Livros de colorir têm sido febre entre os adultos e despertam o lado criativo

Psicólogo afirma que qualquer atividade artística auxilia no processo interno do ser

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Psicólogo afirma que qualquer atividade artística auxilia no processo interno do ser

Ele está em tudo quanto é perfil de rede social. Com certeza, algum amigo seu já postou uma foto do produto que em 20 minutos exposto na prateleira de qualquer livraria, vende igual água na torneira.

Metáforas à parte, os livrinhos para colorir se tornaram febre entre os brasileiros e pasmem, não estão sendo usados prioritariamente por crianças, mas sim, por adultos.

Ao fazer uma pesquisa no Google, digitando: livros mais procurados, o resultado será o ‘Jardim Secreto’ ou ‘Floresta Encantada’ que as editoras responsáveis pela venda e publicidade já designam serem livros antiestressantes.

Mãe do pequeno João Guilherme, que vai fazer 3 anos ainda neste mês e amante das artes manuais, Vanessa Dos Santos Teixeira Martins, 30 anos, é uma dessas pessoas que onde vão, carregam o livrinho e os lápis de cor. A iniciativa em sair para comprar o seu livro se deu por conta de postagens que viu em blogs de mães que são seguidoras.

“Sempre mexi com artesanato… na verdade, gosto de tudo que envolve arte e como fiquei sem trabalhar e só cuidando do meu filho, resolvi comprar o livro para me distrair; é como uma terapia”, diz.

Ainda segundo Vanessa, de nada adianta ter o livrinho se não tem um lápis de cor decente. “Parece engraçado, mas eu tenho ciúmes dos meus lápis de cor, porque eu quero fazer uma pintura bacana, quase perfeita e compro claro, os melhores lápis [da Faber Castell]”, revela Vanessa.

Ela afirma ainda que, além de terapêutico, o pintar flores, desenhos e mandalas minimizou a depressão que tinha. “Tive um problema de saúde muito sério e as medicações eram fortes o que me deixou com depressão leve, te confesso que o pintar me dá uma sensação muito gostosa de relaxamento, e que me faz sentir melhor”.

Para a anestesista Cynthia Duailibi, 38 anos, o efeito de pintar o livreto que tem feito sucesso é, assim como para a nossa primeira entrevistada, relaxante. Logo que saiu para comprar, adquiriu quatro exemplares.

“Sempre tive livrinhos para colorir em casa, desde pequena, minhas filhas também têm, inclusive, um eu pinto só com a mais velha, e é superimportante porque além de relaxar, trabalha nosso inconsciente sem a gente saber e soube também que trabalha em cima de depressão, enfim, mal não há de fazer”, explica a mãe da Jamile, 15 anos e da Betina de 1 ano e 9 meses.

O MidiaMAIS foi atrás de um psicólogo para explicar um pouco sobre o ato de colorir estes livros. O que isso causa, dentro do consciente? E ele confirmou ainda sobre o despertar que este ato tem, perante a vida das pessoas. Veja um pouco mais no artigo que ele escreveu pra gente:

Podemos pensar que esses livros libertam a capacidade criativa, que é muito abafada pela nossa cultura da tecnologia. As crianças, por ainda não terem sofrido com o peso da tecnologia ou com o “não sei desenhar nem pintar”, tem maior facilidade em expressar esse lado criativo. Já o adulto, habituado aos trabalhos mecânicos exigidos pelo ambiente de trabalho pode acabar perdendo o contato com o lado artístico. Em outras situações é possível que esse indivíduo tenha sido muito criticado por suas criações, que quando mais velho, acaba acreditando que tudo que produz é feio e/ou não tem serventia.

Dessa forma, os livros para adultos colorirem podem abrir as portas desse universo criativo que existe em cada um. Além disso, a preparação do material, o local onde será feita a pintura, e a escolha do desenho e das cores estão ligados a processos individuais, que existem inconscientemente em cada ser. Logo, ao pintar, o indivíduo também está “se pintando”, ou seja, a expressão artística é uma expressão do inconsciente, como disse Jung há mais de meio século.

Este autor, Carl G. Jung (1875-1961), foi um psiquiatra e psicoterapeuta suíço, responsável pela fundação da Psicologia Analítica ou Psicologia Profunda. No trabalho com seus pacientes utilizou várias técnicas artísticas, pois para ele a arte era importantíssima no processo de “cura”, justamente por expressar processos inconscientes, dos quais a linguagem racional não era suficiente.Monalisa Dibo é uma das autoras do livro “Arteterapia e mandalas: uma abordagem junguiana”. Ela fala que “a arte expressa um contexto de pensamento que não é linear, desafiando construções racionais de causa e efeito” (2010, p.26).

Dito isso, entre as técnicas utilizadas por Jung, podemos destacar a da pintura de mandalas. A mandala, por ser produzida a partir de um círculo ou um quadrado, delimita um espaço físico e psicológico e por isso ela ajuda na concentração, trazendo um efeito de organização, integridade e equilíbrio internos. Além disso, a mandala exerce uma função estimulante e criadora.

Portanto, qualquer atividade artística que envolve a criatividade, auxilia na transformação do mundo interno do indivíduo. Porém, cabe falar que a pintura de livros para colorir em casa é diferente da arte produzida num contexto psicoterapêutico. Enquanto a primeira busca produzir um alívio imediato do estresse, a segunda tem uma função mais profunda ao prestar auxílio na busca pelo autoconhecimento e esse só pode ser feito individualmente dentro de um contexto, como o da psicoterapia.

Ricardo Strenske é psicólogo (CRP/MS 05989-8) e pode ser encontrado no e-mail [email protected]  ou no celular (67) 8107-6321.

 

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