”O Brasil não conhece o Brasil”. Foi assim que o colunista da Folha de São Paulo, Guilherme Soares Dias, começou seu texto sobre a valorização da cultura negra no Brasil. O Guia Negro feito pelo campo-grandense, é uma lista de ruas que merecem uma (pode ser até virtualmente) devido às potências e heranças africanas.

Talvez você esteja se perguntando o motivo da famosa rua Eva Maria de Jesus, mais conhecida como Comunidade Tia Eva, entrar no guia publicado por Guilherme Soares na última quarta-feira (29). E foi exatamente essa a pergunta que o Midiamais fez ao autor do Guia Negro.

Quem foi Eva Maria de Jesus?

Mas, para entender o texto publicado por Guilherme é preciso entender primeiro quem foi Eva Maria de Jesus e como o nome dela se tornou um logadouro.

Escrava nascida em Mineiros, interior de , Eva tinha um sonho: dar um bom estudo para suas três filhas. Em 1887, aos 49 anos, Eva obteve sua carta de alforria, momento onde realizaria seu segundo sonho: ir para o Mato Grosso (atualmente, Mato Grosso do Sul) e construir um lugar para seus descendentes. Saiu de Goiás em 1905, chegando em Campos de Vacaria, hoje, , onde trabalhou como lavadeira, parteira, cozinheira, curandeira e benzedeira. Ela impressionava a todos, pois sabia ler e escrever, algo que era inesperado de uma escrava.

Em 1910, decidiu pagar uma promessa a São Benedito por a ter curado de uma ferida na perna. Construiu uma capela em agradecimento ao santo e conclui a igrejinha em 1912, demolida e substituída por uma de alvenaria em 1919. Tia Eva está enterrada dentro desta pequena igreja, a mais antiga da cidade.

Igreja São Benedito, da Comunidade Quilombola Tia Eva (Foto: Divulgação)

Comunidade Negra da Igrejinha de São Benedito, localizada a uns 15 km do centro de Campo Grande. O local, que abriga umas 60 casas, é reduto dos descendentes de Eva Maria de Jesus, mais conhecida como Tia Eva. Atualmente, praticamente 115 famílias formam a comunidade. No dia 5 de maio de 1998, a Igrejinha de São Benedito recebeu o definitivo tombamento como parte do Patrimônio Histórico de Mato Grosso do Sul, pelo governo do Estado.

A comunidade negra Tia Eva é definida como uma comunidade urbana remanescente de quilombo desde 1905 e reconhecida pela Fundação Cultural Palmares. Pela Lei Nº 2841, de 22 de dezembro de 2011, Anexo II, foi homenageada com a denominação do logradouro público “Rua Eva Maria de Jesus”, no bairro Parateí.

Rua Eva Maria de Jesus, Comunidade tia Eva, Campo Grande (Foto: Heitor Salatiel)

”Enaltecer as ruas pretas”

A intenção do colunista da Folha de São Paulo, foi enaltecer ”as ruas mais pretas e lindas do Brasil”, e agora, após ler um breve resumo sobre a história da ”tia Eva”, fica claro o motivo da escolha da rua para compor o artigo, certo?

Questionado pela reportagem do Midiamais sobre qual foi o critério que usou para inserir a rua em seu texto, Guilherme não hesitou em dizer que busca dar destaque para ruas que não entram com frequência em outras listas de turismo.

”A ideia foi dar destaque para as ruas com fortes presenças, histórias e cultura negra. Lugares que nem sempre são privilegiados em outras listas de turismo, mas que têm forte apelo turístico” explicou.

”É um local onde a cidade começa”

Para o jornalista, a importância da comunidade está no legado deixado pela mulher negra que lutou para a constituição desta cidade. ”É um local onde a cidade começa, com uma história muito forte e um presente de potência negra, sempre apagado do cotidiano da cidade, mas que soube resistir e preservar o legado deixado por uma mulher importante para a constituição dessa cidade” afirmou.

Lembranças na rua da Tia Eva

O jornalista contou com exclusividade ao Midiamais que já trabalhou em um projeto na comunidade tia Eva e que não visita mais a rua tanto quanto gostaria, pois, sua família mora na zona Sul, lado oposto. Porém, afirmou que seu sonho é poder proporcionar experiencias turísticas para ver outras pessoas conhecendo essa rua que é tão rica de história.

Lutando pela experiência turística

Gradualmente, Guilherme Soares insere e luta pela experiência turística de ruas como a de Eva Maria de Jesus. Segundo ele, seu papel é resistir e preservar o legado deixado por essas pessoas sempre inserindo e dando visibilidade em listas de turismos que merecem uma visita e abrigam potências e heranças africanas.

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