem gente se perguntando se o público não vai enjoar. Mas a resposta pode ser bem simples e óbvia.

Com tantos anos subsequentes exibindo novelas (uma atrás da outra) ambientadas no Rio de Janeiro ou em São Paulo, por que a audiência enjoaria com duas tramas quase consecutivas em Mato Grosso do Sul? Se centenas de histórias paulistas e cariocas não enjoaram… ou enjoaram?

Talvez, justamente por observar uma saturação no consumo de dramas do sudeste, refletidos na audiência, a aposta em Mato Grosso do Sul permaneça. Enquanto “Pantanal” saiu de cena em outubro de 2022 marcando 36 pontos no Ibope, “Travessia” nunca chegou a 29.

Os ingredientes de sucesso de Mato Grosso do Sul

Com o esquema “antifracasso” montado para “Terra e Paixão” repetir o sucesso de “Pantanal”, bem como os próprios elementos que compõem a trama, as chances da nova novela das nove se tornar um hit estão grandes: tem até Jorge e Mateus na trilha – desse jeito, o brasileiro não resiste.

Por fim, enjoar de MS ainda não parece uma opção, visto que o Estado acaba de ganhar seus primeiros destaques na ficção recente do país e ainda é novidade para o Brasil. Com elementos culturais irresistíveis, um jeitinho único e cenários naturais lindos, Mato Grosso do Sul tem oferecido à TV Globo os ingredientes do sucesso e deve finalizar o sanduíche perfeito no principal horário do canal.

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Tereré faz parte da construção da identidade de Caio, personagem de Cauã Reymond em “Terra e Paixão” – (Foto: TV Globo/Reprodução)

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