Se ir do Centro ao bairro Moreninhas, em uma moto, já parece uma viagem para muita gente, imagina percorrer a BR-101 ‘de fora a fora', chegar aos quatro extremos do Brasil ou então pilotar por toda a extensão da rodovia transamazônica – BR-230 – e, enquanto isto, ficar admirando a imensidão, imponência e grandiosidade da selva? É justamente o que traz felicidade para o servidor público Everton Marques, de 40 anos.

Campo-grandense e estradeiro apaixonado, Marques acumula muitas aventuras, amizades e perrengues. Seja sozinho ou ao lado de motociclistas, ele planeja rotas anuais, sempre que consegue ou folgas. Com o percurso em mãos, faz economias ao longo do ano, ajeita a moto e sai para o próximo destino.

Foto: Everton Marques/Arquivo Pessoal
Foto: Everton Marques/Arquivo Pessoal

“Esta paixão por moto tenho desde pequeno, só que só comecei a ter condições de viajar depois de adulto. Percorri todo o Brasil já, todas as capitais e tenho tudo registrado. Uma coisa peculiar é que tiro foto na frente de cada governadoria, aqui e nos outros países que eu já percorri, como Peru, Bolívia, Chile, Argentina, Uruguai e Paraguai. Isso faz parte de um desafio entre os motociclistas”, afirmou Everton ao MidiaMAIS.

Segundo Everton, inicialmente, os motociclistas estradeiros sempre possuem o objetivo de visitar os principais pontos turísticos do país e as rodovias. “Eu qualifico Machu Piccho como a viagem dos sonhos, mas, já estive nas principais rodovias do Brasil. Eu visitei a Serra do Rio do Rastro, Serra da Graciosa, Rastro da Serpente, a BR-101 na totalidade, do ao Rio Grande do Norte”, relembrou.

Do Oiapoque ao Chuí

Foto: Everton Marques/Arquivo Pessoal
Foto: Everton Marques/Arquivo Pessoal

No caso da transamazônica, Everton conta que estava ao lado de mais dois motociclistas. “Acho bacana que é rodovia clássica, que a gente precisa respeitar nas épocas de chuva e seca. Também estive na BR-319, que é a única que dá acesso a Manaus e visitei os pontos cardeais do Brasil por três vezes, do Chuí (RS) ao Oiapoque (AP). Só que o município mais ao norte do Brasil é o Uiramutã, no norte do estado de Roraima”, ressaltou.

No caso do exterior, Everton conta que esteve desde Machu Picchu ao Deserto do Atacama, até Santiago, no Chile. “Guardo todo o registro das quilometragens. Tudo isto que estou vivendo sempre foi uma paixão. Desde criança queria percorrer longas distâncias. Foi aí que, no ano de 2011, peguei uma moto 250 cilindradas, que eu chamava de Pantera Negra, além de um mapa, GPS e algum dinheiro. Lembro que comprei na banca de revistas, com o sonho de chegar a Machu Picchu”, explicou.

‘Sofri acidente e fui extorquido por policial', relembra Everton

Foto: Everton Marques/Arquivo Pessoal
Foto: Everton Marques/Arquivo Pessoal

Na ocasião, o estradeiro diz que não se informou sobre o fato de estar indo em um período chuvoso. “É a pior época para ir, só que, mesmo não sabendo se tinha sol, atravessei. Sofri um acidente, fui extorquido por um policial e passei por muita coisa. Tive que tomar uma decisão, foram muitos perrengues e até mudei a rota, voltando pelo Acre. Foram 14 dias, rodei 6,5 mil km e foi a primeira viagem que concretizei”, contou.

De lá para cá, o servidor passou a planejar as viagens durante o período de férias ou recesso, organizando a rota, distância percorrida, tempo e dinheiro investido. “Estou sempre tentando economizar para estas viagens no Brasil e na América do Sul. Com o tempo, vamos conhecendo mais parceiros pelo Brasil e aí vamos conversando com quem já foi e também aproveito para visitar um ou outro pelo caminho. Sempre penso que este tipo de viagem é o homem, sua mente, condição física e a máquina”, explicou.

Sem estes fatores ‘alinhados', Marques fala que é complicado passar por locais desconhecidos. “Eu estudei, pesquisei muito até conhecer as pessoas certas e aí fui registrando tudo isto. Antes, porém, realizei uma viagem por todo o litoral nordestino. Foi quando atingi vários objetivos, pois, saí de e subi toda a costa brasileira, percorrendo todo o nordeste e finalizando meu percurso pela incrível BR-101”, relembrou.

No ano de 2022, Everton conta que finalizou, mais uma vez, passando pelos quatro pontos cardeais do Brasil e chegando ao município mais setentrional do Brasil, o Uiramutã. “Este local tem suas dificuldades, além da distância a ser percorrida, havendo um trecho de 150 km de terra, trecho final para chegar no município que, dependendo das chuvas, torna-se muito mais difícil, além de ser uma área de reserva indígena, a famosa Reserva Raposa Serra do Sol”, explicou.

Barrado por índios com arcos e flechas

Em 2021, o motociclista diz que tentou entrar na cidade, porém, teria sido barrado por índios. “Eles não permitiram a nossa passagem. Foi muito ver uma corrente no meio da rua, esticada, impedindo nossa passagem e aí vimos alguns índios com capôs nas caras e arcos e flechas. Respeito suas causas, porém, foi uma das piores sensações que já tive, de ser proibido de andar no meu país. Considero esta a pior experiência de moto que já tive. Uma frustração que, após percorrer quase 7 mil km, fui barrado e aí voltei tudo. Mas agora, neste último ano, deu certo”, argumentou.

Foto: Everton Marques/Arquivo Pessoal
Foto: Everton Marques/Arquivo Pessoal

O percurso, ainda conforme Everton, foi – Cuiabá – Porto Velho – BR-319 – “rodovia Fantasma” – Manaus – Boa Vista e, finalmente, Uiramutã. “Chego até a me emocionar, pois, vim de origem humilde e nunca imaginei ir tão longe assim. Para alguns, isto não é nada, mas, para mim é uma satisfação enorme e um sentimento de gratidão por conseguir rodar em todos estes lugares”, avaliou.

Sonho agora é fazer a Rota 66, nos EUA

Agora, com muitos registros, Everton está escrevendo um livro para “deixar eternizado” os momentos nas estradas bolivianas e peruanas.

“Meu próximo objetivo é chegar nos Estados Unidos, na Rota 66, Canadá e Alaska. Quero montar um projeto, mostrando a forma como consegui chegar e como todos podem chegar, de acordo com suas prioridades e responsabilidades, aliando trabalho e família. No meu caso, se arrumar alguém que topasse viajar, seria ótimo também. Penso na possibilidade de montar um projeto, ter patrocínio, alguém com interesse em mostrar estas rotas e trajetos”, finalizou.

Veja alguns dos registros de viagem do Everton: