Mais do que uma simples atividade escolar, o origami é uma técnica muito antiga feita em papel, repleta de significados e utilidades. É o nome dado a um método japonês que consiste em dobrar papéis até se alcançar a forma desejada, sem utilizar tesoura, cola ou fita adesiva, apenas vincos corretamente feitos que originam as mais diversas representações de animais e objetos.

A relevância da prática que simboliza a paz fez com que a técnica ganhasse uma data específica — 11 de novembro é quando se comemora o Dia Mundial do Origami, a fim de enaltecer seu simbolismo. Para quem não sabe, existem até mestres desta atividade espalhados pelo mundo. Em Campo Grande, são cinco, e o Jornal Midiamax conversou com um deles para entender um pouco mais do que está por trás da arte de dobrar papel.

Elder Alves Severino, de 52 anos, é campo-grandense e tira toda sua renda do trabalho com os origamis. Sim, é possível ter um faturamento provindo apenas das dobraduras. No entanto, o mestre em origami enfatiza justamente que a atividade não se resume a isso, fazendo questão de mostrar e contar toda a história do que garante seu sustento.

Elder tem casa de artista e origamis espalhados por toda parte (Foto: Marcos Ermínio/Midiamax)
Elder tem casa de artista e origamis espalhados por toda parte (Foto: Marcos Ermínio/Midiamax)

O origamista da Capital se interessou por dobraduras e desenvolve a técnica há 30 anos. Ao MidiaMAIS, ele conta que sempre gostou de fazer pipa e ornamentos semelhantes. Quando descobriu as dobraduras, logo começou a praticar. “Tinha um livro que era um manual para fazer todo tipo de trabalho envolvendo papel e nesse livro havia uma parte sobre origamis”, disse Elder.

Foi aí que o artista começou a manusear, de forma muito básica. Mas foi só em uma exposição, em São Paulo, que descobriu o origami como arte. A partir de então, continuou desenvolvendo, e hoje vive de confeccionar esses papéis. “Origami significa ‘ori', que vem de dobrar, e ‘gami' vem de ‘papel' ou ‘Deus'. Dobrar Deus é porque no Japão os monges faziam origamis e colocavam na frente dos monastérios, e aí as pessoas acabaram associando aquela técnica a algo divino, como dobrar a Deus”, explica o origamista.

Modelo mais conhecido de origamis (Foto: Marcos Ermínio/Midiamax)
Modelo mais conhecido de origamis (Foto: Marcos Ermínio/Midiamax)

 

Mestre e múltiplas utilidades

Segundo Elder, mestre é uma pessoa que transforma ou cria origamis. Ele recebeu esse título depois que conheceu um mestre que veio do Japão para ensinar as técnicas aqui. “A diferença do mestre é o cara que já tem o mestrado (depois de acompanhar o outro mestre em suas técnicas) e origamista é quem faz origamis”, esclarece.

Sua obra mais famosa em Campo Grande é a árvore da vida da Morada dos Baís. Foi Elder quem criou as luminárias que marcam a estrutura de destaque na Avenida Afonso Pena. “As pessoas têm esse costume de achar que origami é só algo artístico ou do tipo, mas é legal observar que o origami está inserido na sociedade”, pontua.

“A contrata origamistas para desenvolver uma técnica e conseguir dobrar escudos em radiação. Foi um origamista que desenvolveu o airbag, que é uma espécie de origami, um material que fica comprimido e se expande bem rápido. O origami também está presente na saúde, é muito utilizado como uma atividade terapêutica para quem tem Alzheimer e Parkinson. A prática de desenvolver origami ajuda as pessoas que têm esses problemas cerebrais”, explica Elder.

Dragão confeccionado pelo artista Pedro Lombardi, foi feito com um único papel (Foto: Marcos Ermínio, Midiamax)
Dragão confeccionado pelo artista Pedro Lombardi, foi feito com um único papel (Foto: Marcos Ermínio, Midiamax)

 

Coisa de criança?

Segundo o origamista de Campo Grande, não. Na verdade, de acordo com Elder, o origami foi desenvolvido e praticado por adultos. “São apenas adultos que praticam”, diz ele.

“Isso de que origami é coisa de criança surgiu na Segunda Guerra, na Alemanha. Um alemão que foi para o Japão, aprendeu, e quando ele voltou para o país dele, achou que seria interessante ensinar para as crianças. Quando o Jardim de Infância foi criado na América, no Brasil, essa cultura foi trazida”, esclareceu o mestre, afirmando que, quando dá aulas, não aceita crianças.

De fato, no Brasil é comum se aprender na escola — ainda no período de alfabetização — a realizar as dobraduras, mas o origamista Elder Alves Severino elucida que a relevância é muito maior do que uma simples atividade escolar para aprender formas geométricas. O sucesso desse trabalho garante renda e inspira quem observa com a predominante simbologia da paz.

Modelo mais conhecido de origamis (Foto: Marcos Ermínio/Midiamax)
Estrelas feitas na técnica de origami são de encher os olhos (Foto: Marcos Ermínio/Midiamax)

Aula e história

No vídeo abaixo, Elder leva quem se interessar a uma viagem ao mundo do origami: