Com sede própria, igreja onde padres casam é inaugurada em Campo Grande: ‘Elas somam’
Após quase duas décadas de trabalho, a igreja ganhou a diocese para quatro padres, os quais iniciaram atendimento no último domingo (28)
Graziela Rezende –
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A “rebeldia” do bispo Dom Carlos Duarte Costa com as doutrinas de Roma logo causaram a expulsão dele. No entanto, em 1945, ele foi para o Rio de Janeiro e lá formou uma comunidade e registrou em cartório a Igreja Católica Apostólica Brasileira. Em Mato Grosso do Sul, se instalou no município de Ribas do Rio Pardo, em 1991 e, em Campo Grande, no ano de 2007. Após quase duas décadas de trabalho, a igreja ganhou a diocese para quatro padres, os quais iniciaram atendimento no último domingo (28).
“O bispo era diocesano romano, porém, teve dificuldades ao alegar que não queria rezar a missa em latim e sim na língua vernácula, que é o português. Ele também queria que abrissem as portas para mães solteiras batizarem os seus filhos, que padres e diáconos pudessem casar e também que a igreja abrisse as portas para pessoas que não tinham acesso. Tudo foi avançando demais e aí, como não tinha mais condições, fizeram a expulsão dele”, afirmou Dom Roberto Barbosa da Silva, de 48 anos.
Já no Rio de Janeiro, o bispo iniciou o trabalho em uma comunidade e depois registrou em cartório.
“Ele colocou a vestimenta na cor cinza, para diferenciar os padres romanos e também preparou toda a liturgia própria, diferente da igreja romana. Além disto, foi trabalhando aos poucos e começou a sagrar bispos. Um deles, Dom Salomão Ferraz, foi pego de volta, mas, depois houve a sagração de outros bispos. Eu estou entre eles e já temos quatro padres e dois diáconos em Campo Grande, além do Luis Fatim, de Ribas do Rio Pardo“, explicou.
Sede foi inaugurada no último domingo (28)
De acordo com Dom Roberto, além da diocese, existe o trabalho na periferia. “Hoje temos a nossa sede própria, inaugurada no domingo (28), que é a primeira catedral da igreja do Mato Grosso do Sul, onde vai começar a diocese. É uma limitação de território e o bispo regional me delegou, então, sou o primeiro de Mato Grosso do Sul da Igreja Católica Apostólica Brasileira”, ressaltou.
Casado desde 2004, Roberto se orgulha ao falar da filha de 20 anos, que está cursando odontologia. “Fui ordenado diácono em 2006 e padre em 2007. No início, tive muita dificuldade, porém, como o fortalecimento de vários padres, como o padre Francisco Teixeira que saiu da igreja romana para se casar, o padre Carlos de Coxim, o diácono Antônio Cardoso e também o padre Eduardo Higa, ex-padre da diocese de Campo Grande, tive muitos exemplos”, contou.
Com o passar do tempo, ele diz que passou a “olhar com carinho” a situação de todos estes padres na sociedade. “Eles estão lá, somando comigo. São pessoas com quem eu posso contar para fazermos trabalho em assentamentos e periferias. Nós acolhemos a todos e digo que o casamento não interfere em nada. Desde o início, quando nossas esposas começam a conviver conosco e entender o nosso dom da vocação sacerdotal, elas somam com a gente”, ressaltou.
Segundo o padre, as esposas participam do trabalho em comunidade, além de ajudar na liturgia, no canto e preparação das vestes. “Esta é uma missão que elas pegam e levam com muito carinho também”, opinou.
Onde fica a diocese?
A comunidade pode comparecer na igreja diariamente, das 14h até às 17h. Segundo Dom Roberto, a intenção é estar de portas abertas para atender a todos. Aos domingos, a missa será às 8h.
A Igreja Católica Apostólica Brasileira fica localizada na Rua Antônio Olegário de Lima, bairro Vida Nova III, quadra 3 lote 14.
Como a igreja católica apostólica romana vê a ‘nova vertente’?
Segundo o arcebispo metropolitano de Campo Grande, da igreja católica apostólica romana, Dom Dimas Lara Barbosa, esta é uma “igreja separada” de Roma. “É uma igreja separada de Roma, que leva o nome de católica apostólica, mas, não é católica apostólica romana. Foi fundada no Brasil no século passado e surgiu por causa do desentendimento de um bispo católico e fundou a sua própria igreja, presente em vários lugares”, afirmou.
Segundo Dom Dimas, o que é “lamentável” é que as mesmas terminologias estão sendo usadas e isso “confunde os católicos”. “Eles falam de bispos, padres, missas e falam dos nossos santos e muitos católicos acabam se confundindo. Não é uma igreja em comunhão com Roma. Assim, os católicos romanos não deveriam participar de suas celebrações ou cultos”, opinou o arcebispo.
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