Demolição no terreno de ‘mansão escondida’ no Centro de Campo Grande também revela carcaça misteriosa
Trabalhadores faziam a demolição de uma parede, quando acharam a carcaça. “Fiquei assustado”, diz mestre de obras.
Graziela Rezende –
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Não foi somente a ‘mansão escondida’ que apareceu após demolição de dois imóveis comerciais, que estavam na frente, na Rua Barão do Rio Branco, região central de Campo Grande. Ao usar a retroescavadeira, na destruição de uma parede, trabalhadores encontraram uma carcaça que está gerando muita curiosidade.
“Durante a escavação, a gente se surpreendeu. Primeiro teve esse animal que eu não faço ideia do que é. Acho que não é nenhum gato e também muito grande para ser uma ratazana. Ele estava encostado da casa e a gente achou quando estava escavando as paredes”, comentou o mestre de obras Ênio Gomes, de 54 anos.
Na ocasião, Ênio fala que os colegas ficaram muito curiosos, porém, precisavam continuar com o trabalho e então deixaram a carcaça de lado. “Eu fiquei espantado na hora, achei algo muito interessante. A carcaça estava bem sequinha. Sei que é algo raro, mas, só especialistas mesmo podem dizer o que se trata”, argumentou.
Logo depois, ao adentrar o imóvel, Ênio soube da existência de um canil, construído na década de 70. O MidiaMAIS visitou o imóvel e viu o canil na área externa, buscando mais informações com a neta da antiga proprietária, a psicóloga Cláudia Pereira de Mello Dalal, de 46 anos.
Conforme Cláudia, os animais eram todos adestrados e tinham uma veterinária “de confiança” de D. Maria Edwiges. “O último que ela tinha foi até o meu pai que ficou cuidando, quando ela faleceu. Eu sabia destes cães, mas, ela era apaixonada por animais, então, pode ser que antigamente tivesse outros e, realmente, naquela época, existia a cultura de enterrar os animais em casa”, avaliou.
Tentando desvendar o mistério, a reportagem consultou quatro especialistas, dois médicos veterinários e dois biólogos. Três se sentiram inseguros ao opinar sobre qual animal seria. O médico veterinário Lucas Azuaga, no entanto, acredita se tratar de um cachorro da raça Pinscher.
“As patas são bem parecidas com a de um cachorro, mais especificamente o Pinscher. E o crânio também é parecido, então, seria realmente uma carcaça de cachorro”, comentou o profissional.
O biólogo e professor universitário, Milton Longo, ressaltou que o fato da carcaça estar ressecada permitiu a conservação das partes moles, como as orelhas. “É um processo muito lento e esta carcaça está mais para mumificação natural, com ressecamento do corpo do animal e o ambiente que estava favoreceu este processo e evitou a decomposição”, explicou.
Mistério revelado
Como um tesouro relevado, a mansão histórica e imponente apareceu após demolição no mesmo terreno, na rua Barão do Rio Branco, entre as ruas Rui Barbosa e Pedro Celestino. Durante duas semanas, a cada tijolo retirado, o imóvel ao fundo foi aparecendo e atiçando a curiosidade dos campo-grandenses.
Em 400 m² somente de área construída, a residência foi minuciosamente projetada e equipada com tudo que havia de mais moderno, na década de 70. Possui cinco quartos, elevador mesmo tendo somente um andar, madeira maciça em todos os cômodos, suíte com banheira, sacada e um closet enorme, canil e lavanderia externa, sem falar no encanamento todo em ferro e pisos decorativos que nem se fabricam mais.
Maria Edwiges projetou mansão e fez testamento doando tudo para caridade
“Minha avó nasceu em berço de ouro, no Rio de Janeiro, no ano de 1918. E ela nos deixou um legado, ficou conhecida como a missionária do amor. O pai dela era médico sanitarista e tinha fazendas aqui. Primeiro, o pai dela faleceu e depois um irmão. Foi quando ela veio para Mato Grosso do Sul com a mãe dela. Ela residiu em Porto Murtinho, onde conheceu o oficial do Exército tenente Gumercindo Bruno Borges e se casou, vindo depois para Campo Grande. Minha avó não tinha herdeiros, então adotou a minha mãe”, relembrou Cláudia.
Enquanto esteve doente, D. Maria foi delegando tarefas e deixando a responsabilidade para os cuidados com o hospital, com o Centro Espírita Discípulos de Jesus, o qual ela participou da criação, na rua Maracaju, também região central e ainda fez um testamento, doando em vida, a própria casa, para a caridade. Desde 2015 ela está sem moradores. Recentemente, ao valor de cerca de R$ 3 milhões, foi vendida para a proprietária de uma clínica médica nas proximidades.
“Fizemos tudo para conservar a casa, para deixar tudo extremamente conservado do jeito que a minha avó pediu. Não mexemos na mobília, em nada. Ali ainda tinha um jardim lindo e um corredor com interfone para a Barão, como se fosse o caminho para um tesouro mesmo. Com a demolição dos imóveis da frente, agora ela está sendo revelada e ali eu lembro de muitos momentos maravilhosos ao lado da minha avó e meus pais”, finalizou, emocionada.
Com a demolição, segundo foi informado ao MidiaMAIS, a mansão passará por algumas reformas, mantendo a estrutura e originalidade para, em seguida, se tornar um estabelecimento comercial. Nesta semana, o arquiteto contratado já visitou o projeto, tirou fotos e vai começar a trabalhar em breve.
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